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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Estado de São Paulo, domingo 28/05/2017

TRÊS PERGUNTAS PARA... Roberto Romano, professor de Ética Política na Unicamp 

Valmcir Hupsel Filho Alexa Salomão Daniel Bramatti 

 Entre as centenas de políticos envolvidos nas processos da Operação Lava Jato há uma “elite” de 42 nomes que apareceram nas duas maiores delações reveladas pela Justiça até agora: as da Odebrecht e da JBS. Na lista dos citados por sócios e executivos tanto da empreiteira quanto do conglomerado do setor de carnes estão o presidente Michel Temer e seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de ministros, ex-ministros, governadores e ex-governadores, entre outros. 

 Os integrantes desse clube de elite teriam recebido, em conjunto, cerca de R$ 1,2 bilhão em propinas e contribuições oficiais de campanha, segundo os depoimentos dos delatores. O dinheiro teria sido  usado pelas empresas para comprar influência ou como contrapartida por benesses recebidas do setor público. 10 poder econômico é mais forte do que o voto do elei• tor na política brasileira? 

 Temos um sistema formal no qual o voto do eleitor é condição sine qua non para que alguém assuma um cargo eletivo. Agora, o real é o controle das máquinas partidárias, dos cofres do Estado por setores oligárquicos, que controlam a vida econômica, política e social. E que têm interesses muito específicos, que são contrários aos interesses que existem no mercado e na sociedade. No ranking dos valores recebidos, quem se destaca é o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, mencionado nas duas delações como intermediário de doações em caixa 2 para campanhas eleitorais do PT e influente para intermediar operações com fundos de pensão e o Banco Nacionl 

Qual é a consequência? 

 Esses congressistas são  lobistas disfarçados. Defendem interesses determinados. As chamadas bancadas no Congresso são reunião de lobbies que vão de interesses econômicos a religiosos. São pessoas que não representam o eleitor indiferenciado, formal, mas interesses materiais muito específicos e opostos a outros interesses que foram preteridos. Isso traz problemas sérios, até mesmo de desenvolvimento econômico. nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os depoimentos em que Mantega é citado o relacionam a quase R$ 450 milhões em repasses. Nessa conta estão incluídos os US$ 150 milhões convertidos em reais pela cotação da época que o ex-ministro teria operado 

0 que fazer? 

Seria muito angelismo imaginar que políticos não têm relação com os interesses vários do plano econômico. Justamente por isso é que precisava regulamentar o lobby. Porque temos hoje no Brasil o lobby feito de maneira selvagem e não temos nenhuma garantia de concorrência entre interesses econômicos na sociedade. O mercado então se despotencializa porque já se sabe de antemão quem vai ser o vencedor. em nome de Lula e Dilma em contas no exterior, de acordo com o relato de Joesley Batista, um dos donos da JBS. 

O nome de Mantega também apareceu envolvido em supostos crimes no relato de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da maior empreiteira do País. Segundo ele, o ex-ministro “azeitou” um esquema para garantir que a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, aprovasse a compra de uma torre comercial e shopping center em São Paulo da Odebrecht Realizações. O negócio foi fechado em 2012. Em resposta, Mantega disse que a delação de Odebrecht é uma peça de ficção. Rio e Minas. O segundo nome de maior destaque nas delações, em termos de valores implicados, é o do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB). Ele teria recebido cerca de R$ 125 milhões, sendo R$ 98 milhões da Odebrecht. A seguir, com cerca de R$ 96 milhões associados a seu nome, aparece o tucano Aécio Neves, senador afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em razão das investigações sobre a JBS, ex-governador de Minas e ex-candidato a presidente. Com base nos depoimentos dos executivos da Odebrecht, foram abertos cinco inquéritos no STF para investigá-lo o que o tornou recordista em investigações ao lado do senador Romero Jucá (PMDB-RR). Na delação da JBS, Aécio é citado em pagamentos de propina disfarçados em operações imobiliárias e de compra de espaço publicitário. O tucano também aparece em uma gravação, feita por Joesley, na qual pediu R$ 2 milhões para pagar sua defesa em processos da Lava Jato. Ao acertar os detalhes de quem buscaria o dinheiro, o senador afirma: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”. A seguir, indica um primo para fazer a coleta dos recursos. Atual ocupante da cadeira presidencial, Temer é o personagem de maior peso político a aparecer nas delações. Dois episódios citados nas duas delações tiveram como palco o Palácio do Jaburu, residência oficial dos vice-presidentes. O primeiro foi um jantar no qual Marcelo Odebrecht teria acertado apoio financeiro ao PMDB nas eleições de 2014. O segundo, em março deste ano, foi o diálogo entre Temer e Joesley, gravado pelo empresário, e que mergulhou o governo em sua maior crise.

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