Agenda de ministro privilegia ruralistas e alvos da Lava Jato
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Em 55 dias, Serraglio teve cem audiências políticos e nenhum encontro com representantes indígenas |
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Ligado ao agronegócio, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), teve sua agenda dominada por ruralistas e alvos da Lava Jato em seus 55 dias de mandato.
Foram cem audiências com integrantes da Frente Parlamentar da
Agropecuária e com políticos investigados. Não houve nenhum encontro com
representantes indígenas.
Além de ter a Funai (Fundação Nacional do Índio) como subordinada, a
pasta tem papel decisivo no processo de demarcação de terras,
reivindicação que se intensificou no governo de Michel Temer e tem provocado conflitos nas últimas semanas. Os ruralistas são adversários históricos dos índios em conflitos agrários.
Segundo levantamento feito pela Folha, dos 305 encontros oficiais
marcados, 82 foram com ruralistas e 18 foram com deputados e senadores
que entraram na lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no
Supremo.
Na última terça (25), quando policiais e índios entraram em confronto
durante protesto em frente ao Congresso, Serraglio recebeu dois
ruralistas, segundo sua agenda, além do senador Fernando Collor
(PTC-AL), um dos alvos do Ministério Público.
Os manifestantes pediam a retomada das demarcações de terras indígenas e a saída do peemedebista do cargo.
Poucos minutos depois de o conflito acabar, o ministro chegou a ir à
Câmara para se encontrar com deputados da bancada ruralista.
Na quinta (27), lideranças indígenas foram ao Ministério da Justiça
entregar suas reivindicações. A assessoria da pasta afirmou que
Serraglio e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) estavam lá para
receber os representantes, que recusaram o encontro.
"Não vamos sentar nem com Padilha nem com o ministro da Justiça. Eles
queriam nos dar cafezinho e água. Não queremos cafezinho, mas sim a
demarcação das terras. Não vamos legitimar um governo que está
massacrando nosso povo. Esse ministro da Justiça age em nome dos
ruralistas", disse Kretã Kaingang, integrante da Articulação dos Povos
Indígenas da Região Sul (Arpin).
No Dia do Índio, 19 de abril, Serraglio teve 11 compromissos, dos quais cinco foram com ruralistas.
Em entrevista à Folha logo que assumiu, o ministro criticou
indigenistas e disse que os envolvidos em conflitos no campo deveriam
parar com a discussão sobre terras, que segundo ele "não enche barriga de ninguém".
Cerca de 30% das doações de campanha de Serraglio em 2014 foram de
empresas ligadas ao campo. Ele foi relator da PEC 215, uma proposta de
emenda à Constituição que altera o sistema de demarcação de terras
indígenas.
OUTRO LADO
A assessoria de Serraglio disse que "não houve solicitação de lideranças
indígenas para audiências com o ministro", mas que "vários grupos foram
atendidos pela Assessoria Especial do Ministério da Justiça e pela
Funai".
A pasta disse ainda que Serraglio trata "constantemente" com o
presidente da Funai sobre os assuntos debatidos com as lideranças
indígenas.
O ministro respondeu que os encontros com ruralistas "são relativos a
diversos temas, como pleitos de doações de equipamentos, destinação de
emendas parlamentares para a área de segurança, convênio com a Força
Nacional, construção de presídios (...), entre outros. Os pleitos que
são exequíveis estão ou serão atendidos".
Serraglio afirmou também que "jamais houve qualquer tratativa a respeito [da Operação Lava Jato]".
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