A política é a arte de discordar pelas palavras e pelos gestos. Quando você não garante o exercício da política pela palavra, vai apelar para os gestos – que podem ser de força ou de ridicularização
Roberto Romanoprofessor de Ética e Filosofia Política da Unicamp.
Bolsonaro, Doria e Lula: ovadas vão da direita à esquerda
Num comunicado, a hamburgueria Jeronimo informou que Luciano Huck sabe de sua responsabilidade diante da sociedade e dos frequentadores do Shopping Estação, onde fica o empreendimento. A empresa explicou que, para evitar tumultos ou desconfortos, o apresentador cancelou sua visita a Curitiba. O protesto contra Huck, organizado pelas redes sociais, tinha 1,7 mil interessados e cerca de 250 pessoas confirmadas até o início da noite desta quarta-feira (8).FIQUE POR DENTRO: Todas as notícias sobre a possível candidatura de Luciano Huck a presidente
Huck não é nem mesmo o primeiro presidenciável a virar alvo de uma ovada – protesto que não enxerga ideologia, atingindo da direita à esquerda.
Em agosto, manifestantes contrários ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), promoveram uma “chuva de ovos” durante uma visita do tucano a Salvador (BA). No mesmo mês foi a vez de Jair Bolsonaro (PSC) ser hostilizado por uma mulher que quebrou um ovo no peito dele, em Ribeirão Preto (SP).
No ano passado, pessoas que protestavam contra o ex-presidente Lula (PT) lançaram um ovo na sede do Instituto Lula, onde ele estava. Quando o petista deixou o imóvel, debaixo de vaias e xingamentos, o carro que o conduzia foi “estapeado” por um dos manifestantes.
ANÁLISE: Casamento da filha-deputada de um ministro de Temer foi alvo de horas de escracho. Por que é perigoso curtir esse tipo de protesto?
Quando as palavras calam, restam a violência e a ridicularização
“A política é a arte de discordar pelas palavras e pelos gestos. Quando você não garante o exercício da política pela palavra, vai apelar para os gestos – que podem ser de força ou de ridicularização”, afirma Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp.Segundo Romano, é isso que vem ocorrendo no Brasil. As “ovadas” e as hostilizações contra políticos apenas refletem a interdição do debate público de ideias e projetos. Sem a palavra, restam a violência ou a zombaria como instrumento de manifestação política.
O professor da Unicamp explica que foi a própria classe política que causou a perda da seriedade das instituições. Ele cita como exemplo a sessão da Câmara dos Deputados que decidiu em 2016 pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Deputados se xingaram, se agrediram e tiveram outras condutas vergonhosas. “O parlamento brasileiro se transformou num verdadeiro circo”, diz Romano.
Segundo ele, outras instituições que deveriam zelar pela civilidade, como o Supremo Tribunal Federal (STF), também têm sido palco de desrespeitos. Frequentemente, ministros do STF acusam uns aos outros e trocam ofensas em plenário.
Luciano Huck reforça a ideia da política como encenação
Romano acredita que as supostas pretensões eleitorais de Huck intensificam a perda de credibilidade da esfera pública brasileira. Huck apresenta na televisão um show. Sua possível candidatura, desse modo, reforça a ideia de que a política é encenação, um teatro, e não algo sério.Para o professor da Unicamp, a ovada contra Huck pode ser interpretada de duas formas: como uma manifestação legítima contra a manipulação da política por uma celebridade ou tão somente como mais uma expressão da degradação do espaço público nacional. “É difícil julgar”, diz Romano.
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