Doria aproveita eventos do Lide para marcar presença em eventos pelo País
Desde que assumiu a Prefeitura, tucano já participou de cinco encontros promovidos pela organização que tem 18 unidades no País
Adriana Ferraz e Pedro
Venceslau,
O Estado de S. Paulo
20 Agosto 2017 | 05h00
20 Agosto 2017 | 05h00
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), tem
aproveitado os eventos promovidos pelo Lide, grupo empresarial criado
por ele em 2003, para compor sua agenda de viagens nacionais e
internacionais de olho na disputa presidencial de 2018. Com uma lista de
filiados que juntos respondem por 46% do PIB brasileiro, como o próprio
tucano costuma dizer, a organização conhecida por reunir empresários e
políticos já o recebeu em cinco eventos oficiais desde 1º janeiro. No
último, no Recife, anteontem, o encontro homenageou Doria diante de uma
plateia lotada e atraiu a mídia local – ele concedeu uma entrevista
coletiva.
Doria não é mais sócio do Lide. O dono e 'chefe' da
organização privada hoje é o filho mais velho dele, João Doria Neto. A
presença do tucano, no entanto, é agora cada vez mais valiosa, seja para
atrair visitantes, seja para definir datas e convidados. O Lide de
Goiás, por exemplo, ainda não decidiu quando promoverá seu próximo
fórum – sobre segurança pública – porque aguarda uma resposta de Doria
sobre sua participação no evento, previsto para outubro. O tema já foi
abordado pelo prefeito e pelo Lide em fevereiro, diante do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O Lide chegou a oferecer a empresários filiados cotas de patrocínio no valor de R$ 50 mil para um almoço-debate em São Paulo, com palestra de Doria, em março. Os pagantes poderiam até se sentar à mesa com o prefeito. Com a polêmica criada entorno do custo e da relação entre o público e o privado, o tucano cancelou sua apresentação, mas compareceu para ouvir o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que acabou virando a estrela da festa
No mês seguinte, em abril, apesar de não configurar na lista de palestrantes, Doria também marcou presença no 16º Fórum Empresarial de Foz do Iguaçu, que teve entre os convidados o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o ministro da Educação, Mendonça Filho (PP-PR); e Ives Gandra Filho, presidente do Tribunal Superior do Trabalho.
De lá para cá, outras duas participações em eventos do Lide ocuparam a agenda de Doria. Uma delas foi cumprida no mês de maio em Nova York com Alckmin, desta vez, como homenageado. A última, no Recife.
Mas, mesmo quando o evento do qual Doria é convidado não tem a bandeira do Lide, o roteiro é o mesmo. Na sexta-feira, por exemplo, antes de desembarcar em Pernambuco, Doria passou por Fortaleza e foi homenageado em um almoço com empresários organizado pela Federação das Indústrias do Ceará em parceria com o Lide Ceará.
Em todos os eventos fora da capital, sejam do Lide, sejam de outras instituições, o prefeito paulistano tem adotado o mesmo discurso nacional, firmado sua posição anti-Lula e ampliado sua cartela de contatos em busca de potenciais aliados. Os admiradores mais animados aproveitam a deixa para puxar o coro de “Doria presidente”, como em Natal, na quarta-feira passada.
“Não somos partidários, não fazemos campanha para ninguém. Essa, aliás, não é a orientação do João (Doria) nem do Lide, que é passado na vida dele. Mas é inegável que hoje qualquer evento com o João ganha uma conotação política”, afirmou o presidente do Lide Pernambuco, Drayton Nejaim, organizador da homenagem de sexta. “Já queríamos dar esse prêmio a ele desde o ano passado, mas só agora houve uma data possível.” Em uma espécie de caravana nacional, o tucano ainda visitou, semana passada, Palmas, no Tocantins; além de Natal, Fortaleza e Recife.
No limite. Para o professor de Ética Política da Unicamp Roberto Romano, Doria está atuando em uma zona cinzenta, quase ultrapassando os limites da lei eleitoral. “Ao participar desse tipo de encontro pelo País afora, o prefeito continua usando da mesma tática que o projetou junto às elites empresariais e políticas. Mas agora ele exerce um cargo público, o que deixa as coisas mais complicadas. Quando se caminha no limite entre o ético e o não ético, entre o legal e o ilegal, o melhor caminho é a prudência”, afirma.
Romano ressalta que o mesmo cuidado vale para outros cotados à Presidência, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o governador Geraldo Alckmin, que, assim como Doria, exercem cargos públicos e agendam viagens pelo País. No caso de Lula e Ciro Gomes (PDT-CE), a regra também vale, mas os dois atualmente não têm mandatos.
