Todos perderam na votação até o vencedor Michel Temer
Presidente
viu cem aliados desertarem e ficou ainda mais refém dos deputados no
futuro. Infiel, PSDB perderá ministros. PT percebeu que é uma força
parlamentar secundária
Académicos
e economistas avaliam que Michel Temer, do PMDB, saiu enfraquecido da
votação na madrugada de ontem na Câmara de Deputados. Apesar de o
parlamento ter rejeitado o pedido para que o presidente do Brasil fosse
investigado por corrupção passiva, o resultado final - 263 votos a seu
favor, 227 contra e 21 ausências ou abstenções - mostra que o governo
está a perder força legislativa e com isso capacidade de aprovar as
reformas que o mercado financeiro lhe exige. Se Temer, que após a
votação até fez um sorridente discurso de vitória, perdeu, imagine-se o
indeciso PSDB e o oposicionista PT.
"Temer
está ainda mais fraco, não bastava ganhar a votação mas ter uma vitória
expressiva para mostrar ao mercado força legislativa para garantir a
aprovação dos projetos em andamento, como a reforma da Segurança
Social", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o professor de Filosofia
Roberto Romano. "Os empresários só vão investir no país se essas
reformas se realizarem. Até lá, inflação, défice e endividamento devem
subir e o governo corre o risco de ter de desacelerar a economia,
aumentando tributos para cumprir a meta orçamental", acrescentou o
economista Álvaro Bandeira.
Do
ponto de vista político, o colunista do mesmo O Estado de S. Paulo João
Domingos defende que se é verdade que Temer salvou o mandato "ficou
ainda mais refém do Congresso". "A vitória de Temer só prorroga a crise,
a não abertura do processo contra o presidente não é garantia de
estabilidade para se votarem as reformas", escreve O Globo em editorial.
De facto, embora no tal discurso de vitória Temer tenha criticado quem
tenta "dividir os brasileiros", até no seu partido houve divisões: seis
deputados do PMDB votaram a favor da continuação das investigações (ver
caixa). No total, mais de cem deputados da base aliada do governo
traíram Temer.
Com
destaque para o até ontem maior parceiro do PMDB no Palácio do
Planalto, o PSDB, que registou 22 votos a favor do governo, 21 contra e
quatro abstenções. "O PSDB fez um papel ridículo desde o início do
escândalo da gravação, primeiro porque envolveu o seu presidente Aécio
Neves de maneira tão cabal como Temer, e porque a partir daí foi incapaz
de tomar qualquer decisão." Os partidos mais leais ao presidente exigem
agora os quatro ministérios hoje nas mãos do PSDB.
Para
concluir o ciclo de maiores partidos do Brasil, o PT de Lula da Silva
também se rendeu à realidade: depois de não conseguir convencer um terço
dos deputados a votar contra o impeachment de Dilma Rousseff em 2016,
foi incapaz de liderar a oposição na votação de ontem. Com cada vez
menos influência parlamentar, ainda viu os partidos à sua esquerda
acusá-lo de fazer jogo duplo. "Convém-lhes eleitoralmente que o Temer
sangre no poder até às eleições de 2018", defendeu Luciana Genro, a
candidata do PSOL às últimas presidenciais. Lula, a propósito, já disse
que a prioridade do seu partido em 2018 é criar blocos fortes tanto na
Câmara dos Deputados como no Senado onde, afirmou, "tudo se decide".
Apesar
das divergências na oposição, apenas um deputado contrário ao governo
votou a favor de Temer - Roberto Góes, do PDT. Já na base aliada, além
do PSDB, mais quatro partidos com cargos governamentais dividiram os
votos e em quase todos - são 15 - houve registo de deserções, ausências
ou abstenções. Um problema para Temer que terá de enfrentar a própria
impopularidade (só 5% de aprovação), novas denúncias do Ministério
Público, eventual delação de ex-aliados presos e, mal acabe o mandato, o
juiz Sergio Moro, que vai investigar as acusações ontem suspensas mas
não arquivadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.