Políticas de CT&I
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
Previsão para ciência em 2018 é trágica com PLOA apresentado pelo governo
Caso não ocorram alterações, o orçamento para 2018 será pior que 2017
O Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2018
(PLOA) apresentado pelo governo federal no dia 31 de agosto traz uma
previsão trágica para a ciência e tecnologia nacional. O orçamento
movimentável delineado para 2018, que exclui despesas obrigatórias e
reserva de contingência, é de cerca de R$ 2,7 bilhões para todo o
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Isso significa uma redução de 56% no orçamento que havia sido aprovado
na LOA 2017 para a Pasta, antes do contingenciamento de 44% das verbas.
Nesta quinta-feira o presidente Michel Temer sancionou uma nova meta
fiscal para 2018 e, com base nessa nova meta, há uma expectativa de que o
governo apresente uma nova versão do PLOA até segunda-feira (18).
Espera-se que nesse novo Projeto sejam reinseridas ao menos as dotações
do PAC que foram excluídas na primeira proposta – onde estão as verbas
para projetos de grande porte como o Reator Multipropósito e o Sirius,
de luz síncrotron.
Caso não ocorram alterações, e nem liberação
das verbas contingenciadas, o valor que o MCTIC teve para operar em
2017, de R$3,2 bi, torna-se a referência para o novo teto de 2018, de
acordo com a Emenda Constitucional 95, que limita os gastos públicos
pelos próximos 20 anos. E a grande pergunta será como a ciência e a
tecnologia construída nos últimos anos vai sobreviver 2018 com uma verba
menor do que o minguado orçamento de 2017, o menor da última década.
“A ciência brasileira não viverá em 2018.
Espero que o orçamento seja corrigido, pois isso está afetando órgãos
importantíssimos para a ciência brasileira”, diz o presidente da
Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich.
O cientista afirma que é preocupante o atraso
crescente do Brasil em relação a outros países. “Os cortes
orçamentários estão impedindo o apoio a pesquisas nos hospitais
universitários, na área de segurança pública e também na continuidade de
pesquisas sobre arboviroses – dengue, febre amarela, Chikungunya. São
muitos projetos de pesquisa importantes para o País, que trazem retornos
para a saúde da população e para a economia do País, que estão sendo
paralisados por causa desse corte orçamentário”, alerta.
Segundo ele, é urgente que a verba
contingenciada em 2017 seja liberada e que uma nova proposta
orçamentária seja feita para 2018. “O Congresso precisa entender a
importância da ciência para o País e que o orçamento apresentado pelo
Planejamento para 2018 é impraticável. Isso quer dizer que o orçamento
contingenciado desse ano vira o orçamento do ano que vem. Dessa maneira,
a verba vai reduzindo cada vez mais. Se para cada ano, a base
orçamentária for o orçamento contingenciado do ano anterior, chegaremos,
perigosamente, a zero”.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o
Ministério do Planejamento argumenta que o governo federal “se viu
obrigado a fazer um contingenciamento de recursos” diante de um fraco
desempenho das receitas públicas e em busca de assegurar o cumprimento
das metas fiscais. “Pelas regras orçamentárias vigentes, inclusive por
força da Lei de Responsabilidade Fiscal, sempre que a receita executada
vem abaixo da receita prevista no orçamento, o governo é obrigado a
contingenciar despesas. Como, hoje, mais de 90% do orçamento federal
corresponde a despesas obrigatórias ou não contingenciáveis, resta ao
governo a obrigação de contingenciar os outros menos de 10% que
corresponde a despesas de custeio e a despesas discricionárias (a maior
parte delas diz respeito ao funcionamento da máquina pública)”, declarou
a assessoria da Pasta.
Sobrevivência ameaçada
Nesta quarta-feira, 13, diretores dos
institutos de pesquisa do MCTIC entregaram a parlamentares em Brasília
uma carta na qual afirmam que os contingenciamentos ao orçamento desse
ano e o PLOA 2018 provocarão danos irreparáveis a essas instituições e
impossibilitarão qualquer esperança de recuperação econômica para o
Brasil. De acordo com o documento, os valores atuais do Projeto para o
ano que vem estão muito abaixo do mínimo necessário para sobrevivência
de institutos como o Laboratório Nacional de Computação Científica
(LNCC), Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Centro de Tecnologia
Mineral (CETEM), Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST),
Observatório Nacional (ON), Instituto Nacional de Matemática Pura e
Aplicada (IMPA) e Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). “Os
valores atuais do PLOA 2018 representam uma ameaça à sobrevivência dos
institutos”, observam na carta.
A vice-presidente da SBPC, Vanderlan Bolzani,
destaca que foi graças à ciência construída ao longo dos últimos anos
que o Brasil se tornou um país respeitado mundialmente. “Uma pesquisa
científica que traz tanto retorno necessita de investimentos constantes,
regulares, e nunca menores que os anos anteriores, até porque há um
processo de defasagem de câmbio e inflacionário”, diz.
Conforme observa, com essa estratégia míope
de cortar drasticamente os investimentos para ciência e tecnologia, o
País vai na contramão das nações do bloco em desenvolvimento, que têm
dado um passo à frente para investir em C&T e, dessa forma,
tornarem-se mais fortes no cenário global. “Essa verba destinada à
ciência e tecnologia em 2017 é um retrocesso assustador. Chegar em 2018 e
anunciar um orçamento menor que 2017 é fechar as portas do
desenvolvimento científico e tecnológico que esse País alcançou nos
últimos anos. Isso é trágico para um país que tem uma ciência de
excelente qualidade, reconhecida mundialmente e muito recente”, lamenta a
cientista.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência
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