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sábado, 22 de julho de 2017

Revista Época

POLÍTICA

As vozes da ditadura: os áudios secretos do STM

ÉPOCA teve acesso a gravações inéditas dos julgamentos secretos de presos políticos pelo Superior Tribunal Militar. Esses arquivos revelam como os ministros ignoravam a lei – e denúncias de tortura – para condenar réus de acordo com os interesses do regime

AGUIRRE TALENTO COM REPORTAGEM DE RUAN DE SOUSA GABRIEL E MARCELO BORTOLOTI 
21/07/2017 - 22h39 - Atualizado 22/07/2017 00h07
Revista ÉPOCA - capa da edição 996 - As vozes da ditadura (Foto: Revista ÉPOCA)
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
Às 9 horas da manhã de 15 de dezembro de 1976, os papéis da Apelação 41.098 chegaram ao plenário do Superior Tribunal Militar, em Brasília. Chegavam a uma sala ampla, austera, adornada tão somente com uma bandeira do Brasil e um crucifixo grande sobre a cadeira do presidente da Corte. Chegavam, como a vasta maioria das apelações naqueles tempos, agonizando, prestes a virar um cadáver jurídico. Naquele túmulo frio do regime, os ministros entravam por uma porta e a lei saía pela outra. Entre o aparato legal da ditadura e as conveniências dos militares, os 15 ministros não hesitavam. Votavam com os interesses políticos do regime – com os próprios interesses. Naquela manhã, produziriam mais uma vítima. Uma vítima que, anos antes, lograra enfurecer os militares a ponto de alterar o destino do regime.   
O apelante Márcio Moreira Alves, ex-deputado pelo MDB do Rio de Janeiro, não seria submetido aos rigores da lei. Seria submetido, desta vez no STM, aos rigores da ira e do rancor que provocara na caserna. Os 12 ministros presentes na sessão – todos sexagenários; nove deles trajando uniformes militares; os demais de paletó e toga – sentenciariam uma das figuras mais odiadas do regime. Seria mais uma sessão secreta do tribunal. Mas uma sessão secreta que, agora se descobre, foi gravada pelos militares – assim como outras 800 sessões, cujos áudios foram obtidos por ÉPOCA. E, graças a esse precioso e inédito registro histórico, revelam-se, entre outras, as três horas de falas políticas que culminaram na previsível e silenciosa morte jurídica da Apelação 41.098.
  
