Considerações sobre o episódio William Waack, por Luis Nassif
qui, 09/11/2017 - 17:03
Atualizado em 09/11/2017 - 17:21
No
GGN e no Facebook meu artigo sobre William Waack bombou de críticas
pesadas. Consideram que coloquei o coleguismo acima do fato, que todo
mundo está falando do racismo, logo não teria motivo para apresentar
outros ângulos da sua personalidade.
Tenho
dentro de mim um anjo (seria diabo?) provocador, que detesta até o
fundo da alma os movimentos de manada, os linchamentos seja contra quem
for.
Em um exercício de autoanálise, vou tentar entender porque ajo assim, em vez de embarcar nas asas da unanimidade.
Antecipadamente,
explico que não tenho nenhuma relação pessoal com Waack, com quem
cruzei uma ou duas vezes em eventos, limitando-nos a meros cumprimentos.
Nossa última conversa foi justamente aquela narrada no artigo, lá pela
segunda metade dos anos 80.
Também
não aprecio seu radicalismo no exercício do jornalismo. Um intelectual
pode ser radical na defesa de suas ideias, não o jornalista, a quem cabe
levar informações amplas ao seu público.
A
primeira razão para fazer o contraponto é romper com o quadro de
informação monofásico. Se todos batem no racismo de Waack, qual a
contribuição para as informações do exercício de repisar o mesmo tema?
Apenas mostrar que sou mais um dos muitos indignados com o racismo.
Daí
a iniciativa de mostrar ângulos positivos de sua personalidade, que eu
mesmo testemunhei. Se a unanimidade fosse em relação à louvação, a
novidade seria apresentar o contraponto negativo. Tudo pela ampliação
das informações, não pela redundância.
A
segunda razão é o respeito pelo sujeito caído. Quando fui alvo da mais
incessante campanha de difamação já ocorrida na Internet, alimentada por
blogueiros da Veja, em um período em que havia pouco contraponto e que a
Veja infundia medo – porque Roberto Civita autorizou seus jornalistas a
investirem sobre qualquer colega que ousasse fazer o contraponto e os
demais veículos não davam o direito do revide -, nenhum desses colegas
teve coragem de sair em minha defesa. Ao investir no contraponto, no
caso Waack, tento apenas me mostrar melhor do que eles.
A
terceira razão é que Waack foi nitidamente alvo de uma armação. A
partir dela, está fora do jogo. Qual é o sentido prático de bater em
quem não conta mais? Apenas explicitar o ódio que condenamos aqui,
quando perpetrado pela direita? Se bradamos que defendemos a civilização
contra a barbárie, qual a razão para nos comportarmos como os
bolsominions, os Augustos e companhias?
Muito
mais proveitoso é saber quem armou e por que abandonou o companheiro
ferido no campo de batalha. E entender que os males brasileiros não
estão nos jornalistas que, por convicção ou oportunismo, tornam-se
raivosos e linchadores para atender à demanda da mídia por ódio e rancor
– e, no caso do Waack, a radicalização era por convicção. Tenho
respeito pessoal e profissional por pessoas que se impõe pela própria
personalidade e competência, e não pelo jogo de mesuras aos chefes. E ,
mesmo discordando da maior parte de suas ideias, admito que Waack é
dessa natureza, assim como Olavo de Carvalho – muito melhor do que os
que copiaram seu estilo, manias e preconceitos, para se oferecer ao novo
mercado que se abria.
O problema é quem define as regras do antijornalismo.
Talvez
a Globo tenha entendido que seu objetivo político se torna mais
palatável com o proselitismo revestido de uma vestimenta mais neutra.
Talvez tenha sido mais um capítulo da disputa interna por poder. Mas a
Globo continuará a ser a questão nacional por excelência, não seus
jornalistas.
De
qualquer modo, o episódio me remete à decisão profissional mais fácil
que tomei em minha vida: recusar um convite da Globo para ser
comentarista, lá pelos idos de 1987. Havia um almoço me esperando, com o
Alberico, Alice Maria – a notável criadora da Globonews. Antes, recebi
um telefonema do Paulo Henrique Amorim, com quem já trabalhara na Veja,
me cumprimentando.
Pensei
pouco e recusei. Aceitar mudaria minha vida imediatamente. Me tornaria
conhecido em todo o país, abriria um amplo mercado de palestras etc.
Preferi ficar com meu programa Dinheiro Vivo, na TV Gazeta.
Duas
razões pesaram. A primeira, saber que minha opinião seria restringida
pela linha editorial da Globo. A segunda, o medo de ficar amarrado a um
bom emprego e me acomodar. E, em um dia qualquer do futuro, ser
surpreendido com uma demissão humilhante, por um motivo qualquer. Na
época, não imaginei que as novas tecnologias abririam a possibilidade de
estratagemas sofisticados, de vazar conversas para as redes sociais.
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