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domingo, 18 de junho de 2017

Roberto Romano Zero Hora, 16/06/2017 "Falam na democracia brasileira, mas nunca a vejo, só se for embaixo da cama, no penico", diz professor

Crise política

"Falam na democracia brasileira, mas nunca a vejo, só se for embaixo da cama, no penico", diz professor

Em entrevista a ZH, Roberto Romano afirma que nossa frágil democracia ainda guarda traços do absolutismo europeu de 500 anos atrás

Por: Fábio Schaffner
16/06/2017 - 20h00min | Atualizada em 16/06/2017 - 20h00min
Para professor de Ética e Filosofia, a sociedade brasileira é desigual e não democrática Foto: Antoninho Perri / Divulgação   
 
Um dos maiores especialistas em ética no país, Roberto Romano encontra razões históricas para a atual quadra da política brasileira. Para o professor, nossa frágil democracia ainda guarda traços do absolutismo europeu de 500 anos atrás, uma herança nefasta sustentada na prática do compadrio e do uso do Estado para benefícios pessoais.

Passados cinco séculos, a deterioração dos homens públicos espelha, na visão de Romano, uma sociedade ainda desigual, cujos espasmos de inconformismo não são suficientes para conter os desmandos de quem detém o poder. A seguir, uma síntese da entrevista.


Temos algumas das mais altas autoridades da República descumprindo decisões judiciais. Há uma desobediência oficial no país?Esta é a natureza do Estado brasileiro. Quando fomos descobertos, o absolutismo dominava em Portugal, com uma centralização do poder nas mãos do rei, um controle grave da burguesia, do setor econômico e do Parlamento, que era onde eles se reuniam para pedir favores ao rei, mais ou menos como acontece hoje em Brasília. As pessoas acham engraçada a história do Pero Vaz de Caminha, que na Carta do Descobrimento pede um emprego para um parente. Aquilo era a realidade cotidiana. O rei, para poder garantir o seu poder, comprava os nobres e os sacerdotes. Fazia isso distribuindo cargos, subsídios, isenção de impostos. A regra que nos definiu enquanto terra habitada desde 1500 é essa. Quem tem acesso ao cofre, às normas legais e à força física, mente, se recusa a prestar contas e persegue quem se levanta.

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Mais de 500 anos depois, como mudar essa realidade?

É um trabalho muito complicado, de mudança de natureza do Estado. Temos de chegar ao mínimo da democracia. Falam na democracia brasileira, mas nunca a vejo, só se for embaixo da cama, no penico. Quando o Renan (Calheiros) se recusa a receber um oficial de Justiça, está dizendo que é superior. O mesmo acontece quando o presidente da República se diz injuriado por perguntas feitas por policiais federais.

O foro privilegiado estimula esse comportamento?Quando falam em prerrogativa de foro, vem a desculpa vagabunda de muitos colegas meus, de juristas, de que é para evitar uma enxurrada de processos. Ora, não quer receber processos, não quer entrar num campo de luta, fica em casa tomando cerveja e comendo churrasco. A vida pública é de tensões e interesses contrariados. Se você entrou no jogo, tem de prestar contas. Aqui, desde um vereador mais insignificante até o Michel Temer se julgam superiores ao povo. Me admira muito que o Ministério Público, que se diz democrático, aceite uma coisa dessas.

Depois de tantos escândalos de corrupção, dois presidentes alvo de impeachments, a Lava-Jato prendendo políticos e empresários, agora não era hora da guinada ética no país?Durante o século 19 inteiro, ideias liberais foram esmagadas pela força física do poder central. Mantiveram a unidade nacional, mas estabeleceu-se o princípio de que o operador do Estado é superior à cidadania. Essa é a longa tradição das nossas autoridades. Não passamos pelas inovações trazidas pelas revoluções modernas, como a accountability (prestação de contas). É muito difícil modificar 500 anos de contrarrevolução. Toda vez que um colega começa aquela conversinha de que as instituições estão funcionando normalmente, vou ao banheiro e vomito.