Com seus cabelos brancos e óculos de lentes grossas, o advogado Augusto Sussekind, defensor de Moreira Alves, abriu a sessão. Havia oito anos vigorava no Brasil o Ato Institucional no 5. O réu dera aos militares o pretexto de que precisavam para endurecer o regime. No dia 2 de setembro de 1968, Moreira Alves foi ao púlpito da Câmara dos Deputados e, num discurso que julgava inconsequente, convocou um boicote aos desfiles em comemoração da Independência do Brasil. Clamou, ainda, que as moças cessassem seus relacionamentos com cadetes e soldados. O presidente Costa e Silva e os membros de seu governo ficaram furiosos. Iniciaram uma inquisição contra Moreira Alves, mas tiveram seu pedido para processá-lo negado pela Câmara. Os deputados entenderam que Moreira Alves estava protegido por sua imunidade parlamentar; a votação terminou com deputados entoando o Hino Nacional nas galerias do Congresso. O aprofundamento da repressão viria de qualquer forma. Moreira Alves o desencadeou. Costa e Silva decretou o AI-5 em 13 de dezembro de 1968 e jogou o Brasil na escuridão.
"Vou deixar de lado a lei" - CERTO (Foto: Época)
Moreira Alves foi cassado e expurgado da vida política. Exilado, ele ainda respondia a um processo na Justiça Militar. O ex-deputado fora absolvido em primeira instância. A denúncia do Ministério Público Militar dizia que o ex-deputado “sempre procurou demonstrar claramente suas tendências de esquerda” e “estabelecer a cizânia entre o Povo e a Revolução”. O conteúdo subversivo de seus discursos causava tal emoção na nação que, por conta desse tom, dizem os procuradores, foi desencadeada “a nova fase da Revolução” – o AI-5. Naquela manhã de dezembro de 1976, o caso atingia a última instância da Justiça Militar. Das 15 altas e imponentes cadeiras de madeira destinadas aos magistrados, três estavam vagas.
Terminada sua sustentação oral, Sussekind foi convidado a se retirar do plenário, no 2º andar do STM – prédio inaugurado em Brasília em 1973. A discussão do caso ocorreria em uma sessão secreta. Era a legislação da época. Por 40 anos, os debates e os fundamentos que justificaram a condenação de Moreira Alves a dois anos e três meses de prisão pelo STM ficaram trancados num arquivo de quatro gavetas, numa sala contígua ao pleno do STM. Não só os desse caso. Foram mantidos em segredo os áudios de todos os julgamentos secretos do tribunal. Após uma determinação do Supremo Tribunal Federal em uma ação movida pelo advogado e pesquisador Fernando Fernandes, as históricas gravações do STM foram liberadas e obtidas por ÉPOCA. (Ouça ao fim do texto o áudio do julgamento de Moreira Alves.)
Em 1998, ÉPOCA já revelara a íntegra das gravações da sessão do Conselho de Segurança Nacional, que, na tarde de 13 de dezembro de 1968, apagou qualquer vestígio de democracia no Brasil. Os áudios publicados agora demonstram, pela primeira vez e com a força que somente gravações fornecem, como os ministros do STM ignoravam conscientemente a lei para proferir condenações que agradavam ao regime militar. Tomavam cotidianamente decisões de acordo com suas convicções pessoais. Tratavam com ironia e descaso as denúncias de maus-tratos a presos. Davam de ombros às alegações de que depoimentos haviam sido prestados sob tortura. O valioso registro em áudio é um pacote com mais de 10 mil horas de gravação de sessões secretas e não secretas a partir de 1975.
ÉPOCA analisou mais de 150 horas de sessões secretas realizadas entre 1975 e 1978 no STM. No período, com o general Ernesto Geisel na Presidência da República, começava-se a discutir uma abertura política. Mas alas radicais das Forças Armadas seguiam torturando presos políticos e cometendo crimes endossados pelo Estado. Como o Superior Tribunal Militar era a última instância recursal da Justiça Militar, era nos ombros e na consciência daqueles juízes que estava depositada qualquer esperança de reparação, de equilíbrio – de Justiça, afinal.
O STM não entregou justiça a Moreira Alves. Os ministros presentes naquela manhã reconheceram que a lei tornava impossível a condenação de um deputado por discursos feitos durante seu mandato. Mas aquele ex-parlamentar, traidor da pátria, não podia ficar impune. Um a um, os magistrados, com desassombro e tranquilidade, foram criando artifícios retóricos para ignorar a legislação.
De origem civil, o ministro Amarílio Salgado foi o relator do processo. Ao defender que Moreira Alves fosse condenado, justificou: “É, infelizmente, adepto da foice e do martelo esse homem”. Seguiu-se uma discussão na qual os ministros abandonaram as aparências de equidistância legal. General do Exército, dez medalhas no peito, o ministro Rodrigo Octávio diz que aquele colegiado devia agir como um “tribunal de segurança”, não um “tribunal de Justiça”. “Condená-lo em bases jurídicas é completamente inexequível. Agora, nós vamos tomar, eu vou tomar uma decisão revolucionária. Estamos hoje preservando o regime revolucionário, a irreversibilidade dos objetivos revolucionários, não podemos de maneira nenhuma deixar de fazer isso”, explicou-se.
O voto surpreende porque Rodrigo Octávio passou para a história como um general relativamente liberal. A atuação de Rodrigo Octávio incomodava a linha-dura militar. Ele chegou ao STM em 1973. Em março de 1977, defendeu, no plenário, a revogação parcial do AI-5, o mesmo ato institucional no qual se baseara para condenar Moreira Alves meses antes. Para o historiador Carlos Fico, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estudioso da ditadura militar, essa ambivalência era característica do tribunal. O STM era acusado pelos opositores do regime de ser um tribunal de exceção; e, pela linha-dura militar, de ser uma Corte benevolente. A atuação do STM nesse período é marcada por essa contradição entre se ater à letra da lei, mesmo à lei da ditadura, ou julgar os processos de acordo com os interesses políticos e de sobrevivência dos militares.

