Contra a Razão de Estado

Um Blog destinado a discutir assuntos de ordem institucional, política, ética, longe do inferno definido nas supostas redes sociais, onde a covardia, a irresponsabilidade, o ressentimento e todas as paixões baixas se manifestam. Aqui, procuro pensar, sem ferir ou humilhar ninguém. Na internet, sobretudo nas mentirosas páginas "sociais", encontramos a besta fera descrita por Platão (Rep.. 588c): θηρίου ποικίλου καὶ πολυκεφάλου. Lúcido Platão!

Flores

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sábado, 18 de novembro de 2017

Modesta contribuição minha para o entendimento de um golpe de Estado.

Aulas Magistrais - Democracia e Luzes - Roberto Romano da Silva ...

Vídeo para roberto romano unicamp▶ 7:38
cameraweb.ccuec.unicamp.br/watch_video.php?v...
Aulas Magistrais - Democracia e Luzes - Roberto Romano da Silva. rtv-unicamp. 

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Brésil : Lula se dit prêt à « prendre le pouvoir » en 2018

Amériques
 

Brésil : Lula se dit prêt à « prendre le pouvoir » en 2018

Dans un entretien au « Monde », l’ancien président se défend face aux accusations judiciaires et dit pouvoir « encore aider les plus pauvres ».

LE MONDE | 18.11.2017 à 10h10 • Mis à jour le 18.11.2017 à 14h42 | 

 Propos recueillis par Claire Gatinois (Sao Paulo, correspondante)
 
 
image: http://img.lemde.fr/2017/11/18/758/0/2598/1732/534/0/60/0/9f0f259_943-zstvdk.vsr5bi6bt9.jpg
Dans son bureau de l’institut Lula, à Sao Paulo, le 17 novembre.
En 2010, Luiz Inacio Lula da Silva, dit « Lula », quitte le pouvoir au Brésil après deux mandats, auréolé d’une popularité à plus de 80 %. Sept ans plus tard, sa dauphine, Dilma Rousseff, a été destituée, et le pays, secoué par l’enquête anticorruption « Lava Jato » (« lavage express »), s’enfonce dans une crise morale, économique et politique. En dépit d’une condamnation pour corruption, Lula, du Parti des travailleurs (PT, gauche), prétend se présenter à l’élection présidentielle de 2018 pour remettre le Brésil sur les rails. Il est, à ce jour, favori des sondages.

Quelle est l’origine de la crise au Brésil ?
Nous avons sans doute commis des erreurs. Mais personne n’obtient 80 % d’approbation pour ses erreurs. Personne ne gagne le ballon d’or après avoir mal joué. En 2010, j’ai réussi à faire élire la première femme présidente, ce qui a heurté les conservateurs car Dilma est aussi une ancienne guérillera. Elle a connu de très bons débuts. Les choses ont commencé à se détériorer en 2013. Quelque chose d’étrange planait dans l’air. La rue s’est mise à contester le pouvoir, l’organisation de la Coupe du monde [de football en 2014] et notre politique d’inclusion sociale.


Dilma Rousseff a-t-elle mal appréhendé cette crise ?
Nous avons commis une faute gravissime. Dilma a dit qu’elle n’allait pas engager de réformes. Puis elle a fait des réformes qui ont heurté les travailleurs en leur donnant le sentiment qu’on les avait trahis. Nos adversaires ont profité de cette fragilité pour créer des obstacles au Congrès, aidés par le président de la Chambre des députés, Eduardo Cunha, un homme obscur. Bloquée par la Chambre des députés, Dilma ne pouvait plus gouverner. Beaucoup disent qu’elle ne savait pas faire de la politique. Que sa façon de traiter l’économie était inappropriée. On a inventé beaucoup de choses. Nulle part dans le monde on ne destitue un chef d’Etat car il est impopulaire

En savoir plus sur http://www.lemonde.fr/ameriques/article/2017/11/18/lula-je-peux-encore-aider-les-plus-pauvres_5216876_3222.html#H98VKFYc3UTbsLjf.99

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O papel das universidades públicas em tempos de crise: resistência e democracia

Notícias

O papel das universidades públicas em tempos de crise: resistência e democracia

27 de outubro de 2017

Os cortes de recursos para ciência e pesquisa no Brasil, a importância das universidades como espaços de resistência em tempos de ataques à democracia e o papel destas instituições de ensino e pesquisa para a formação política, principalmente em uma conjuntura de crise, foram temas que marcaram os debates promovidos pelo Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizado entre 16 e 18 de outubro, em Salvador. O evento reuniu apresentações de quase 4 mil trabalhos científicos, culturais e artísticos por estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade e, em paralelo, cerca de 60 mesas debateram temas relacionados à defesa e desenvolvimento da universidade pública brasileira, além de reflexões sobre a atual situação do país.

Durante o congresso, reitores/as de diversas universidades federais brasileiras estiveram reunidos/as para participar da reunião ordinária do pleno da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes e do seminário “Estado policial ou estado democrático de direito: que Brasil estamos construindo?” . A escolha do tema foi motivada pela trágica morte do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, no último dia 2 de outubro, que além de ter provocado tristeza e revolta pelo país, também expôs a urgência do debate sobre a atuação das universidades públicas em um cenário de crise socioeconômica e democrática, e também de mobilização de seus/suas defensores/as contra as ameaças ao exercício da autonomia universitária.

A morte de Cancellier – acusado pela Polícia Federal de tentar obstruir as investigações da Operação Ouvidos Moucos, preso sem ter sido intimado a depor, privado de visitas, apoio espiritual e do convívio na universidade – causou comoção entre representações de trabalhadores/as, estudantes, pesquisadores/as, profissionais da imprensa, universidades e instituições públicas de todo o país. Parte destas manifestações pode ser lida aqui. Em nota, o Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes de Seccionais da entidade manifestaram preocupação com a “espetacularização” do processo penal – “não nos peçam o linchamento. Queremos a apuração de todos os fatos e de todas as acusações. Mas conclamamos a todos a dizer não ao culto ao autoritarismo e ao processo penal como instrumento de vingança”.

No artigo “Suicídio do reitor ou da universidade livre?”, publicado no Jornal da Unicamp, Roberto Romano da Silva, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, compara o processo que antecedeu a morte do reitor a acontecimentos da época da ditadura militar, quando a delação de concorrentes e adversários políticos ou ideológicos se tornou comum em uma conjuntura marcada pela “aniquilação” de direitos. “A tragédia evidencia problemas éticos, científicos e políticos que marcam os tratos entre poder e conhecimento em nossa terra. […] É tempo dos setores acadêmicos despertarem, antes que seja tarde, para a recusa das acusações sumárias, sem direito de defesa. É preciso, em nome da correta ética, impedir os delatores anônimos”, diz.