Líder do PT na Câmara Municipal, o vereador Antonio Donato diz que o partido prepara uma representação ao Ministério Público na qual questionarão as viagens do tucano e pedirão instauração de inquérito por improbidade administrativa. Sobre a participação do prefeito em encontros do Lide, o petista diz que atitudes como essa mostram que ele continua em campanha. "E para isso mistura sua atividade empresarial com a política. Temos visto que essa promiscuidade não é boa para o País."
Em nota, a gestão Doria afirmou não haver qualquer conflito de interesses no fato de o prefeito participar de um evento para acompanhar palestra de pessoas de destaque do cenário nacional. "Quanto ao evento do Recife, tratou-se de uma homenagem oferecida por empresários que se relacionam com o prefeito."
Atual presidente do Lide, Gustavo Ene afirma que o grupo não realiza encontros pelo País para promover Doria e ressalta que parte desses eventos é organizada pelas unidades estaduais, que são autônomas.
O Lide chegou a oferecer a empresários filiados cotas de patrocínio no valor de R$ 50 mil para um almoço-debate em São Paulo, com palestra de Doria, em março. Os pagantes poderiam até se sentar à mesa com o prefeito. Com a polêmica criada entorno do custo e da relação entre o público e o privado, o tucano cancelou sua apresentação, mas compareceu para ouvir o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que acabou virando a estrela da festa
No mês seguinte, em abril, apesar de não configurar na lista de palestrantes, Doria também marcou presença no 16º Fórum Empresarial de Foz do Iguaçu, que teve entre os convidados o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o ministro da Educação, Mendonça Filho (PP-PR); e Ives Gandra Filho, presidente do Tribunal Superior do Trabalho.
De lá para cá, outras duas participações em eventos do Lide ocuparam a agenda de Doria. Uma delas foi cumprida no mês de maio em Nova York com Alckmin, desta vez, como homenageado. A última, no Recife.
Mas, mesmo quando o evento do qual Doria é convidado não tem a bandeira do Lide, o roteiro é o mesmo. Na sexta-feira, por exemplo, antes de desembarcar em Pernambuco, Doria passou por Fortaleza e foi homenageado em um almoço com empresários organizado pela Federação das Indústrias do Ceará em parceria com o Lide Ceará.
Em todos os eventos fora da capital, sejam do Lide, sejam de outras instituições, o prefeito paulistano tem adotado o mesmo discurso nacional, firmado sua posição anti-Lula e ampliado sua cartela de contatos em busca de potenciais aliados. Os admiradores mais animados aproveitam a deixa para puxar o coro de “Doria presidente”, como em Natal, na quarta-feira passada.
“Não somos partidários, não fazemos campanha para ninguém. Essa, aliás, não é a orientação do João (Doria) nem do Lide, que é passado na vida dele. Mas é inegável que hoje qualquer evento com o João ganha uma conotação política”, afirmou o presidente do Lide Pernambuco, Drayton Nejaim, organizador da homenagem de sexta. “Já queríamos dar esse prêmio a ele desde o ano passado, mas só agora houve uma data possível.” Em uma espécie de caravana nacional, o tucano ainda visitou, semana passada, Palmas, no Tocantins; além de Natal, Fortaleza e Recife.
No limite. Para o professor de Ética Política da Unicamp Roberto Romano, Doria está atuando em uma zona cinzenta, quase ultrapassando os limites da lei eleitoral. “Ao participar desse tipo de encontro pelo País afora, o prefeito continua usando da mesma tática que o projetou junto às elites empresariais e políticas. Mas agora ele exerce um cargo público, o que deixa as coisas mais complicadas. Quando se caminha no limite entre o ético e o não ético, entre o legal e o ilegal, o melhor caminho é a prudência”, afirma.
Romano ressalta que o mesmo cuidado vale para outros cotados à Presidência, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o governador Geraldo Alckmin, que, assim como Doria, exercem cargos públicos e agendam viagens pelo País. No caso de Lula e Ciro Gomes (PDT-CE), a regra também vale, mas os dois atualmente não têm mandatos.
Líder do PT na Câmara Municipal, o vereador Antonio Donato diz que o partido prepara uma representação ao Ministério Público na qual questionarão as viagens do tucano e pedirão instauração de inquérito por improbidade administrativa. Sobre a participação do prefeito em encontros do Lide, o petista diz que atitudes como essa mostram que ele continua em campanha. "E para isso mistura sua atividade empresarial com a política. Temos visto que essa promiscuidade não é boa para o País."
Em nota, a gestão Doria afirmou não haver qualquer conflito de interesses no fato de o prefeito participar de um evento para acompanhar palestra de pessoas de destaque do cenário nacional. "Quanto ao evento do Recife, tratou-se de uma homenagem oferecida por empresários que se relacionam com o prefeito."
Atual presidente do Lide, Gustavo Ene afirma que o grupo não realiza encontros pelo País para promover Doria e ressalta que parte desses eventos é organizada pelas unidades estaduais, que são autônomas.
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