Um aparato constitucional formulado pela ditadura – a Constituição de 1967 – ainda garantia algumas liberdades democráticas (como a necessidade de autorização da Câmara para processar um parlamentar). Esse aparato foi alterado pelos atos institucionais. “O STM ficou o tempo todo nessa corda bamba. Em alguns momentos, ele pôde e teve de observar apenas a Constituição. Em outros, teve de se render ao AI-2 ou o AI-5”, diz Fico. “E houve casos como o de Moreira Alves. Estivessem ou não os atos institucionais em vigor, a decisão seria eminentemente política, como de fato foi.”

A ambiguidade de Rodrigo Octávio revelada nos áudios inéditos é reflexo disso e mostra a importância de conhecer o interior das instituições que sustentavam a ditadura. “Essa busca por atalhos na Constituição para resolver os problemas do país é flagrante nas discussões do STM”, diz Fico. “A divulgação desses áudios é essencial. Por meio deles, concebemos, com clareza, os debates que resultaram na moldura institucional do regime militar.”
Àquela altura do julgamento, o STM já havia resolvido condenar Márcio Moreira Alves. O ministro Jacy Pinheiro, civil, ressaltou os riscos de uma absolvição para a segurança nacional: “Um homem desta natureza, que agiu dentro do país e fora do país, nestas circunstâncias, com tamanha agressividade política, ele poderia retornar perfeitamente à sua terra, o que seria um verdadeiro escárnio para nós. Dentre os males, eu prefiro o menor”. Seu colega de toga, o almirante de esquadra da Marinha Octávio José Sampaio Fernandes utilizou a frase de um antigo integrante da Corte para se justificar: “O que se procura aqui é fazer a justiça, evidentemente dentro da lei. Mas o saudoso ministro Alcides Carneiro já teve aqui uma vez uma expressão ‘se se trata de fazer justiça, mesmo que ela fira a lei, deve-se fazer justiça’. No caso em apreço, a condenação desse moço, no meu entendimento, é um ato de justiça”.
A noção de justiça do ministro Fernandes e de seus colegas não constou da ata daquela sessão, único documento público sobre o julgamento. No papel, o STM optou por um registro que apontava o cumprimento da lei: “Combatido com a lei e pela lei o crime desses que tramam contra a tradição democrática, que conspiram contra a unidade moral e espiritual desta grande nação”. Assinam a ata os 12 ministros que participaram do julgamento. Condenado, Moreira Alves ficou impossibilitado de voltar ao Brasil, sob risco de ser preso. Manteve o exílio, passando por Chile, França, Cuba e Portugal. Só voltou para casa depois da aprovação da Lei da Anistia, em 1979. Tentou se reeleger deputado federal em 1982 e 1986, mas não conseguiu. Dedicou-se ao jornalismo, foi colunista de O Globo. Morreu em 2009, sem saber mediante quais argumentos fora impedido, pelo STM, de regressar ao país.
Ouça o debate dos ministros do STM no julgamento de Márcio Moreira Alves
 


>> Leia a reportagem em ÉPOCA desta semana
>> Abaixo, os conteúdos que você vai encontrar na edição desta semana
DA REDAÇÃO
A SEMANA EM NOTAS
GUILHERME FIUZA 
Pink Floyd no Jaburu
EXPRESSO 
O Ministério Público Federal está próximo de fechar acordos de delação premiada com executivos da Galvão Engenharia
SUA OPINIÃO
NOSSA OPINIÃO
OBSERVADOR DA HISTÓRIA 
Áudios inéditos dos julgamentos do Supe

Um documento histórico. E profético.



São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2004

Ética na política! 
ROBERTO ROMANO


Muitos petistas afirmavam que a ética morava só no PT. Arrogância é letal em política 

