Ministro da Justiça tira ligação com ditadura do perfil
Perfil divulgado no site da pasta só começa em 1979; antes, Jardim já tinha ocupado o cargo de assessor do ministro do governo de Garrastazu Médici e do STF durante gestão de Geisel
Leonêncio Nossa,
O Estado de S.Paulo
05 Junho 2017 | 08h26
05 Junho 2017 | 08h26
BRASÍLIA - Criado na burocracia estatal do regime militar, o
ministro da Justiça, o carioca Torquato Lorena Jardim, 67 anos, limpou
do currículo sua presença nos gabinetes da ditadura em Brasília. O
perfil do ministro divulgado na tarde deste domingo no site da pasta só
começa em 1979, quando ele iniciou a vida de advogado na capital
federal.
A familiaridade de Jardim com o poder começou antes, num
cargo de assessor de Jarbas Passarinho, ministro da Educação no governo
do general Emílio Garrastazu Médici. Entre maio de 1972 e novembro de
1973, justamente no período de matança de guerrilheiros no Araguaia pelo
Exército, Jardim trabalhava no Programa Nacional da Carta Escolar. É o
que está registrado num currículo elaborado nos anos 1990 pelo próprio
ministro, quando ocupava uma cadeira no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
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Os
laços familiares mudaram o rumo do advogado formado pela Faculdade de
Direito de Brasília em 1975 e que, em poucos anos, virou professor da
Universidade de Brasília. Ele alavancou a carreira na sombra do sogro,
João Leitão de Abreu, um influente ministro do Gabinete Civil de Médici
que foi cotado para suceder o general na Presidência. No governo de
Ernesto Geisel, Leitão de Abreu foi indicado para uma cadeira no Supremo
Tribunal Federal (STF). Ele levou junto o genro, que ganhou o cargo de
assessor, entre setembro de 1975 a agosto de 1978. Depois, com Leitão de
Abreu no comando do TSE, Torquato Jardim foi nomeado secretário-geral
da presidência do órgão, de maio de 1979 a agosto de 1980.
O perfil de Torquato Jardim divulgado pelo Ministério da
Justiça também foi maquiado. Nas únicas citações dos serviços prestados
pelo ministro ao governo no período militar, o texto destaca que ele
foi advogado da Siderúrgica Brasileira, a Siderbrás, uma holding
estatal ligada ao Ministério da Indústria e Comércio, em 1974. No
currículo anterior, do TSE, Jardim informou ter sido "assessor" da
Siderbrás. O mesmo ocorre em relação à sua passagem pela Comissão de
Empresas Transnacionais das Nações Unidas, entre 1980 e 1981. Ele
informa que foi advogado na comissão. Antes disse que tinha sido
"delegado" do governo na missão.
Oligarquias. Se fosse para citar as
origens familiares, Torquato Jardim precisaria de um currículo ainda
mais volumoso. O pai dele, José Torquato Caiado Jardim, foi professor de
escolas militares e ocupou cargos de assessor na ditadura apadrinhado
por Mário Andreazza, ministro do Interior de Figueiredo. Já o trisavô
paterno, o coronel José Rodrigues Jardim, o bisavô Rodrigues Jardim
Filho e o avô Eugênio Jardim foram presidentes de Goiás, no Império e na
República Velha. O ministro da Justiça também pertence ao ramo de outra
oligarquia goiana. Ele é primo em segundo grau do senador Ronaldo
Caiado (DEM-GO). Procurada para esclarecer a trajetória de Jardim na
ditadura, a assessoria de imprensa da Justiça se limitou a enviar o
perfil do ministro - do período democrático.
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