Um Blog destinado a discutir assuntos de ordem institucional, política, ética, longe do inferno definido nas supostas redes sociais, onde a covardia, a irresponsabilidade, o ressentimento e todas as paixões baixas se manifestam. Aqui, procuro pensar, sem ferir ou humilhar ninguém. Na internet, sobretudo nas mentirosas páginas "sociais", encontramos a besta fera descrita por Platão (Rep.. 588c): θηρίου ποικίλου καὶ πολυκεφάλου. Lúcido Platão!
Flores
Flores
segunda-feira, 8 de maio de 2017
Gazeta Mercantil entrevista Roberto Romano e outros, sobre Lula
CADA VEZ MAIS COMPLICADO NA LAVA JATO, ELE DISPARA NA INTENÇÃO DE VOTO
Política
por
Carlos Vasconcellos e Carolina Sanchez Miranda
Às vésperas de ficar frente à frente com o juiz Sérgio Moro,
acusações contra o ex-presidente se avolumam e ele é denunciado até por
ex-amigos. Apesar disso, lidera com folga as enquetes para 2018. Mas,
afinal, quem não abre mão de votar nele? (Roberto Parizotti/CUT)
De São Paulo e Rio -- Réu em cinco processos e com o
agravamento dos testemunhos contra ele por parte de diretores das
construtoras Odebrecht e OAS, o ex-presidente Lula chega às vésperas de
seu depoimento frente à frente ao juiz Sérgio Moro embalado por uma
surpreendente liderança nas pesquisas eleitorais para 2018 e com números
em alta.
Na pesquisa de potencial de voto feita pelo Ibope na primeira
quinzena de abril, ele obteve 30% da preferência dos eleitores. Além
disso, seu índice de rejeição caiu para 51%, 14 pontos inferior ao
registrado em abril do ano passado, antes do impeachment de Dilma
Rousseff.
A pesquisa do Ibope foi feita antes de Lula aparecer na lista de
políticos envolvidos em atos de corrupção delatados por executivos da
Odebrecht e do depoimento de velhos amigos, como Léo Pinheiro,
ex-presidente da Construtora OAS, que afirmou que Lula mandou que ele
apagasse provas de caixa 2 do PT.
No entanto, mesmo depois disso, o petista confirmou a liderança na
pesquisa de intenção de votos do instituto Datafolha, divulgada no dia
30 de abril, com 31% no primeiro turno, na disputa hipotética com o
senador Aécio Neves (PSDB), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), os
ex-ministros Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) e o presidente
Michel Temer (PMDB). No cenário em que o candidato tucano é o prefeito
de São Paulo, João Doria, Lula lidera com a mesma porcentagem.
Mais recentemente, o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, também
surpreendeu em depoimento a Sérgio Moro, ao afirmar que Lula comandava o
esquema de propinas na estatal e que determinou que todas as provas
sobre contas no exterior fossem apagadas. Léo
Pinheiro, ex-presidente da OAS e amigo de Lula: depoimento compromete
ex-presidente nos casos do tríplex do Guarujá e sítio em Atibaia (Foto:
reprodução TV)Fator militância
Apesar desse resultado parecer contraditório, especialistas ouvidos
pela GME não se surpreendem.O cientista político e professor da PUC Rio,
Ricardo Ismael, observa que o resultado das pesquisas eleitorais
reflete um desapontamento geral com os políticos tradicionais, que afeta
o desempenho de alguns dos principais adversários de Lula. “Ciro Gomes e
os nomes do PSDB e PMDB parecem não encantar o eleitorado”, diz. “Ao
mesmo tempo, Lula é um nome conhecido e tem um eleitorado cativo, o que
faz com que lidere dentro do patamar histórico mínimo do PT na maioria
das eleições”.
Para o sociólogo e cientista político Paulo Baía, “Lula reaglutinou
seu grupo básico de ação, fortaleceu sua base de ação organizada nos
movimentos sociais vinculados ao PT. Esses resultados refletem a força
da militância e, ao mesmo tempo, imagem que o ex-presidente tem como
líder”.
Lula seria favorecido ainda nas pesquisas ao ser associado por parte
das camadas mais pobres ao ciclo de inclusão social e crescimento
econômica durante parte de seus oito anos de mandato.
“Apesar de o círculo virtuoso da economia brasileira ter começado a
partir do Plano Real, Lula foi o que mais se beneficiou dele”, observa
Roberto Romano, professor da Universidade de Campinas (Unicamp). “A
lembrança dele à frente do país resistiu aos erros cometidos por sua
sucessora e resiste à Lava Jato”. Faltam oponentes
A posição do ex-presidente à frente das pesquisas também se explica e
tende a se consolidar – caso tenha condições de se candidatar – porque
não há ainda outra liderança política tão representativa para os
brasileiros, tanto no PT quanto em outros partidos.