Certa feita , na biblioteca da Unicamp, eu lia os pensadores antigos, como recomenda Maquiavel. Toca o telefone. Era o responsável pelo boletim periódico do PT, de circulação interna. Após os salamaleques veio o pedido: "Queremos um artigo seu sobre ética na política". Estranhei o convite: "Não sou filiado ao partido, melhor falar com acadêmicos militantes". Réplica: "Desejamos que o texto seja feito por alguém exterior aos quadros partidários, para maior isenção".
Fui levado, na sede do partido, para uma sala cheia de papéis, jornais antigos etc. No meio do aposento, majestosa pilha na qual se equilibravam pastas de tamanhos variados. Pediram-me que abrisse qualquer uma delas.
Fi-lo e percorri o conteúdo da maior parte. Estupefato, segui a ladainha das cartas enviadas por militantes: "Nunca pensei que no PT ocorressem tais coisas". E seguiam denúncias em administrações petistas. Uma pasta reunia casos de Santo André. Nada contra Celso Daniel, pela primeira vez na prefeitura, mas denúncias sobre integrantes de seu governo.
Escrevi um texto amplo, no qual afirmava que agremiações humanas erram. Mesmo no PT poderia existir falta de ética. O artigo suscitou interesse e foi citado por Carlito Maia para potenciar sua crítica de outros militantes. Muitos petistas afirmavam que a ética morava só no PT. Os demais partidos? "Farinha do mesmo saco." Arrogância é letal em política. Publiquei vários textos nesta Folha advertindo contra o angelismo do partido.
Logo depois ocorreu o seminário "O PT e o Marxismo". Os organizadores, após o evento, levaram-me para o almoço. Aproveitei para lhes perguntar sobre as denúncias que li. "Não peço explicações de ordem sociológica, digam apenas o que imaginam ser a causa do fenômeno." A resposta foi honesta e forneceu algum sentido lógico: "Veja, professor, muitos de nossos políticos têm origem humilde, recebem salários pequenos, não possuem casas próprias. De repente, encontram-se nos cargos, recebem o título de Excelência, carros são postos ao seu dispor, o pagamento triplica etc. No primeiro mandato, normalmente, recusam meios errados para se reeleger. Mas perdem as eleições, recaem na penúria. Aprendem".
Essa conversa ocorreu bem antes do poder abençoar o PT . Muitos "aprenderam a lição". A pista ajuda a identificar a origem dos que hoje ascendem na escala social usando o antigo Partido dos Trabalhadores, hoje "Partido dos Cargos em Comissão". E também a definir o que Francisco de Oliveira indicou como o "ornitorrinco". O aparelhamento do Estado serve aos fins dos atuais governantes, mas favorece os arrivistas que ontem foram operários, bancários etc. A sua voracidade foi potenciada ao máximo com o controle dos palácios.
Se eles constituem uma nova classe é incerto. Mas o tamanho de sua goela mede-se pela violência dos atos que protagonizam.O Brasil não tem mobilidade social. O "andar de cima" (sigo Elio Gaspari) é hermético. O governo oferece vias de acesso. O poder gera insensibilidade aos sofrimentos deixados nas periferias. O escalador social age pior do que os antigos palacianos. As medidas recentes contra idosos centenários, obrigando-os às filas para exibir sua existência, provam a anestesia ética dos nossos poderosos com alma de Barry Lindon em figura de Macunaíma.
Extenso número de petistas neófitos, velhos partícipes da vida pública brasileira, engrossam (em todos os sentidos) a "base aliada". Se militantes heróicos escreviam cartas contra a quebra da ética em administrações do PT, hoje a tendência segue o rumo do pior. Existem na agremiação pessoas honradas que ocupam cargos em governos e Legislativos e operam na cúpula partidária. Conheço várias delas pessoalmente.
Mas é impossível olvidar (e não por moralismo) as zonas cinzentas que obnubilam o vermelho do partido. As reações, nos inquéritos sobre a morte de Celso Daniel, são melancólicas. Ministério Público e Justiça devem ser incentivados pelos líderes partidários. Caso oposto, ficaremos no lugar-comum: "o medo venceu a esperança".
Mas ainda acredito na esperança que levou o eleitorado a votar nas mudanças éticas prometidas pelo PT.


Roberto Romano, 57, é professor titular de ética e filosofia política na Unicamp e autor de "Moral e Ciência - a Monstruosidade no Século XVIII" (ed. Senac/São Paulo), entre outras obras.


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quinta-feira, 20 de julho de 2017

IHU/Unisinos. Os cardeais Bertoni e Pell respondem a processos diante da justiça, inclusive a do Vaticano.Signa temporum...

Surgem sombras no futuro judicial de dois dos mais altos representantes da Igreja católica. Nesta terça-feira, em Roma e Melbourne, dois cardeais, Tarcisio Bertone e George Pell, se encontrarão no centro das atenções daqueles que lutam contra a corrupção e os abusos contra menores, duas das linhas vermelhas no Pontificado de Francisco.


