30 Maio 2017
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Settimo Cielo, 28-05-2017. A tradução é do Cepat.
As nomeações são um elemento chave da estratégia de Jorge Mario Bergoglio. Basta ver como está remodelando a sua imagem o Colégio de Cardeais, que no futuro elegerá seu sucessor. Depois da última fornada de púrpuras, anunciada há uma semana para o final de junho, torna-se mais distante a hipótese que o próximo Papa possa marcar um retorno ao passado.
Contudo, Itália à parte, a conquista do consenso dos bispos é para Francisco uma empresa nada fácil.
Os únicos episcopados nacionais com os quais pode contar, hoje, são os da Alemanha, da Áustria e da Bélgica, ou seja, aqueles das nações que a Igreja Católica está sofrendo a decadência mais dramática.
Ao passo que, ao contrário, as muito mais vitais Igrejas da África são as que se alinharam de forma compacta, nos dois combatidos sínodos sobre a família, contra as inovações desejadas pelo Papa.
Além disso, caso se observe a América, tanto do norte como do sul, o quadro parece ainda mais desfavorável para o Papa.
No Canadá, os seis bispos da região de Alberta tomaram posição publicamente contra o caminho livre dado por Francisco à comunhão para os divorciados em segunda união, ao mesmo tempo em que nos Estados Unidos a Conferência Episcopal escolheu como seu presidente, no último mês de novembro o cardeal Daniel N. Di Nardo, ou seja, justamente um dos treze cardeais da memorável carta de protesto que enfureceu Bergoglio, no início do último sínodo.
Nos meios de comunicação estadunidenses, esta eleição foi acompanhada como um referendo sobre o Papa Francisco, e havia motivo para isso. Um ano antes, em sua visita aos Estados Unidos, Francisco havia ordenado aos bispos que mudaram de rumo e se posicionaram com ele; e acompanhou suas ordenações com uma série de nomeações próximas ao seu sentir, em primeiro lugar a de Blase J. Cupich como arcebispo de Chicago e cardeal.
Contudo, se houve referendo, Bergoglio o perdeu completamente. Na pré-seleção da nomeação a presidente, de dez candidatos eleitos, apenas um entrou daqueles que lhe agradava entrou. E também as eleições de vice-presidente – dom José H. Gómez, arcebispo de Los Angeles e membro do Opus Dei – e de chefes das comissões foram todas contrárias às expectativas do Papa.
Também na América Latina Bergoglio é pouco amado.
Na Colômbia, os bispos não gostaram, e o fizeram saber, do apoio prejudicial dado por Francisco ao “sim” no referendo para o acordo com os guerrilheiros das FARC. Um acordo que muitos bispos julgaram como um fracasso e que, com efeito, foi rejeitado pelo voto popular.
Na Bolívia, os bispos justamente não suportam a relação tão ostentosamente amistosa entrelaçada entre Bergoglio e o presidente “cocaleiro” Evo Morales, seu acérrimo inimigo, especialmente a partir do momento em que acusaram publicamente as “altas estruturas” do Estado de relações com o narcotráfico.
Na Venezuela, precipitada na catástrofe, entre os bispos há dor e raiva todas as vezes em que o presidente Nicolás Maduro se lança contra eles apelando ao Papa Francisco, gabando-se de seu apoio. E, lamentavelmente, para os bispos as palavras pronunciadas pelo Papa ao comentar a crise venezuelana, durante sua última coletiva de imprensa, no avião, ao retornar do Cairo, soaram muito benévolas ao presidente e malévolas à oposição.
Um análogo sentimento de ser traídos pelo Papa surgiu também entre os bispos da Ucrânia, após o abraço, em Havana, entre Francisco e Cirilo, patriarca de Moscou, visto por aqueles como um enésimo “apoio da Sé Apostólica à agressão russa”.
Isto sem falar da China, onde Francisco continua declarando que “se pode praticar a religião”, ao mesmo tempo em que alguns bispos, e justamente os que mais querem obedecer ao Papa, são perseguidos e encarcerados.
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