Um Blog destinado a discutir assuntos de ordem institucional, política, ética, longe do inferno definido nas supostas redes sociais, onde a covardia, a irresponsabilidade, o ressentimento e todas as paixões baixas se manifestam. Aqui, procuro pensar, sem ferir ou humilhar ninguém. Na internet, sobretudo nas mentirosas páginas "sociais", encontramos a besta fera descrita por Platão (Rep.. 588c): θηρίου ποικίλου καὶ πολυκεφάλου. Lúcido Platão!
Flores
Flores
terça-feira, 6 de março de 2018
Peter Schulz Jornal da Unicamp
Peter Schulz foi professor do Instituto de Física "Gleb Wataghin"
(IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente é professor titular da
Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira. Além de
artigos em periódicos especializados em Física e Cienciometria,
dedica-se à divulgação científica e ao estudo de aspectos da
interdisciplinaridade. Publicou o livro “A encruzilhada da
nanotecnologia – inovação, tecnologia e riscos” (Vieira & Lent,
2009) e foi curador da exposição “Tão longe, tão perto – as
telecomunicações e a sociedade”, no Museu de Arte Brasileira – FAAP, São
Paulo (2010).
Anonímia no mundo acadêmico significa poder. É o que argumenta Robin Warhol-Down no curioso ensaio Academics anonymous: a meditation on anonymity, Power and Powerlessness, publicado na revista Symploké,
volume 16, de 2008. O volume é dedicado exatamente à anonimidade, sendo
que a revista busca promover o entrelaçamento da erudição (scholarship) cultural, literária e teórica (http://www.symploke.org/).
O poder em questão é do revisor, o anônimo parecerista de artigos e
projetos. Warhol-Down compara o papel da anonímia na academia com a dos
Alcóolicos Anônimos, onde a anonímia teria outro papel: empoderar
coletivamente os que não têm poder.
No espírito dos A.A. bem conhecidos, Acadêmicos Anônimos [I] é também o nome de uma seção do Higher Education Network [II] do jornal inglês The Guardian.
É um blog seriado onde “acadêmicos contam como são as coisas de fato”,
numa tradução livre da chamada. Existe desde 2014 e os leitores são
convidados a contribuírem (anonimamente, claro) com relatos de suas
experiências no universo do ensino superior. O editor também faz
seleções do tipo “os dez mais” do ano. Na seleção de 2016 temos um
artigo interessante com o sugestivo título “Estudantes! Seus docentes
estão em greve porque estão lutando para sobreviver”. É interessante
porque fala de uma greve há dois anos, mas o relato mais recente, agora
em março de 2018, é sobre uma nova greve de docentes no Reino Unido em
protesto contra uma reforma da previdência que precariza as
aposentadorias dos docentes universitários. O artigo no A.A. é sobre o
apoio dos estudantes à greve: “Meus estudantes apoiam nossa greve – eles
não querem ser consumidores passivos”. Foto
de manifestação estudantil em apoio a docentes no centro de Londres:
imagem ilustra seção “Academics Anonymous”, do jornal inglês “The
Guardian”A
contribuição anônima da semana anterior intitula-se “lecionar em uma
universidade do Reino Unido começa a se parecer com trabalhar para um
negócio” e a de duas semanas atrás fala sobre “a cultura orientada para a
performance está arruinando a pesquisa científica”. Com tantos títulos
sugestivos eu fico com este, pois o(a) autor(a), um(a) pesquisador(a)
que uma década após ouvir pela primeira vez sobre “fator de impacto”,
declara que “métricas como essas acabaram dominando o meu trabalho e no
fim me levaram a abandonar meu emprego acadêmico permanente e ir para a
indústria”. Vale a pena ler seus receios sobre os possíveis efeitos de
uma cultura de indicadores chave de desempenho (KPI) sobre a pesquisa
científica. Tal cultura, segundo ele(a), significaria que o trabalho
científico “cuidadoso, meticuloso e incremental seria crescentemente
visto como um anátema na academia, principalmente para aqueles em
estágios iniciais da carreira”. Ele(a) ilustra sua tese com uma anedota,
daquelas que, se não são verdade, são bem contadas. É sobre a
governança Britânica na Índia. “Em Deli, oficiais estavam preocupados
com o grande número de cobras. Para reduzir sua população, pessoas eram
pagas por cada cobra morta. Quando os administradores se deram conta que
algumas pessoas começaram a criar cobras para matar e cobrar a
recompensa, o esquema de pagamento foi interrompido. Com isso as cobras
criadas foram soltas, causando uma explosão de sua população.”
Voltando um pouco no tempo, um
dos relatos publicados no ano passado (outubro) é sobre tema recorrente
pelos cafés das nossas universidades: “Estudantes trapaceiam de modos
cada vez mais criativos: como acadêmicos podem detê-los”. A linha fina
do texto chama a atenção de que pouco irá mudar enquanto os estudantes
se sentirem trapaceados pelo sistema. Por lá, um trabalho de conclusão
de curso custa 3 mil libras, enquanto que um trabalho final de
disciplina sai por 150.
Sobre inclusão (agosto de 2017):
“Como terminar o doutorado sendo um estudante da classe trabalhadora e
não se sentindo pertencente?” (à classe de doutores).
Lá e cá percebemos problemas parecidos.
Além dos acadêmicos anônimos, outras seções do Higher Education Network
merecem também uma visita, incluindo uma dedicada a ensaios
fotográficos “Pictures and interatives”. Vejam o ensaio “Vida de um
estudante de doutorado - em imagens” ou ainda “Estudantes em todo mundo
lutam contra a comercialização de universidades – em imagens”. Em outro
canto do portal aparece a “Esquina de Occam” [III] de colunistas e blogueiros “escrevendo sobre ciência, ceticismo, política e a vida científica”.
Por aqui eu chamo a atenção de dois sítios, o Jeduca (http://jeduca.org.br/) da Associação de Jornalistas da Educação, que, claro, é sobre educação em todos os níveis. E não percam o Direto da Ciência (www.diretodaciencia.com) do incansável Maurício Tuffani. Quanto aos blogs, podemos ir para um ponto mais próximo ainda, o Portal da Unicampe a faixa de divulgação científica com os blogs de ciência da casa [IV]. Mas esses ainda não esgotam os assuntos e nem as fontes. Sempre tem mais, procurem.
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