A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 18-07-2017. A tradução é do Cepat.



O ex-secretário de Estado, como beneficiário de desvio de verbas do hospital pediátrico do Vaticano (para financiar as reformas de seu luxuoso ático), e o cardeal australiano acusado de abusos sexuais contra menores.



Desse modo, nesta manhã [17-07], o Tribunal Vaticano julgará o ex-presidente do Bambino GesúGiuseppe Profiti, e o ex-tesoureiro do centro, Massimo Spina, acusados de desviar doações ao hospital para reformar a residência de Bertone.



Profiti, a quem Bertone nomeou presidente do hospital, em 2008, disse que os 422.000 euros de fundos da fundação do hospital, utilizados para reformar a casa de Bertone, foram um investimento, porque se pensava em utilizar o lugar para atos de arrecadação de fundos para o hospital.



O sucessor de Bertone como secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, disse que o julgamento demonstra a transparência que o Papa Francisco quer levar às finanças da Igreja católica. “É apropriado que todo mundo preste contas por seu comportamento”, ressaltou o número dois da Santa Sé. E como não poderia ser de outro modo, as coisas estão mudando, e muito, por trás dos muros vaticanos.



Não deixa de ser interessante que, no caso do ex-secretário de Estado, seja a Santa Sé quem anuncia e prepara o julgamento, algo que, há apenas quatro anos, era praticamente impensável. Os únicos processos judiciais dos quais se teve conhecimento midiático foram os dois Vatileaks, o do famoso Paolo Gabriele, com Bento XVI; e o mais recente, já com Francisco, e que envolvia o espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e a italiana Francesca Chaouqui.



No que diz respeito ao “superministro de finanças” vaticano em licença, foi a própriaRádio Vaticano que anunciou que hoje “ocorrerá a audiência preliminar do processo a cargo do cardeal George Pell, Prefeito da Secretaria para a Economia, por casos de abuso contra menores”.



“Os fatos levantados remontam aos anos 1970, quando o Purpurado era sacerdote. No último dia 29 de junho, o Escritório de Imprensa da Santa Sé divulgou um Comunicado no qual se lê que “o Santo Padre, informado disto pelo próprio cardeal Pell, concedeu-lhe um período de licença para poder se defender”, disse a nota vaticana. No dia 26 de julho será o julgamento e, a partir daí, poderemos saber mais de quem, certamente, tenha sido o grande erro do Papa Francisco no momento de escolher homens de sua confiança.



Enquanto isso, não resta dúvida, o sistema funciona. E pede responsabilidades. E que seja a justiça (a civil, nos dois casos) a que decida se são culpados ou inocentes.

Leia mais

Ética e Serviço Pública, entrevista com Roberto Romano

PC43. Ética e Serviço Público - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=vFYqh_cfjfE
8 de jun de 2017 - Vídeo enviado por estúdio egap
Neste episódio do programa CONVERSAÇÕES contamos com a presença de ROBERTO ROMANO ...

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Artigo antigo. de 2005, atual ?

Por Roberto Romano
Professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp, romanor@uol.com.br
Artigo publicado no Correio Popular de Campinas em 26 de julho de 2005

Lula, o sobrevivente
Após os deboches contra a inteligência cidadã, nos “depoimentos” de Silvio Pereira e Delúbio Soares, pensemos sobre dois nomes: Celso Daniel e Paulo de Tarso Venceslau


Após os deboches contra a inteligência cidadã, nos “depoimentos” de Silvio Pereira e Delúbio Soares, pensemos sobre dois nomes: Celso Daniel e Paulo de Tarso Venceslau. O primeiro foi assassinado por questões que hoje exibem no PT algo mais do que a hegemonia política. Trata-se de atentado à fé pública. Recebi ofício da Câmara Municipal de Diadema (número 902) com a “Moção de Apoio ao Prof. Roberto Romano, da Unicamp, por suas críticas ao posicionamento do governo federal na condução da investigação do caso Celso Daniel”. Assumido pela Câmara, o voto foi encaminhado pelo vereador José Dourado. É preciso lutar contra a impunidade, inclusive na “esquerda”. Paulo de Tarso Venceslau precisa ser convocado para depor nas CPI’s, visto que, em 1995, ele escreveu uma carta ao então presidente do PT, Luiz Inácio da Silva, denunciando crimes contra o erário em prefeituras petistas. Os denunciados por Venceslau nada sofreram, mas o acusador foi expulso do partido por ordens de Lula. O fato mostra que o presidente da República reserva o castigo para quem denuncia falcatruas e incentiva o erro. Daí, para o que se passa atualmente no PT e no governo, não existe solução de continuidade.