Cultura de ódio e saúde
 
Ao abordar os acontecimentos que sucederam a morte do reitor e o atual quadro político e social do país, a Ensp – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca afirma que “a cultura do ódio é também problema de saúde pública”. No documento “Vivemos tempos terríveis: carta à comunidade da Saúde Coletiva”, a Ensp ressalta que o sofrimento por eventos estressantes é comum, mas o acúmulo de eventos gera um quadro clínico com manifestações graves: “É isso que estamos vivendo na sociedade brasileira atual. Quantos de nós já não desistimos de conviver com grupos, de manifestar opiniões francas, simplesmente porque não aguentamos mais o nível da agressividade da resposta? Quando qualquer afirmativa que não seja chancelada pelas autoridades de plantão leva a agressões verbais desmedidas. […] Estamos a caminho de uma sociedade doente, não somente como metáfora, mas como uma avaliação objetiva das condições de vida e saúde da população brasileira”.
Além de destacar o impacto do “clima de ódio” sobre a saúde da população brasileira, indicando efeitos do estresse que podem levar a doenças cardiovasculares e sofrimento psíquico, incluindo suicídio, a carta comenta a recente demissão do docente Naomar de Almeida Filho da reitoria da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), mais um episódio no qual a democracia está “travestida, com ‘mera aparência de legalidade’”. O sanitarista, reitor pro tempore da UFSB, criada há quatro anos, pediu exoneração do cargo no final do mês de setembro, dias antes da morte de Cancellier. Em carta aberta à comunidade da UFSB, Naomar explica os motivos que o fizeram pedir a exoneração, relatando que “atos de hostilidade e agressão, inicialmente concentrados num pequeno grupo, começaram a aparecer em nosso cotidiano, replicando a deterioração do ambiente político nacional. Ações de evidente sabotagem, inclusive de dentro da equipe de gestão, criaram obstáculos à nossa agenda de integração social”.
 
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco divulgou carta em apoio ao ex-reitor e ao projeto original da UFSB, na qual afirma que a criação da instituição abriu novas possibilidades de desenvolvimento de um projeto pedagógico na região do extremo sul baiano com potencial para revolucionar a formação profissional ancorada em valores éticos e humanistas. “Assistimos estarrecidos a uma avalanche de notícias sobre episódios de violência e obscurantismo em diversos espaços da vida social, mas nos preocupa quando a névoa da raiva e do preconceito penetra no ambiente da universidade, espaço onde deveria se celebrar o livre pensar”, diz a carta.

Resistência em tempos de crise
 
Reportagem publicada pela Folha de S. Paulo traz um panorama da situação das universidades públicas brasileiras, que inclui cortes de verbas em pesquisas, bolsas, transportes e alimentação; prejuízos para as atividades de ensino e pesquisa; paralisação de obras de expansão; dificuldades para contratação de docentes e funcionários, além de dispensa de terceirizados; obstáculos na compra de equipamentos e livros; e redução de contratos de limpeza e segurança. A matéria aponta que o volume de investimentos orçado para 2017 – R$ 1,5 bilhão – já era um terço inferior ao de 2016; e, mesmo assim, somente 60% foram liberados. Já para os recursos de custeio, utilizados para manutenção das universidades, a previsão era de estagnação e somente 85% do total foi liberado. O Ministério da Educação, por sua vez, nega que haja falta de verbas ou descumprimento do cronograma de repasses.

Para sensibilizar a população, pressionar o governo federal e expor a dimensão da perda de financiamento federal para as universidades públicas e para a área de ciência e tecnologia, a campanha “Conhecimento sem cortes”, promovida por um grupo de docentes e pesquisadores/as, tem destacado o papel do ensino superior e da pesquisa científica na busca de soluções para o combate à pobreza, violência, melhora da saúde e educação, diminuição das desigualdades e aumento da eficiência e sustentabilidade socioambiental nos projetos voltados para o crescimento do país. O movimento tem realizado atos e inaugurado “tesourômetros”, painel eletrônico que mostra em tempo real os cortes feitos desde 2015, tomando como base o orçamento federal aprovado naquele ano. A abertura do Congresso da UFBA contou com a ativação do Tesourômetro da Ciência na Bahia, em frente à reitoria da universidade.

Uma petição, com 82.563 mil assinaturas, foi entregue pelo movimento ao Senado e à Câmara dos Deputados no dia 10 de outubro durante a realização de manifestações promovidas por cerca de 70 entidades acadêmicas e científicas brasileiras no Congresso Nacional. No mesmo dia uma carta foi entregue aos parlamentares pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) ressaltando o panorama “ainda mais catastrófico” para 2018.

No atual cenário, professores/as, funcionários/as, estudantes e pesquisadores/as se veem diante de um duplo desafio – manter o desenvolvimento das atividades de ensino/pesquisa, a produção de conhecimentos críticos e a proposição de soluções para enfrentamento das crises política e socioeconômica, apesar do contingenciamento de recursos; ao mesmo tempo em que se mobilizam para articular estratégias de combate aos ataques à democracia e à pressão dos interesses de mercado e agentes externos ao ambiente acadêmico.

Fonte: Observatório de Análise Política em Saúde

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ihu/unisinos. A Reforma como farsa depois da tragédia da fundação da igreja por Paulo, segundo Nietzsche. Entrevista especial com Helmut Heit. DISCORDO DA ANAMNESE E DO DIAGNÓSTICO DO ENTREVISTADO, MAS VALE A PENA LER E PENSAR COM ELE. RR

Lutero ainda estava preso ao pensamento medieval, e por isso não poderia “acolher bem a grandeza da cultura do Renascimento. A Reforma aparece, assim, como a obra de um fundamentalista que restaura o cristianismo com base em Paulo e Agostinho”, pontua o filósofo alemão Helmut Heit na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line. “A Reforma de Lutero é a farsa que se segue à tragédia da fundação da igreja por Paulo. Ainda assim, Nietzsche fica naturalmente fascinado pelo caráter vigoroso de Lutero. Ele louva, como se sabe, a linguagem de Lutero e caracteriza a tradução da Bíblia como a melhor obra de prosa alemã surgida até então.”

Outros temas abordados por Heit na entrevista são o marco dos processos políticos, culturais e eclesiásticos que gestam a Reforma, bem como a Contrarreforma jesuíta, tida por Nietzsche como um movimento retardador na história ocidental.