Os protestos de 2013 e, depois, as manifestações pelo impeachment mostram uma sociedade civil mobilizada. Agora parece que há uma anestesia geral no povo. O que está acontecendo?O problema é que temos uma sociedade desigual, não democrática, que espelha perfeitamente o Estado Brasileiro. Uma das suas características é a prática do favor. Isso há no mundo inteiro, mas você tem obstáculos à universalização absoluta do favor. O político brasileiro faz favor para si, para sua família, seus amigos e inimigos, porque ele vai cobrar esse favor mais adiante. Vivemos sempre dessa rede de favores e privilégios. Nos Estados Unidos, quando você briga com alguém, a pessoa pergunta: quem diabo você pensa que é?. Aqui, é "com quem você pensa que está falando?".

Não há esperança de mudança com uma nova geração de políticos?Esses dias, vi o Temer na TV. Atrás dele estava o José Sarney. É muito sintomático que um governante do estilo do Sarney, que impôs seu ferrete à população do Maranhão, esteja patrocinando esse governo, como ajudou a segurar o governo do Lula. Há uma falta de lideranças no mundo inteiro. Veja quem são: Trump, Putin. Aqui, é de rir e chorar ao mesmo tempo. Quais lideranças nós temos? Ciro Gomes, com sua fala debochada e agressiva se colocando no papel de juiz do bem e do mal, que é de centro, de direita, de esquerda e de alto? Geraldo Alckmin e João Doria querem deixar Temer no poder para possibilitar que um deles ganhe as eleições em 2018. O Estado que se dane, a economia que arrebente, queremos é ficar no palácio. As outras lideranças atingem, no máximo, o plano regional. Como conduzir partidos democraticamente se não temos lideranças democráticas?

Sem essas lideranças, é possível projetar um futuro melhor?A massa de 2013 teve um calor enorme, mas não aproveitamos essa energia para mudanças no Estado. Estamos naquela situação, no meio do mar revolto, sem pessoas sábias nem gabaritadas. Se você escapou da tempestade, não sabe se é por gambiarra ou acaso. Estamos soçobrando. Mas não sou um desiludido. Só na eternidade não há mudança. No tempo e na história, é sempre possível mudar.
 
 
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Roberto Carlos de Almeida ·
Este país é uma mentira.
ao cidadão de bem (ainda existem muitos) que paga imposto, só resta se esconder e, implorar a Deus que o ajude.
Já não critico os fanáticos religiosos, pois a partir de uma certa idade, ou a pessoa vira religioso ao extremo ou enlouquece.
No Brasil o cidadão não pode ter armas para defender-se, mas a bandidagem usa até dinamite para explodir bancos e carros fortes.
Nas grandes cidades existem áreas onde a polícia não entra e, a comunidade que vive nessas áreas é obrigada a dar bom dia a traficante, nas áreas históricas de todas as capitais, estão tomadas por drogado
...See More
Vanderlei Luiz Zarpellon ·
temos mais é que parabenizar o PROFESSOR !!
Like · Reply · 23 hrs
Rui Telmo Fontoura Ferreira ·
Existe soluções práticas: 1º - Humanizar à Nação! 2º - Educar com a verdade e a realidade; 3º - Afastar a mentira e a ilusão para "dentro do pinico." 4º - Investir no Homem como princípio, meio e fim; 5º - Usar todos os meios de produção à serviço da qualidade de vida e não a "farsa conceituação desenvolvimentista para o bolso de poucos e a escravidão de muitos." 6º - Um NÃO ao Comunismo, um NÃO ao Capitalismo e um SIM para um sistema harmônico "Homem e Natureza." Cordialmente, RT
Antonio Carlos Menezes Reis Reis ·
As elites brasileiras não gostam de democracia ainda preservam o coronelismo de 500 anos a trás. Mas quem sofre mesmo com isso a classe mais pobre do país.
Hudson Ferguson
A condição minima para a democracia ser exercida é a necessidade de um povo educado,não é nosso caso. Somos um misto de Venezuela cm Cuba,lá também juram ser democratas,sabemos onde isso vai dar.Chegamos ao descalabro da necessidade urgente de novos presidios,onde a democracia funciona constroem escolas.Tem toda a razão o professor,só se estiver no penico debaixo da cama.
Roberto Carlos de Almeida ·
APENAS ESCLARECENDO, NESTE PAÍS SÓ NÃO PAGA IMPOSTO DE RENDA O ÍNDIO QUE VIVE NA AMAZÔNIA LONGE DE TUDO, MAS ATÉ MESMO ESTE ÍNDIO SE VIER A COMPRAR UMA CUECA, VAI PAGAR IMPOSTO.
PAÍS DE M.................
John Bygod
O que se tem nesta republiqueta bananeira é uma CLEPTOCRACIA, comandada por cangaceiros com mandato parlamentar e financiados por pseudo-empresários canalhas que odeiam concorrência e mamam nas tetas dos governos.