“O PT não tem hoje um político que possa substituir Lula. O PSDB tem a
mesma situação difícil. Não tem candidatos possível. Acho que a eleição
do ano que vem vai ser entre o discurso do novo e do igual ao que já
foi feito”, diz Maria Teresa Kerbauy, professora do Departamento de
Ciência Política da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
O cenário, no entanto, é propício para o surgimento de uma nova
liderança, distante da imagem do político tradicional, com força
suficiente para se opor a Lula. “Na pesquisa do Datafolha, foi incluída a
possibilidade de candidatura do Sérgio Moro e ele bateu Lula em uma
simulação de segundo turno (42% a 40%, dentro da margem de erro)”,
aponta Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência. Vale destacar que,
assim como Moro, Marina Silva, da Rede, também bateria Lula no segundo
turno, dentro da margem de erro.
Márcia também aponta a consolidação do perfil eleitoral do
pré-candidato petista nas últimas pesquisas. “Em nossa última pesquisa
de potencial de voto, Lula cresceu nas regiões, faixas de renda e de
escolaridade em que já era mais forte”, diz. No Nordeste, o potencial de
voto do ex-presidente subiu de 52% para 70% em um ano.
Movimentos recentes, como a greve geral de 28 de abril e os protestos
contra as reformas Trabalhista e da Previdência, no entanto, ainda não
se refletem na popularidade de Lula. “As pesquisas mais recentes são
anteriores a isso”, aponta Márcia.
Ricardo Ismael é mais cauteloso. “Uma coisa é a desconfiança da
população quanto as reformas, outra é transformar isso em voto para a
esquerda ou para o PT”, diz. Carência de lideranças
Romano acredita que com o fim da geração de políticos como Ulisses
Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro e Brizola, o Brasil ficou carente
de lideranças nacionais. “As novas não aparecem por causa da estrutura e
da política interna dos partidos. No caso do PT, Lula sempre foi a
preferência como escolha de candidato porque ele sabe captar a simpatia
das massas. Com isso o partido perdeu a capacidade de propor novas
lideranças nacionais. No caso dos tucanos, as lideranças nunca se
projetaram em termos hegemônicos porque é um partido dividido. Serra era
quem tinha maior projeção nacional por seu mandato como ministro da
saúde, mas foi minada pelo Aécio”, comenta.
Baía, por sua vez, chama a atenção para a quantidade de votos nulos e
indecisos. “Vivemos um momento de crise política sem precedentes. As
pessoas não se sentem representadas por quem está no Congresso. Nós
vamos ter mudanças de cenário com muita frequência em função desse
desencanto da população, que tem a consciência política de que é o
principal problema do Brasil é a corrupção e descredencia quem está no
poder”.
Nada disso, no entanto, significa necessariamente favoritismo para o
petista em 2018. “O crescimento de Bolsonaro e o bom desempenho de João
Dória no potencial de voto mostram que há espaço para um rosto novo”,
avalia Márcia. Um salvador da pátria? “Acho que o eleitor está confuso,
quer alguém que resolva a crise e que olhe por ele”. E isso inclui bem
mais do que simplesmente fazer a economia funcionar. “Haverá também um
ingrediente moral muito forte na eleição de 2018, em função dos
escândalos de corrupção”, prevê Márcia. Cenário judicial
Enquanto isso, Lula aguarda o duelo no tribunal contra o juiz Moro.
Uma condenação em primeira instância não seria suficiente para torná-lo
inelegível pela Lei da Ficha Limpa, que exige que o candidato tenha sido
condenado por órgão colegiado. “É difícil que isso aconteça antes do
registro da candidatura, embora o TRF da 4ª Região (responsável pelo Sul
do país) seja mais ágil que o da 3ª Região (Sudeste)”, avalia Alberto
Rollo, vice-presidente da Comissão de Direito Eleitoral e membro da
Comissão da Reforma Política na OAB-SP.
Há quem defenda, porém, que a candidatura de Lula poderia ter o
registro impugnado pelo fato de o petista ter se tornado réu. Isso
aconteceria em função da decisão do STF de considerar que um réu não
pode estar na linha sucessória da Presidência da República, conforme
alegado pela Rede, de Marina Silva, para pedir o afastamento de Eduardo
Cunha da presidência da Câmara dos Deputados.
“A tese faz algum sentido. A ideia é que se um réu não pode estar na
linha sucessória, não pode estar na Presidência”, avalia Rollo. Por
outro lado, também há fortes argumentos do lado contrário. “Certamente
vão dizer, com certa razão, que uma decisão desse teor iria ferir o
princípio de presunção da inocência”. A lei é para todos
Rollo faz questão de ressaltar que a lei vale para todos os
potenciais candidatos. “Os mesmos princípios se aplicariam não apenas a
Lula, mas a Serra, Alckmin e a qualquer outro que venha a ser
investigado e se torne réu”, explica. Na hipótese de uma vitória de Lula
– ou de outro réu – o que aconteceria com os processos contra o futuro
presidente?
“A lei diz que um presidente não pode ser investigado por fatos
prévios a seu mandato, por isso os processos ficariam suspensos, até que
o réu terminasse o mandato”, diz. Nesse caso, o tempo para a prescrição
dos crimes dos quais o réu-presidente é acusado também ficaria
congelado. Por enquanto, a única coisa certa no cenário eleitoral de
2018 é a mais absoluta incerteza. “Essa eleição vai ser a maior caixa
preta da história”, conclui Márcia Cavallari, do Ibope.
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