Helmut Heit

Foto: Christina Bachmann | Christlicher Medienverbund

Helmut Heit é professor associado de filosofia europeia e alemã e vice-diretor da Academia de Cultura Europeia na Universidade Tongji, em Shanghai, China. Estudou filosofia e ciência política em Hannover, Melbourne e Berlim. Em 2003 concluiu PhD em Hannover com um estudo sobre a emergência da filosofia ocidental na Grécia Antiga. Antes de lecionar em Shanghai, foi professor na Universidade Técnica de Berlim, na Universidade de Humboldt, em Berlim, na Universidade da Califórnia em San Diego, EUA, e na Universidade Leibniz, em Hannover. Em 2014 e 2015 foi professor convidado no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas - UFPEL. É coeditor dos Nietzsche-Studien e da série de livros Monographien und Texte der Nietzscheforschung (de Gruyter), membro do comitê executive da Sociedade Nietzsche, na Alemanha, e diretor fundador do Berliner Nietzsche-Colloquium, entre outras atividades.

A entrevista é publicada na revista IHU On-Line, no. 514 com o tema de capa Lutero e a reforma - 500 anos depois. Um debate. 

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Quais são os pressupostos fundamentais da crítica de Nietzsche [1] ao cristianismo, mas, sobretudo, ao luteranismo?
Helmut Heit - A crítica de Nietzsche ao cristianismo se baseia no pressuposto fundamental de que a hipótese cristã de Deus perdeu a credibilidade. A religião cristã não pode mais apresentar ao ser humano moderno uma pretensão de verdade no sentido clássico da palavra. É isso que significa inicialmente o discurso a respeito da morte de Deus. Neste sentido, nos textos de Nietzsche essa ideia não é desenvolvida como uma teoria própria e original, mas é, antes, apenas constatada e averiguada quanto a suas consequências. Nietzsche pode pressupor que os argumentos a favor dela são conhecidos e não os expõe sistematicamente, mesmo que todas as objeções contemporâneas contra o cristianismo se encontrem em diversas passagens de seus textos.

Os iluministas franceses, assim como os jovens hegelianos, neokantianos e positivistas, estavam em sua maioria convictos de que o Deus tradicional como função ou mesmo fundamento da filosofia e da ciência já dera o que tinha para dar. Para a consciência contemporânea, as mais importantes objeções contra a pretensão de validade clássica da hipótese de Deus são de natureza filosófica, científico-natural, histórica e psicológico-social. Immanuel Kant [2], com sua crítica de todas as provas da existência de Deus e tentativas filosóficas na teodiceia, transforma o Deus cristão de uma existência indiscutível em um postulado moral e um objeto da religiosidade privada. Nas teorias mecânicas, cosmológicas e evolucionárias do século XIX, Deus, diferentemente do que ainda era o caso no pensamento de Newton [3] ou Leibniz [4], está essencialmente obsoleto. Os fenômenos são explicados de uma maneira diferente e melhor sem ele. Também a análise histórico-crítica dos textos bíblicos, de que Nietzsche toma conhecimento já em Schulpforta, contribui para a profanização da anteriormente “Sagrada Escritura”. Na Bíblia não temos comunicações inspiradas de Deus, e sim as narrativas de um povo de pastores do Oriente Médio. Autores como Feuerbach [5], Heine [6] e Marx [7] explicam, finalmente, a ideia de Deus, persistente do ponto de vista da história da cultura, como uma projeção humana, que diz muita coisa sobre nós seres humanos, mas não diz nada sobre a eventual existência de tal ser.

Deus, uma ficção útil

Em seu conjunto, essas objeções tornam Deus uma noção que não pode ser provada filosoficamente, é cientificamente supérflua e historicamente modificável, cuja existência pode ser bem explicada do ponto de vista da psicologia social. Em séculos anteriores, menos esclarecidos, Deus estava vivo como ficção coletiva, sendo um fato social culturalmente atuante. Na época de Nietzsche, a crença geral antigamente real e eficaz em um ser supremo tinha perdido maciçamente validade; não se precisa mais dele e não se crê mais nele. Neste sentido Deus está morto, tendo mostrado ser uma ficção que deixou de ter credibilidade.

A crítica do cristianismo de Nietzsche, contudo, não se limita a perguntar se os relatos a respeito de Deus, sua situação familiar e suas ações, suas exigências e promessas, capacidades e atividades são verdadeiras. Ao que tudo indica, o que lhe interessa é, antes, principalmente perguntar se Deus é uma ficção útil. Neste caso se mostra que Nietzsche não move uma crítica ideológica unilateral contra o cristianismo, embora, em última análise, ele também responda a essa pergunta negativamente para o presente e o futuro: embora a hipótese da moral cristã tenha dado um sentido à existência humana, e a interiorização ascética da culpa e da má consciência tenha tornado o ser humano mais profundo e interessante, isso sempre se deu ao preço de uma degradação, ofensa e humilhação do ser humano e da vida.

A crítica a Lutero [8] consiste, sobre esse pano de fundo, principalmente na afirmação de que ele salvou o cristianismo. Estando ele próprio ainda inteiramente preso no pensamento da Idade Média, Lutero não podia entender nem acolher bem a grandeza da cultura do Renascimento. A Reforma aparece, assim, como a obra de um fundamentalista que restaura o cristianismo com base em Paulo [9] e Agostinho [10].

IHU On-Line - Se pensarmos na crítica nietzschiana à genealogia da Modernidade, qual é a importância de suas ressalvas a Lutero?
Helmut Heit - Esta pergunta é particularmente difícil de responder, pois a confrontação de Nietzsche com a Modernidade é extremamente multifacetada. A Modernidade e também o cristianismo são poderes culturais de significado dialético. Elas encerram tensões e dinâmicas que não são condenadas unilateralmente por Nietzsche, mas com as quais também se associam potenciais para o desenvolvimento da humanidade. Neste sentido, a Reforma de Lutero certamente contribuiu para a individualização e privatização do pensamento e do sentimento.

IHU On-Line - Como essa crítica repercutiu na época em que foi formulada e qual a sua importância atualmente?
Helmut Heit - Como se sabe, entre seus contemporâneos diretos Nietzsche teve pouca repercussão. Hoje em dia, seu tratamento da religião é muitas vezes reduzido, na opinião pública, ao discurso a respeito da morte de Deus. Isso é lamentável, já que sua crítica do cristianismo vai muito além dessa afirmação negativa e pergunta a respeito das fontes e perspectivas da necessidade religiosa.

IHU On-Line - Em que medida a formação religiosa de Nietzsche fornece algumas pistas para explicar seu posicionamento em relação ao Luteranismo?
Helmut Heit - Certamente o fato de Nietzsche provir de uma família inteiramente protestante desempenha um papel importante. Ainda durante o tempo que passou em Basileia ele se sente unido ao espírito de Lutero, e reage com perplexidade à intenção de seu amigo Heinrich Romundt de se tornar justamente sacerdote católico. Sua própria caminhada rumo à descrença é, biograficamente, sem dúvida interessante. Em última análise, porém, o cristianismo lhe interessa não como objeto de religiosidade pessoal, e sim como fenômeno cultural.

