02 Maio 2017
Um grupo Gamela acabou brutalmente atacado na tarde desse domingo (30) no Povoado de Bahias, município de Viana
no Maranhão. Os indígenas decidiram se retirar de uma área tradicional
retomada e, enquanto saíam, sofreram uma investida de dezenas de homens
armados de facões, paus e armas de fogo. Pouco puderam fazer em defesa
própria a não ser correr para a mata. Um carro de polícia estava junto
ao grupo de fazendeiros e capangas antes da ação violenta.
A informação é publicada por por Congresso em Foco, 01-05-2017.
Pelo menos cinco indígenas feridos em estado grave foram internados no hospital Socorrão 2, Cidade Operária, na capital São Luís. Um deles levou dois tiros. Além disso, um teve as mãos retiradas a golpes de facão, na altura do punho, e outro, além das mãos, teve os joelhos cortados nas articulações. Os dois ainda permanecem internados em estado grave. Outros 13 foram feridos com golpes de facão e pauladas. Os dados ainda são parciais. Vários outros indígenas estão feridos.
Pelo menos cinco indígenas feridos em estado grave foram internados no hospital Socorrão 2, Cidade Operária, na capital São Luís. Um deles levou dois tiros. Além disso, um teve as mãos retiradas a golpes de facão, na altura do punho, e outro, além das mãos, teve os joelhos cortados nas articulações. Os dois ainda permanecem internados em estado grave. Outros 13 foram feridos com golpes de facão e pauladas. Os dados ainda são parciais. Vários outros indígenas estão feridos.
Em alguns casos, há índios com ferimentos mais severos. Não há
confirmação de óbitos. As vítimas estão recebendo os cuidados médicos
nos hospitais de Viana, Matinha, Olinda Nova do Maranhão e Penalva – para onde foram levados.
“Estavam bêbados. Já tínhamos nos retirado da casa, estávamos tomando
o caminho de volta. Chegaram atirando e dando com pau e facão. Foi
muito rápido, muito rápido”, diz um indígena ouvido pela equipe de
comunicação do Cimi (os nomes foram omitidos por se tratam de
testemunhas da agressão). Com dedos fraturados e a cabeça atingida
possivelmente por um facão, o Gamela estava ao lado de um outro indígena também com ferimentos no rosto e no braço.
No momento do ataque, de acordo com os Gamela, a Polícia Militar estava no local e não interveio. Por volta das 20h30, o delegado Mário, de plantão da Delegacia Regional da Polícia Civil de Viana, afirmou por telefone à equipe do Cimi que não sabia ao certo o número de feridos Gamela por entender que na região eles não são vistos como indígenas.
No momento do ataque, de acordo com os Gamela, a Polícia Militar estava no local e não interveio. Por volta das 20h30, o delegado Mário, de plantão da Delegacia Regional da Polícia Civil de Viana, afirmou por telefone à equipe do Cimi que não sabia ao certo o número de feridos Gamela por entender que na região eles não são vistos como indígenas.
“Tem uma questão aqui, que eles (Gamela) não são aceitos pela
população local como sendo indígenas. Tem uma grande questão aqui sobre
isso, eu mesmo não sei se eles são indígenas ou não são, até agora a
gente não sabe, entendeu?”, disse o delegado. O Governo do Estado foi
informado do ataque contra os Gamelas por intermédio da Secretaria Estadual de Direitos Humanos.
Esse, no entanto, não é um caso isolado na região. Em 2015, um ataque
a tiros foi realizado contra uma área retomada. Em 26 de agosto de
2016, três homens armados e trajando coletes à prova de bala invadiram
outra área e foram expulsos pelos Gamela, que mesmo sob a mira de armas
de fogo os afastaram da comunidade.
Ação premeditada
De acordo com farto material público divulgado em redes sociais e mídia, apoiadores do povo Gamela
e as lideranças indígenas afirmam que o ataque foi premeditado.
“Fazendeiros e gente até de fora aqui da região passaram o dia reunidos,
fazendo churrasco e bebendo. O encontro foi convocado dias antes, logo
após a nossa última retomada”, diz uma liderança Gamela.
Na última sexta-feira, 28, os Gamela retomaram uma área contígua à aldeia Cajueiro Piraí localizada no interior do território tradicional reivindicado pelo povo. Na ocasião, os Gamela trancaram a rodovia MA-014 em apoio à greve geral e em sincronia com o 14º Acampamento Terra Livre (ATL),
que ocorria em Brasília. Em seguida, retomaram a área incidente na
terra indígena, localizada ao fundo da aldeia ova Vila, usada para a
criação de búfalos e gado.
Parlamentar envolvido
Por meio de entrevista a uma rádio local, o deputado federal Aluísio Guimarães Mendes Filho (PTN/MA), que foi assessor presidencial de José Sarney e secretário de Segurança Pública na última gestão do governo de Roseana Sarney
no Maranhão, após a retomada de sexta-feira (28), chamou os Gamela de
arruaceiros e, em diversos momentos, emitiu opiniões com teor de
incitação à violência. Num trecho o parlamentar percebe os excessos e
tentar baixar o tom.
“Botou gasolina na fogueira que acenderam pra queimar o nosso povo.
Não teve responsabilidade com as nossas vidas. As notícias que chegavam
eram de uma concentração cada vez maior de fazendeiros pra nos atacar.
Mobilizaram por celular e pelas rádios. Pegaram gente de outras regiões.
Pensávamos que seria na (aldeia) Cajueiro, mas quando percebemos que seria no Povoado das Bahias,
não tinha como ficar lá com tão pouca gente. Olha, foi um massacre”,
destaca um outro Gamela presente na hora do ataque e que sofreu apenas
escoriações.
A equipe de comunicação do Cimi teve acesso a áudios de ligações
telefônicas, que serão encaminhadas às autoridades públicas. Em uma
gravação, os policiais afirmam que os indígenas estavam invadindo
fazendas e diz que a polícia estava “largando o pau” nos Gamela.
“Estavam invadindo fazendas e a polícia estava largando o pau mesmo e
parece que balearam dois, viu. (…) os índios tá botando bem curtinho.
Vai dar morte ali. Já foi hoje já”. Em outro, o policial afirma: “não
sabe se dá pra mandar gente lá (local do conflito) porque é a população
contra os índios mesmo”.
Na região, os fazendeiros têm se revoltado com o movimento de “corta
de arame” empreendido pelos Gamela por todo o território tradicional. A
cada cerca levantada, os indígenas vão e cortam seus arames.
Ações contra o massacre
O Governo do Estado do Maranhão, por intermédio das secretarias de
Segurança Pública e Direitos Humanos, já foi informado dos fatos. A Fundação Nacional do Índio (Funai)
também foi notificada. O grupo pretende pedir apoio ao governo federal
para garantir direitos humanos básicos e proteção. Os índios Gamela acreditam que as polícias Militar e Civil são próximas dos principais opositores da pauta indígena.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e a 6a Câmara de
Coordenação e Revisão, que cuida dos assuntos ligados aos povos
indígenas e quilombolas na Procuradoria-Geral da República (PGR) já
estão analisando formas de intervenção na situação.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a relatora da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, será comunicada nas próximas horas sobre o ataque contra os Gamela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.