Elias Canetti, em Massa e Poder, analisa o poderoso enquanto sobrevivente. A paixão o leva a praticar traições e vilanias para garantir o trono. Traição é técnica comum dos príncipes. Canetti cita o caso de Flávio Josefo, o historiador judeu que lutou contra o imperialismo romano. Em certo momento, na companhia de outros guerrilheiros, ele só encontrou abrigo num buraco sem saída. Cercado o grupo, ocorre um pacto de morte coletiva “para não perder a honra”. Josefo, astuto poderoso, convenceu os seus pares de que a matança eficaz seria a de cada um após o outro. Os indivíduos em fila terrível matavam o próximo da lista. Josefo arrumou as coisas para ser o último. Entregou-se aos romanos e viveu bom tempo. Todo poderoso sobrevive ao modo de Flávio Josefo. Quanto maior o seu Estado, mais gente segue para os braços da morte confiando em suas palavras. Hitler e Stalin levaram milhões para o Nada, mas não foram os únicos.

Luis Inácio da Silva sobrevive. Mesmo a hagiografia de sua origem humilde traça o roteiro ao modo de Canetti. Ele sobreviveu aos operários do ABC, esquecendo-os e deixando suas antigas reivindicações para trás. Se Josejo aderiu aos romanos, ele aderiu às “negociações” com a Avenida Paulista. Enquanto mantinha para as massas a fala de um radical (chegou a cogitar luta armada, já no regime civil), com os empresários ele usava o discurso conciliador. Jogando com essas duas faces, conseguiu, gradativamente, galgar os vários níveis de poder. Analistas do PT afirmam que ele sempre esteve acima das várias tendências que se matavam no partido. Na verdade, ele sobreviveu com a técnica de Josefo: enquanto as facções se destruíam, ele subia na escala do poder. Na presidência, silenciou quando foram expulsos os “radicais” em processos comandados pelo grupo “Genoino assinei sem ler”, “Dirceu nada vi de Waldomiro”, “Delúbio só eu somos o culpado” e “Pereira Land Rover”. Ele aceitou o “apagão” sobre Celso Daniel, inclusive, os atos de Dirceu para intimidar a imprensa e o Ministério Público. Todos assistiram a um triste espetáculo quando ele fugiu do debate sobre a morte do prefeito Toninho. Josefo rendeu-se aos romanos, ele rendeu-se às finanças. A Febraban o considera um herói, os empresários nem tanto. O último ato de sobrevivência, talvez o seu erro fatídico, foi a “entrevista” de Paris na qual o roteiro é o mesmo usado por Delúbio e Valério. Ele manda o PT às urtigas (“fui presidente do PT há muito tempo”, “o PT precisa se explicar”) e tenta… sobreviver.

As oposições, a imprensa, as pessoas sérias do Brasil precisam ter cuidado com o mestre da sobrevivência. É temerário aceitar “negociações” propostas por ele para “salvar a governabilidade”. Quando recebe ajuda de “companheiros” ou da oposição, Lula age como Josefo. Acuado, manda a polícia prender oponentes, para “equilibrar” as notícias fedorentas que vêm da sede petista. A sua polícia invade escritórios de advocacia. Confiar na sua palavra diplomática é seguir, como os amigos de Josefo, rumo ao desastre. Cautela deve ser empregada no seu possível impedimento. Sobrevivente, ele radicalizará a tese ridícula, mas sempre eficaz quando se trata de inteligências pequenas, de um “golpe”. E se for defenestrado sem evidências cabais de sua parceria na farsa imunda que seus subordinados representam nas CPI’s, um sebastianismo idiota (os sebastianismos sempre são idiotas) pode preparar seu retorno ao poder. Então, para que ele sobreviva, muitos brasileiros serão jogados nas águas de Caronte.