IHU On-Line - Em que aspectos a figura de Lutero como “monge ressentido”, mas também como um tipo psicológico interessante, mobiliza o interesse de Nietzsche?
O horizonte de sua crítica à filosofia moderna não se restringe à Idade Moderna, mas também compreende sempre a Antiguidade grega e cristã
 
Helmut Heit - Em comparação com Jesus, Paulo, Sócrates [11] e Platão [12], Lutero é de grande interesse para Nietzsche, mas não de interesse extraordinário. A Reforma de Lutero é, antes, a farsa que se segue à tragédia da fundação da igreja por Paulo. Ainda assim, Nietzsche fica naturalmente fascinado pelo caráter vigoroso de Lutero. Ele louva, como se sabe, a linguagem de Lutero e caracteriza a tradução da Bíblia como a melhor obra de prosa alemã surgida até então. Isso também se refere à enorme atividade transformadora da cultura que Lutero conseguiu desenvolver. Na medida em que Nietzsche também visa a uma transformação, essa figura atrai naturalmente sua atenção.

IHU On-Line - Até que ponto podemos compreender a crítica nietzschiana aos alemães e sua filosofia e teologia tendo Lutero como figura central?

Helmut Heit - Como disse acima, eu não veria Lutero como figura central da crítica de Nietzsche aos alemães, à sua filosofia e à sua teologia. Certamente a filosofia alemã de Kant, Hegel [13] e Schleiermacher [14] é protestante de cabo a rabo. Não sem razão, Nietzsche faz troça do idealismo dos teólogos do Seminário de Tübingen [residência e instituição de ensino de estudantes protestantes no estado de Baden-Württemberg]. Mas ele atribui a arrogância presunçosa com que os alemães se entendem como nação superior após 1870/71 a diversas fontes. O horizonte de sua crítica à filosofia moderna não se restringe à Idade Moderna, mas também compreende sempre a Antiguidade grega e cristã.
IHU On-Line - É possível dizer que a maldição contra o Cristianismo, lançada ao final de O Anticristo, opera como uma contraposição às teses de Lutero? Por quê?
Helmut Heit - Eu não colocaria isso necessariamente assim. As teses de Lutero tratam de maneira bastante acadêmica e detalhada de questões da certeza da salvação e da prática cristã. Elas são, inicialmente, sobretudo uma contribuição para um problema teológico. O poder explosivo das teses de Lutero não é fácil de ser apreendido e também só se mostra no marco dos processos políticos, culturais e eclesiásticos que então acabam constituindo a Reforma. Poder-se-ia, antes, entender a maldição contra o cristianismo como uma contraposição aos Dez Mandamentos ou ao Sermão da Montanha.

IHU On-Line - Qual é a posição de Nietzsche em relação à Contrarreforma [15] representada pelos jesuítas?
Por meio da Contrarreforma, o cristianismo foi salvo para a Modernidade
 
Helmut Heit - A Contrarreforma é objeto de crítica de diversas formas no pensamento de Nietzsche. No prefácio de Além do bem e do mal, ele inclui o jesuitismo entre os grandes movimentos retardadores na história do Ocidente. Nietzsche parece ter visto na Contrarreforma a implementação católica, isto é, generalizada do protestantismo. Por meio da Contrarreforma, o cristianismo foi salvo para a Modernidade.

IHU On-Line - Sob que aspectos existe uma crítica de Nietzsche a um conceito de Deus niilista no protestantismo?
Helmut Heit - Eu não diria que há uma crítica dessas no pensamento de Nietzsche: ele não critica um conceito de Deus niilista no protestantismo; isso é feito, antes, por teólogos (católicos) atuais que veem na teologia da morte de Deus uma consequência problemática e deplorável da obra de destruição protestante. Nietzsche pensa de modo diferente neste caso. Como todas as coisas grandes, o conceito cristão de Deus se arruína por causa de si mesmo. Na pretensão de que Deus é a verdade já está contido o germe de sua autossuspensão.

IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algum aspecto não questionado?
Helmut Heit - O que me parece particularmente interessante e importante hoje em dia, justamente também à luz de um fundamentalismo que está se fortalecendo nas mais diversas confissões, é o fato de Nietzsche problematizar a pretensão implícita ou explícita de verdade da religião. Quando ele critica a Reforma como “indignação da simplicidade”, isso se refere menos à simplicidade na acepção de burrice e falta de perspicácia, e sim a uma falta de vontade ou capacidade de tolerar a diversidade. A crença de que nós mesmos possuímos a verdade religiosa é uma ficção perigosa.

