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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Considerações sobre o episódio William Waack, por Luis Nassif

Considerações sobre o episódio William Waack, por Luis Nassif






No GGN e no Facebook meu artigo sobre William Waack bombou de críticas pesadas. Consideram que coloquei o coleguismo acima do fato, que todo mundo está falando do racismo, logo não teria motivo para apresentar outros ângulos da sua personalidade.
Tenho dentro de mim um anjo (seria diabo?) provocador, que detesta até o fundo da alma os movimentos de manada, os linchamentos seja contra quem for.
Em um exercício de autoanálise, vou tentar entender porque ajo assim, em vez de embarcar nas asas da unanimidade.
Antecipadamente, explico que não tenho nenhuma relação pessoal com Waack, com quem cruzei uma ou duas vezes em eventos, limitando-nos a meros cumprimentos. Nossa última conversa foi justamente aquela narrada no artigo, lá pela segunda metade dos anos 80.
Também não aprecio seu radicalismo no exercício do jornalismo. Um intelectual pode ser radical na defesa de suas ideias, não o jornalista, a quem cabe levar informações amplas ao seu público.
A primeira razão para fazer o contraponto é romper com o quadro de informação monofásico. Se todos batem no racismo de Waack, qual a contribuição para as informações do exercício de repisar o mesmo tema? Apenas mostrar que sou mais um dos muitos indignados com o racismo.
Daí a iniciativa de mostrar ângulos positivos de sua personalidade, que eu mesmo testemunhei. Se a unanimidade fosse em relação à louvação, a novidade seria apresentar o contraponto negativo. Tudo pela ampliação das informações, não pela redundância.
A segunda razão é o respeito pelo sujeito caído. Quando fui alvo da mais incessante campanha de difamação já ocorrida na Internet, alimentada por blogueiros da Veja, em um período em que havia pouco contraponto e que a Veja infundia medo – porque Roberto Civita autorizou seus jornalistas a investirem sobre qualquer colega que ousasse fazer o contraponto e os demais veículos não davam o direito do revide -, nenhum desses colegas teve coragem de sair em minha defesa. Ao investir no contraponto, no caso Waack, tento apenas me mostrar melhor do que eles.
A terceira razão é que Waack foi nitidamente alvo de uma armação. A partir dela, está fora do jogo. Qual é o sentido prático de bater em quem não conta mais? Apenas explicitar o ódio que condenamos aqui, quando perpetrado pela direita? Se bradamos que defendemos a civilização contra a barbárie, qual a razão para nos comportarmos como os bolsominions, os Augustos e companhias?
Muito mais proveitoso é saber quem armou e por que abandonou o companheiro ferido no campo de batalha. E entender que os males brasileiros não estão nos jornalistas que, por convicção ou oportunismo, tornam-se raivosos e linchadores para atender à demanda da mídia por ódio e rancor – e, no caso do Waack, a radicalização era por convicção. Tenho respeito pessoal e profissional por pessoas que se impõe pela própria personalidade e competência, e não pelo jogo de mesuras aos chefes. E , mesmo discordando da maior parte de suas ideias, admito que Waack é dessa natureza, assim como Olavo de Carvalho – muito melhor do que os que copiaram seu estilo, manias e preconceitos, para se oferecer ao novo mercado que se abria.
O problema é quem define as regras do antijornalismo.
Talvez a Globo tenha entendido que seu objetivo político se torna mais palatável com o proselitismo revestido de uma vestimenta mais neutra. Talvez tenha sido mais um capítulo da disputa interna por poder. Mas a Globo continuará a ser a questão nacional por excelência, não seus jornalistas.
De qualquer modo, o episódio me remete à decisão profissional mais fácil que tomei em minha vida: recusar um convite da Globo para ser comentarista, lá pelos idos de 1987. Havia um almoço me esperando, com o Alberico, Alice Maria – a notável criadora da Globonews. Antes, recebi um telefonema do Paulo Henrique Amorim, com quem já trabalhara na Veja, me cumprimentando.
Pensei pouco e recusei. Aceitar mudaria minha vida imediatamente. Me tornaria conhecido em todo o país, abriria um amplo mercado de palestras etc. Preferi ficar com meu programa Dinheiro Vivo, na TV Gazeta.
Duas razões pesaram. A primeira, saber que minha opinião seria restringida pela linha editorial da Globo. A segunda, o medo de ficar amarrado a um bom emprego e me acomodar. E, em um dia qualquer do futuro, ser surpreendido com uma demissão humilhante, por um motivo qualquer. Na época, não imaginei que as novas tecnologias abririam a possibilidade de estratagemas sofisticados, de vazar conversas para as redes sociais.

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