TRÊS PERGUNTAS PARA...
Roberto Romano, professor de Ética Política na Unicamp
Valmcir Hupsel Filho Alexa Salomão Daniel Bramatti
Entre as centenas de políticos envolvidos nas processos da Operação Lava
Jato há uma “elite” de 42 nomes que apareceram nas duas maiores
delações reveladas pela Justiça até agora: as da Odebrecht e da JBS. Na
lista dos citados por sócios e executivos tanto da empreiteira quanto do
conglomerado do setor de carnes estão o presidente Michel Temer e seus
antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de
ministros, ex-ministros, governadores e ex-governadores, entre outros.
Os integrantes desse clube de elite teriam recebido, em conjunto, cerca
de R$ 1,2 bilhão em propinas e contribuições oficiais de campanha,
segundo os depoimentos dos delatores. O dinheiro teria sido usado
pelas empresas para comprar influência ou como contrapartida por
benesses recebidas do setor público.
10 poder econômico é mais forte do que o voto do elei• tor na política
brasileira?
Temos um sistema formal no qual o voto do eleitor é condição sine qua
non para que alguém assuma um cargo eletivo. Agora, o real é o controle
das máquinas partidárias, dos cofres do Estado por setores oligárquicos,
que controlam a vida econômica, política e social. E que têm interesses
muito específicos, que são contrários aos interesses que existem no
mercado e na sociedade.
No ranking dos valores recebidos, quem se destaca é o ex-ministro da
Fazenda Guido Mantega, mencionado nas duas delações como intermediário
de doações em caixa 2 para campanhas eleitorais do PT e influente para
intermediar operações com fundos de pensão e o Banco Nacionl
Qual é a consequência?
Esses congressistas são lobistas disfarçados. Defendem interesses
determinados. As chamadas bancadas no Congresso são reunião de lobbies
que vão de interesses econômicos a religiosos. São pessoas que não
representam o eleitor indiferenciado, formal, mas interesses materiais
muito específicos e opostos a outros interesses que foram preteridos.
Isso traz problemas sérios, até mesmo de desenvolvimento econômico.
nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os depoimentos em que Mantega é citado o relacionam a quase R$ 450
milhões em repasses. Nessa conta estão incluídos os US$ 150 milhões
convertidos em reais pela cotação da época que o ex-ministro teria
operado
0 que fazer?
Seria muito angelismo imaginar que políticos não têm relação com os
interesses vários do plano econômico. Justamente por isso é que
precisava regulamentar o lobby. Porque temos hoje no Brasil o lobby
feito de maneira selvagem e não temos nenhuma garantia de concorrência
entre interesses econômicos na sociedade. O mercado então se
despotencializa porque já se sabe de antemão quem vai ser o vencedor.
em nome de Lula e Dilma em contas no exterior, de acordo com o relato de
Joesley Batista, um dos donos da JBS.
O nome de Mantega também apareceu envolvido em supostos crimes no relato
de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da maior empreiteira do País.
Segundo ele, o ex-ministro “azeitou” um esquema para garantir que a
Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, aprovasse a
compra de uma torre comercial e shopping center em São Paulo da
Odebrecht Realizações. O negócio foi fechado em 2012. Em resposta,
Mantega disse que a delação de Odebrecht é uma peça de ficção.
Rio e Minas. O segundo nome de maior destaque nas delações, em termos de
valores implicados, é o do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB).
Ele teria recebido cerca de R$ 125 milhões, sendo R$ 98 milhões da
Odebrecht.
A seguir, com cerca de R$ 96 milhões associados a seu nome, aparece o
tucano Aécio Neves, senador afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
em razão das investigações sobre a JBS, ex-governador de Minas e
ex-candidato a presidente. Com base nos depoimentos dos executivos da
Odebrecht, foram abertos cinco inquéritos no STF para investigá-lo o que
o tornou recordista em investigações ao lado do senador Romero Jucá
(PMDB-RR).
Na delação da JBS, Aécio é citado em pagamentos de propina disfarçados
em operações imobiliárias e de compra de espaço publicitário. O tucano
também aparece em uma gravação, feita por Joesley, na qual pediu R$ 2
milhões para pagar sua defesa em processos da Lava Jato. Ao acertar os
detalhes de quem buscaria o dinheiro, o senador afirma: “Tem que ser um
que a gente mata ele antes de fazer delação”. A seguir, indica um primo
para fazer a coleta dos recursos.
Atual ocupante da cadeira presidencial, Temer é o personagem de maior
peso político a aparecer nas delações. Dois episódios citados nas duas
delações tiveram como palco o Palácio do Jaburu, residência oficial dos
vice-presidentes. O primeiro foi um jantar no qual Marcelo Odebrecht
teria acertado apoio financeiro ao PMDB nas eleições de 2014. O segundo,
em março deste ano, foi o diálogo entre Temer e Joesley, gravado pelo
empresário, e que mergulhou o governo em sua maior crise.
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