Notas:
[1] Friedrich Nietzsche (1844-1900): filósofo alemão, conhecido por seus conceitos além-do-homem, transvaloração dos valores, niilismo, vontade de poder e eterno retorno. A Nietzsche foi dedicado o tema de capa da edição número 127 da IHU On-Line, de 13-12-2004, intitulado Nietzsche: filósofo do martelo e do crepúsculo. A edição 15 dos Cadernos IHU em formação é intitulada O pensamento de Friedrich Nietzsche. Confira, também, a entrevista concedida por Ernildo Stein à edição 328 da revista IHU On-Line, de 10-5-2010, intitulada O biologismo radical de Nietzsche não pode ser minimizado, na qual discute ideias de sua conferência A crítica de Heidegger ao biologismo de Nietzsche e a questão da biopolítica, parte integrante do Ciclo de Estudos Filosofias da diferença - Pré-evento do XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana. Na edição 330 da revista IHU On-Line, de 24-5-2010, leia a entrevista Nietzsche, o pensamento trágico e a afirmação da totalidade da existência, concedida pelo professor Oswaldo Giacoia. Na edição 388, de 9-4-2012, leia a entrevista O amor fati como resposta à tirania do sentido, com Danilo Bilate. Na edição 513, de 16-10-2017, leia a entrevista Uma política de vida ao invés de uma política sobre a vida. A biopolítica afirmativa de Nietzsche. (Nota da IHU On-Line)
[2] Immanuel Kant (1724-1804): filósofo prussiano, considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, representante do Iluminismo. Kant teve um grande impacto no romantismo alemão e nas filosofias idealistas do século 19, as quais se tornaram um ponto de partida para Hegel. Kant estabeleceu uma distinção entre os fenômenos e a coisa-em-si (que chamou noumenon), isto é, entre o que nos aparece e o que existiria em si mesmo. A coisa-em-si não poderia, segundo Kant, ser objeto de conhecimento científico, como até então pretendera a metafísica clássica. A ciência se restringiria, assim, ao mundo dos fenômenos, e seria constituída pelas formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias do entendimento. A IHU On-Line número 93, de 22-3-2004, dedicou sua matéria de capa à vida e à obra do pensador com o título Kant: razão, liberdade e ética. Também sobre Kant, foi publicado o Cadernos IHU em formação número 2, intitulado Emmanuel Kant – Razão, liberdade, lógica e ética. Confira, ainda, a edição 417 da revista IHU On-Line, de 6-5-2013, intitulada A autonomia do sujeito, hoje. Imperativos e desafios. (Nota da IHU On-Line)
[3] Isaac Newton (1642-1727): físico, astrônomo e matemático inglês. Revelou como o universo se mantém unido através da sua teoria da gravitação, descobriu os segredos da luz e das cores e criou um ramo da matemática, o cálculo infinitesimal. Essas descobertas foram realizadas por Newton em um intervalo de apenas 18 meses, entre os anos de 1665 e 1667. É considerado um dos maiores nomes na história do pensamento humano, por causa da sua grande contribuição à matemática, à física e à astronomia. O IHU promoveu de 3 de agosto a 16-11-2005 o Ciclo de Estudos Desafios da Física para o Século XXI: uma aventura de Copérnico a Einstein. Sobre Newton, em específico, o Prof. Dr. Ney Lemke proferiu palestra em 21-09-2005, intitulada A cosmologia de Newton. (Nota da IHU On-Line)
[4] Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716): filósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. O uso de "função" como um termo matemático foi iniciado por Leibniz, numa carta de 1694, para designar uma quantidade relacionada a uma curva, tal como a sua inclinação em um ponto específico. É creditado a Leibniz e a Newton o desenvolvimento do cálculo moderno, em particular o desenvolvimento da integral e da regra do produto. Descreveu o primeiro sistema de numeração binário moderno (1705), tal como o sistema numérico binário utilizado nos dias de hoje. Demonstrou genialidade também nos campos da lei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia. (Nota da IHU On-Line)
[5] Ludwig Feuerbach (1804-1872): filósofo alemão, reconhecido pela influência que seu pensamento exerce sobre Karl Marx. Abandona os estudos de Teologia para tornar-se aluno de Hegel, durante dois anos, em Berlim. De acordo com sua filosofia, a religião é uma forma de alienação que projeta os conceitos do ideal humano em um ser supremo. É autor de A essência do cristianismo (2ª ed. São Paulo: Papirus, 1997). (Nota da IHU On-Line)
[6] Heinrich Heine (1797-1856): poeta romântico alemão, conhecido como “o último dos românticos”. Boa parte de sua poesia lírica, especialmente a sua obra de juventude, foi musicada por vários compositores notáveis como Robert Schumann, Franz Schubert, Felix Mendelssohn, Brahms, Hugo Wolf, Richard Wagner e, já no século XX, por Hans Werner Henze e Lord Berners. (Nota da IHU On-Line)
[7] Karl Marx (1818-1883): filósofo, cientista social, economista, historiador e revolucionário alemão, um dos pensadores que exerceram maior influência sobre o pensamento social e sobre os destinos da humanidade no século 20. A edição 41 dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Leda Maria Paulani, tem como título A (anti)filosofia de Karl Marx. Também sobre o autor, a edição número 278 da revista IHU On-Line, de 20-10-2008, é intitulada A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. A entrevista Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de Alcântara Figueira, foi publicada na edição 327 da IHU On-Line, de 3-5-2010. A IHU On-Line preparou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI, que retoma o argumento central de O Capital, obra de Marx. (Nota da IHU On-Line)
[8] Martinho Lutero (1483-1546): teólogo alemão, considerado o pai espiritual da Reforma Protestante. Foi o autor da primeira tradução da Bíblia para o alemão. Além da qualidade da tradução, foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutemberg em 1453. (Nota da IHU On-Line)
[9] Paulo de Tarso (3-66 d.C.): nascido em Tarso, na Cilícia, hoje Turquia, era originariamente chamado de Saulo. Entretanto, é mais conhecido como São Paulo, o Apóstolo. É considerado por muitos cristãos como o mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante no desenvolvimento do Cristianismo nascente. Paulo de Tarso é um apóstolo diferente dos demais. Primeiro porque, ao contrário dos outros, não conheceu Jesus pessoalmente. Antes de sua conversão, se dedicava à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus na região de Jerusalém. Em uma dessas missões, quando se dirigia a Damasco, teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz e ficou cego. A visão foi recuperada após três dias por Ananias, que o batizou como cristão. A partir deste encontro, Paulo começou a pregar o Cristianismo. Ele era um homem culto, frequentou uma escola em Jerusalém, fez carreira no Templo (era fariseu), onde foi sacerdote. Era educado em duas culturas: a grega e a judaica. Paulo fez muito pela difusão do Cristianismo entre os gentios e é considerado uma das principais fontes da doutrina da Igreja. As suas Epístolas formam uma seção fundamental do Novo Testamento. Afirma-se que foi ele quem verdadeiramente transformou o Cristianismo em uma nova religião, superando a anterior condição de seita do Judaísmo. A IHU On-Line 175, de 10-4-2006, dedicou sua capa ao tema Paulo de Tarso e a contemporaneidade, assim como a edição 286, de 22-12-2008, Paulo de Tarso: a sua relevância atual Também são dedicadas ao religioso a edição 32 dos Cadernos IHU em formação, Paulo de Tarso desafia a Igreja de hoje a um novo sentido de realidade, e a edição 55 dos Cadernos Teologia Pública, São Paulo contra as mulheres? Afirmação e declínio da mulher cristã no século I. (Nota da IHU On-Line)
[10] Agostinho de Hipona (354-430): conhecido como Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo, cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e da filosofia ocidental. Escrevendo na era patrística, ele é amplamente considerado como sendo o mais importante dos padres da Igreja no Ocidente. Suas obras-primas são A cidade de Deus e Confissões. (Nota da IHU On-Line)
[11] Sócrates (470 a. C.- 399 a. C.): filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das ideias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas. O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). (Nota da IHU On-Line)
[12] Platão (427-347 a. C.): filósofo ateniense. Criador de sistemas filosóficos influentes até hoje, como a Teoria das Ideias e a Dialética. Discípulo de Sócrates, Platão foi mestre de Aristóteles. Entre suas obras, destacam-se A República (São Paulo: Editora Edipro, 2012) e Fédon (São Paulo: Martin Claret, 2002). Sobre Platão, confira e entrevista As implicações éticas da cosmologia de Platão, concedida pelo filósofo Marcelo Perine à edição 194 da revista IHU On-Line, de 4-9-2006. Leia, também, a edição 294 da revista IHU On-Line, de 25-5-2009, intitulada Platão. A totalidade em movimento (Nota da IHU On-Line)
[13] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831): filósofo alemão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, desenvolveu um sistema filosófico no qual estivessem integradas todas as contribuições de seus principais predecessores. Sobre Hegel, confira a edição 217 da IHU On-Line, de 30-4-2007, intitulada Fenomenologia do espírito, de (1807-2007), em comemoração aos 200 anos de lançamento dessa obra. Veja ainda a edição 261, de 9-6-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um novo modo de ler Hegel; Hegel. A tradução da história pela razão, edição 430, e Hegel. Lógica e Metafísica, edição 482. (Nota da IHU On-Line)
[14] Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834): teólogo, filósofo e pedagogo alemão. Foi corresponsável pela aparição da teologia liberal, negando a historicidade dos milagres e a autoridade literal das Escrituras. (Nota da IHU On-Line)
[15] Contrarreforma ou Reforma Católica: iniciado no Concílio de Trento, é um movimento regido pela Igreja Católica Romana em resposta à Reforma Protestante, movimento reformista cristão liderado por Martinho Lutero, autor das 95 teses pregadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1517. No documento, Lutero propôs uma reforma na doutrina do catolicismo romano, tendo sido apoiado por vários religiosos e governantes europeus. Em decorrência destes fatos, ocorreu a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os protestantes. (Nota da IHU On-Line)