Democracia que se preze não impõe voto obrigatório;

Democracia que se preze não permite propaganda estatal na mídia, como forma de silenciá-la;

Democracia que se preze não tolera a existência de cidadãos de 1ª classe, de 2ª classe e de 3ª classe, como no Brasil.

Numa verdadeira DEMOCRACIA, o Estado não teria sido capturado por patifes e por corporações, como ocorreu no Brasil !
 
 
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Roberto Carlos de Almeida ·
Este país é uma mentira.
ao cidadão de bem (ainda existem muitos) que paga imposto, só resta se esconder e, implorar a Deus que o ajude.
Já não critico os fanáticos religiosos, pois a partir de uma certa idade, ou a pessoa vira religioso ao extremo ou enlouquece.
No Brasil o cidadão não pode ter armas para defender-se, mas a bandidagem usa até dinamite para explodir bancos e carros fortes.
Nas grandes cidades existem áreas onde a polícia não entra e, a comunidade que vive nessas áreas é obrigada a dar bom dia a traficante, nas áreas históricas de todas as capitais, estão tomadas por drogado
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Vanderlei Luiz Zarpellon ·
temos mais é que parabenizar o PROFESSOR !!
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Rui Telmo Fontoura Ferreira ·
Existe soluções práticas: 1º - Humanizar à Nação! 2º - Educar com a verdade e a realidade; 3º - Afastar a mentira e a ilusão para "dentro do pinico." 4º - Investir no Homem como princípio, meio e fim; 5º - Usar todos os meios de produção à serviço da qualidade de vida e não a "farsa conceituação desenvolvimentista para o bolso de poucos e a escravidão de muitos." 6º - Um NÃO ao Comunismo, um NÃO ao Capitalismo e um SIM para um sistema harmônico "Homem e Natureza." Cordialmente, RT
Antonio Carlos Menezes Reis Reis ·
As elites brasileiras não gostam de democracia ainda preservam o coronelismo de 500 anos a trás. Mas quem sofre mesmo com isso a classe mais pobre do país.
Hudson Ferguson
A condição minima para a democracia ser exercida é a necessidade de um povo educado,não é nosso caso. Somos um misto de Venezuela cm Cuba,lá também juram ser democratas,sabemos onde isso vai dar.Chegamos ao descalabro da necessidade urgente de novos presidios,onde a democracia funciona constroem escolas.Tem toda a razão o professor,só se estiver no penico debaixo da cama.
Roberto Carlos de Almeida ·
APENAS ESCLARECENDO, NESTE PAÍS SÓ NÃO PAGA IMPOSTO DE RENDA O ÍNDIO QUE VIVE NA AMAZÔNIA LONGE DE TUDO, MAS ATÉ MESMO ESTE ÍNDIO SE VIER A COMPRAR UMA CUECA, VAI PAGAR IMPOSTO.
PAÍS DE M.................
John BygodO que se tem nesta republiqueta bananeira é uma CLEPTOCRACIA, comandada por cangaceiros com mandato parlamentar e financiados por pseudo-empresários canalhas que odeiam concorrência e mamam nas tetas dos governos.

Democracia que se preze não impõe voto obrigatório;

Democracia que se preze não permite propaganda estatal na mídia, como forma de silenciá-la;

Democracia que se preze não tolera a existência de cidadãos de 1ª classe, de 2ª classe e de 3ª classe, como no Brasil.

Numa verdadeira DEMOCRACIA, o Estado não teria sido capturado por patifes e por corporações, como ocorreu no Brasil !

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