Leia mais

  • Lutero e a Reforma – 500 anos depois. Um debate. Revista IHU On-Line, Nº. 514
  • O niilismo como doença da vontade humana. Entrevista especial com Clademir Araldi. Revista IHU On-Line, Nº. 354
  • Narrar Deus no horizonte do niilismo: a reviviscência do divino. Entrevista especial com Clademir Paul Valadier. Revista IHU On-Line, Nº. 303
  • Paulo de Tarso: a sua relevância atual. Revista IHU On-Line, Nº. 286
  • Lutero. Reformador da Teologia, da Igreja e criador da língua alemã. Revista IHU On-Line, Nº. 280
  • Paulo de Tarso e a contemporaneidade. Revista IHU On-Line, Nº. 175
  • Nietzsche Filósofo do martelo e do crepúsculo. Revista IHU On-Line, Nº. 127
  • Lutero, Justiça Social e Poder Político. Aproximações teológicas a partir de alguns de seus escritos. Artigo de Roberto E. Zwetsch. Cadernos Teologia Pública, Nº. 113
  • Lutero. Reformador da Teologia, da Igreja e criador da língua alemã. Revista IHU On-Line, Nº. 280
  • 500 anos da Reforma. Principal bispo luterano ao Papa Francisco: ''Irmão em Cristo, obrigado''
  • 500 anos da Reforma: em Londres, primaz anglicano diz não à ''tentação de se dividir''
  • A Reforma em cinco pontos: três positivos, dois negativos. Artigo de Aldo Comba
  • A ''santa esposa'' de Lutero. Artigo de Gianfranco Ravasi
  • Lutero, a pureza da fé em um mundo corrupto. Artigo de Massimo Firpo
  • Lutero, o arauto da liberdade? Artigo de Andrea Sarri
  • A Reforma e as reformas. Artigo de Martin Dreher
  • 500 anos da Reforma manifesta o desejo de um futuro de diversidade reconciliada. Entrevista especial com Walter Altmann
  • ''Uma Igreja da Reforma precisa estar sempre sendo reformada''. Entrevista especial com Oneide Bobsin
  • ''Lutero não era herege. Era animado por um espírito autêntico.'' Entrevista com Giancarlo Pani
  • Lutero e a redescoberta do Evangelho. 500 anos depois, uma nova reforma visando ao diálogo inter-religioso. Entrevista especial com Walter Altmann
  • Lutero, homem arcaico que funda a Idade Moderna
  • Lutero. O místico que traz o monastério para o cotidiano popular. Entrevista especial com Vítor Westhelle
  • Lutero e a ordem agostiniana, a cinco séculos da Reforma. Artigo de Alejandro Moral Antón
  • A Reforma. Um ato de liberdade. Entrevista especial com Vítor Westhelle
  • Lutero, o “desbravador” da Modernidade
  • Lutero contra a Igreja de Roma: 10 passos da Reforma que incendiou a Europa
  • Lutero. A Reforma e os paradoxos do mundo moderno
  • Lutero, revolucionário por acaso. Artigo de Massimo Firpo
  • Quando Lutero era católico
  • As 95 teses de Martinho Lutero na porta da igreja do castelo de Wittenberg
  • A Reforma Protestante para além do triunfalismo. Entrevista especial com Ricardo Willy Rieth
  • Protestantes alemães pedem perdão pela iconoclastia da Reforma
  • “A experiência espiritual de Martinho Lutero nos interpela e nos recorda que não podemos fazer nada sem Deus”
  • Quinhentos anos após o início da Reforma volta à pauta a "Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação" de 1999. O diálogo com os Protestantes para superar os preconceitos
  • Um olhar feminino sobre a Reforma Protestante. Entrevista especial com Wanda Deifelt
  • 500 anos da Reforma Protestante e a reviravolta histórica do Papa Francisco. Entrevista com Paolo Ricca
  • Contrarreforma. Modernidade e Preconceito
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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Seis em cada dez desempregados são pretos ou pardos, diz IBGE

Seis em cada dez desempregados são pretos ou pardos, diz IBGE

No 3º trimestre, rendimento médio dos trabalhadores pretos e pardos foi de R$ 1.531, enquanto o dos brancos foi de R$ 2.757


Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo
17 Novembro 2017 | 14h22

RIO - No terceiro trimestre, 12,961 milhões de pessoas estavam na fila do desemprego, mostram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, divulgados mais cedo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dessas, 8,252 milhões têm a pele preta ou parda, 63,7% do total. Com isso, a taxa de desemprego da população preta ou parda é de 14,6%, acima da média, que ficou em 12,4%. Entre as pessoas de pele branca, a taxa de desemprego ficou em 9,9%.  

Pessoas de pele preta e parda sofrem mais com o desemprego e, quando têm emprego, trabalham em atividades de menor qualificação e em piores condições, como o trabalho doméstico ou de ambulante. O resultado é que, no terceiro trimestre, o rendimento médio dos trabalhadores pretos e pardos (R$ 1.531) foi quase a metade (55,5%) do registrado para brancos (R$ 2.757).
Desemprego
No 3º trimestre, 12,961 milhões de pessoas estavam na fila do desemprego – dessas, 8,252 milhões têm a pele preta ou parda, 63,7% do total Foto: Márcio Fernandes/Estadão
O Brasil tem 1,832 milhão de ambulantes, sendo que 1,222 milhão, ou 66,7%, são pretos ou pardos. Empregadas e empregados domésticos somam 6,177 milhões de pessoas, e 4,076 milhões, ou 66%, têm a pele preta ou parda. Esses dados são inéditos e fazem parte de um estudo especial sobre as desigualdades do mercado de trabalho conforme a cor da pele, preparado pelo IBGE por causa do Dia da Consciência Negra, comemorado no próximo dia 20.

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"Eles (pessoas de pele preta ou parda) estão inseridos em atividades com menor qualidade, que exigem menor formação e, consequentemente, são grupos de atividades que pagam salários menores", afirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. 

+ Entre graduados, branco ganha quase 30% a mais que negro
 
O pesquisador citou a colonização como origem da desigualdade. "Estamos falando de uma população de origem afrodescendente, que chegou ao País por meio da escravidão", lembrou Azeredo. Para ele, essa raiz histórica mantém as desigualdades na escolaridade, com efeitos no mercado de trabalho. "Isso tem mais de 100 anos (a abolição da escravidão), mas vemos ainda marcas bastante expressivas dessa tragédia que foi a colonização do Brasil", completou o pesquisador.
De 2007 em diante, as pesquisas por amostra de domicílio do IBGE passaram a registrar que o contingente da população preta e parda supera o total da população branca – a cor da pele é informada pelo próprio respondente da pesquisa. Conforme os dados do terceiro trimestre deste ano, pessoas de pele preta e parda respondem por 54,9% da população de 14 anos ou mais e por 53% da população ocupada. 

+ Faltou trabalho para 26,8 milhões de brasileiros no 3º trimestre
 
Se o mercado de trabalho fosse igualitário, essa participação de 53% deveria se repetir em todas as atividades, mas não é o que ocorre. Embora sejam a esmagadora maioria entre ambulantes e trabalhadores domésticos, as pessoas de pele preta ou parda são minoria entre empregadores – apenas 33% dos 4,245 milhões de empregadores é de pretos ou pardos.
Postado por Roberto Romano às 09:22 Nenhum comentário:
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http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/t/videos/v/negros-representam-55-da-populacao-brasileira-e-movimentam-r-16-trilhao/6292644/
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Amplia-se a distância entre Francisco e a Igreja dos EUA: papa envia Parolin em missão

ihu/Unisinos
16 Novembro 2017
Embora os cardeais “grandes eleitores” estadunidenses tenham sido determinantes para a eleição de Jorge Mario Bergoglio como papa (e logo reivindicaram esse papel), há algum tempo, nos Estados Unidos, registram-se sinais de uma crescente “distinção” em relação ao Papa Francisco.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por L’Huffington Post, 15-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nos últimos dias, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado vaticano, foi encarregado de uma dupla missão (impossível?) nos Estados Unidos. Nessa terça-feira, 14, ele foi recebido pelo vice-presidente, Mike Pence, na Casa Branca, que, nestes dias, festeja um ano desde a eleição de Donald Trump.

Ele também foi o enviado papal em meio à Conferência Episcopal Estadunidense reunida por inteiro (196 bispos, arcebispos e cardeais) para o centenário da sua constituição, no encontro de outono em Baltimore.

O apoio a Bergoglio e a distância do Papa Francisco – já sublinhada pela escolha, como presidente, do “conservador” Daniel DiNardo – desembocou, na terça-feira passada, em uma votação surpreendente, que mostra uma Igreja Católica estadunidense dividida.

Decidia-se um papel – o de presidente do Comitê “pro-life”, um dos mais importantes da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês). O comitê é tradicionalmente presidido por um cardeal, e um dos candidatos ao cargo era Blase Cupich, levado por Francisco da pequena diocese de Spokane para dirigir a diocese de Chicago e criado cardeal em 2016, em suma, um dos homens de ponta do papa nos Estados Unidos. Contra ele, concorria Joseph Naumann, arcebispo de Kansas City. Prevaleceu este último com 96 votos (54%), enquanto Cupich ficou nos 46%.

Naumann e Cupich são representantes de duas visões opostas da Igreja. Naumann é aquilo que se chamaria de um “guerreiro cultural”. Cupich é considerado um defensor do compromisso social e do diálogo, mesmo às custas de impedir as orações dos padres em frente aos centros de aborto ou ao uso da missa em latim durante o Tríduo Pascal.

A votação é um barômetro do apoio ao Papa Francisco entre a hierarquia estadunidense, observa o Wall Street Journal. Durante as eleições presidenciais de 2016, Naumann chamou o católico pró-aborto Tim Kaine, que concorria como vice-presidente de Hillary Clinton, de “um democrata ortodoxo e um católico de cafeteria”.

Na Casa Branca, o secretário de Estado vaticano encontrou-se com o vice-presidente, Pence, evangélico e pro-life. Aos microfones da rede católica EWTN, Parolin enfatizou que o primeiro ponto no centro da conversa foi “a grande preocupação com a paz no mundo”. “Há muitos pontos de atenção, começando pelo Oriente Médio, a península coreana, a Venezuela.” Falou-se também – explicou o secretário de Estado vaticano – “da ação e colaboração que podemos ter para tentar levar paz e estabilidade para muitas situações”.

Entre os temas sobre a mesa, também estiveram “a imigração, a defesa da vida, a liberdade religiosa. São temas – acrescenta o purpurado – importantes para a Santa Sé. Também falamos de migração, reiterando a posição da Igreja, uma abordagem compassiva ao tema das migrações”.

O cardeal Parolin não quis comentar as decisões do governo Trump em termos de imigração e, em particular, o fechamento do programa DACA desejado pelo governo Obama sobre os Dreamers. A medida afeta cerca de 800 mil imigrantes irregulares. “Mas também falamos disso, e o vice-presidente disse que há um trabalho em curso sobre esse tema, esperando que ele possa ser resolvido.”

Por fim, na lista de espera, encontra-se a verdadeira estreia da nova embaixadora dos Estados Unidos junto à Santa Sé, Callista Gingrich (que relançou no Twitter o encontro na Casa Branca), que já chegou em Roma há alguns dias. Para a apresentação das credenciais ao Papa Francisco, provavelmente se esperava a visita de Parolin.
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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

German Law Journal

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O que dizem as citações em artigos? qui, 16 nov 2017 | 12:11 Texto PETER SCHULZ

Foto: Antoninho PerriPeter Schulz foi professor do Instituto de Física "Gleb Wataghin" (IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira. Além de artigos em periódicos especializados em Física e Cienciometria, dedica-se à divulgação científica e ao estudo de aspectos da interdisciplinaridade. Publicou o livro “A encruzilhada da nanotecnologia – inovação, tecnologia e riscos” (Vieira & Lent, 2009) e foi curador da exposição “Tão longe, tão perto – as telecomunicações e a sociedade”, no Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo (2010).

O que dizem as citações em artigos?

qui, 16 nov 2017 | 12:11

Texto

PETER SCHULZ

Fotos

REPRODUÇÃO

Edição de imagem

LUIS PAULO SILVA
​
Ilustração: Luppa Silva​ 

Em um congresso de Física em 2010, já se iam quase vinte anos de carreira docente, deparei-me com um livro exposto em um estande de uma livraria, que estava lá tentando vender seus livros como é comum em qualquer congresso. O título que chamou minha atenção era Why Beliefs Matter – Reflections on the Nature of Science, de E. Brian Davies, um professor de matemática do King´s College de Londres, aventurando-se em Filosofia da Ciência. Comprei e li boa parte do livro, encontrando a seguinte frase, uma pequena epifania:

“Ciência é uma atividade humana. Cientistas, como qualquer pessoa, têm crenças e tentam encontrar evidências que as apoiem. Eles frequentemente persuadem outros de que suas descobertas são válidas ao reformular o processo da descoberta em um molde Baconiano (referência a Francis Bacon) , porque as revistas (científicas) preferem assim.”

Esse molde foi se formando aos poucos [I] e nesse processo temos a constituição de um marcador linguístico importante dos artigos científicos, as citações e suas referências. No início, quando havia apenas duas revistas científicas, as citações apareciam em raros artigos e quando apareciam era uma única, muitas vezes uma autorreferência (mesmo porque o repositório de artigos era pequeno). A citação e sua referência (incompleta) apareciam juntas no corpo do texto. O uso de citações, buscando apoio às crenças (de que o modelo usado no trabalho relatado no artigo explicaria o fenômeno estudado, por exemplo) e auxílio no processo de persuasão e validação, e as respectivas referências completas no rodapé da página ou no fim do texto, já podiam ser claramente identificados em meados do século XVII, como mostra a ilustração que acompanha este texto.
Foto: Reprodução
Fac-símile de texto de 1669
Com o passar do tempo, as citações foram ganhando outras funções, tanto para quem cita, quanto para quem é citado. Eu me lembro do meu espanto, ainda como estudante de doutorado, quando recebi um envelope pelo correio com uma separata de um artigo de uma dupla de físicos da Inglaterra. Citavam o meu primeiro artigo científico, que saíra publicado alguns meses antes. Não havia internet e suas bases de dados bibliográficos de fácil uso, portanto, saber se alguém citou ou não o seu trabalho era assim: deparar-se por acaso lendo um artigo ou por uma carta pelo correio (ou esperar meses até que os calhamaços de uma nova edição do Science Citation Index chegassem à biblioteca). Para o estudante que eu era então, grande alegria, a sensação de reconhecimento por aquele meu trabalho, que parecia ser útil para aqueles colegas do outro lado do Atlântico. Mas parecia haver também uma mensagem subliminar. Fui recebendo outros envelopes desses de outros lugares, até que um dia veio um envelope mais gordo com cópias de vários artigos e um singelo bilhete, que dizia mais ou menos assim: “obrigado por citar o meu artigo tal e se no futuro continuar a pesquisar nesse mesmo tema, considere a possibilidade de citar meus outros trabalhos”; o citado queria ser mais citado. A mais curiosa das cartas foi uma em que o autor reclamava que não havia sido citado em outro artigo meu. Havia sido citado sim, mas não aquele específico, motivo da reclamação. Acabei jogando fora a carta em uma mudança, infelizmente, pois anos depois o autor da missiva ganharia o prêmio Nobel.

De acordo com Robert Merton, fundador da moderna Sociologia da Ciência, uma citação representa um reconhecimento a um artigo anterior usado no trabalho que o cita. Para saber se a citação é para reconhecer a prioridade intelectual de outrem, o empréstimo de um método, fornecer suporte à descoberta, relatá-la ou negar as conclusões do trabalho citado seria necessária uma análise de conteúdo do artigo que cita, bem como a do citado. É um trabalho difícil e raro, mas útil também para entender, por exemplo, o consenso da comunidade científica em relação ao conceito citado. Voltando ao bilhete mencionado acima, além da questão do reconhecimento, percebemos que aparece o desejo de recompensa (mais citações) por parte do autor do bilhete. Era ainda a penúltima década do século passado, mas já se insinuava o cenário atual da crescente importância do número de citações, ou seja, a simples contagem delas, na avaliação dos pesquisadores. Assim, desvios da visão normativa de Merton das motivações para citações em artigos científicos começaram a ser propostos para outros fatores, às vezes não científicos, na tomada de decisão de citar um trabalho ou não.

>Bornmann e Daniel [II] fazem uma revisão de vários trabalhos sobre esse tema: o comportamento de citação, chamando a atenção às diferentes especificidades (comportamentos distintos dependendo da área do conhecimento) e alertam para o fato de que os diferentes estudos sobre comportamento de citação variam enormemente no desenho metodológico, seus resultados são de difícil reprodução e as diferenças de comportamento não chegariam a invalidar a contagem de citações como medida de impacto de um trabalho. O debate, porém, continua aberto e esse artigo de revisão já tem lá suas mais de 700 citações. O título de outro artigo cutuca nesse sentido: “O problema da análise de citações: a influência de artigos não citados ou raramente citados” [III].  Nele os autores colocam uma pergunta, que eu compartilho aqui: “Os artigos ‘não citados’ ou ‘raramente citados’ são realmente não citados ou raramente citados e não usados ou raramente usados?”. A resposta é taxativa: “não citado não significa não usado”, mas aplicava-se a um campo específico do conhecimento.  

Deixando de lado as motivações, científicas ou não, para citar um artigo, qual a expectativa do leitor de um artigo científico em relação às citações deste? Talvez a de que o autor tenha lido as referências que cita. Acho que não é sempre assim. Já doutor, mas ainda jovem, escrevi um artigo e usei uma referência na qual lera um conceito relevante para a discussão dos meus resultados. Um amigo leu o artigo e me preveniu que aquele conceito fora descrito por primeira vez por sicrano e não o fulano que eu citara. Bem, respeitei a prioridade intelectual e citei também sicrano, cujo trabalho...não li. Até hoje. Esse deslize eu confesso aqui pela primeira vez, mas tenho notado alguns outros deslizes um pouco maiores. Vez ou outra me deparo com artigos que citam outros para validar suas ideias. Até aqui tudo bem, é o que se espera, mas o problema é que os artigos citados apenas mencionam as mesmas ideias, porém para dizer coisas completamente diferentes. Ou seja, além de ler o artigo que nos interessa, é aconselhável ler suas referências. Senão, um autor que trabalha arduamente para construir uma ideia, pode tê-la vilipendiada se nos fiarmos apenas no que diz o artigo que a cita. É o que aconteceu parcialmente com Lorde Kelvin por mais de um século [IV]. Ciência é realmente uma atividade humana, como qualquer outra.


[I] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/matou-cascavel-e-publicou-o-pau
[II] https://pdfs.semanticscholar.org/fac7/e66de0ec1f7283b5b48e55e45263afe55e06.pdf
[III] http://image.sciencenet.cn/olddata/kexue.com.cn/upload/blog/file/2010/12/2010128124335464925.pdf
[IV] http://www.scielo.br/pdf/rbef/v29n4/a06v29n4.pdf
 
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