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Flores
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sábado, 30 de setembro de 2017
Cortes na Ciência ameaçam o futuro do Brasil, dizem ganhadores do Nobel
Cortes na Ciência ameaçam o futuro do Brasil, dizem ganhadores do Nobel
Carta
enviada a Temer traz assinatura de 23 ganhadores do prêmio; mesmo
argumento está em outro texto, enviado por 250 pesquisadores da área de
Matemática
Herton Escobar,
O Estado de S.Paulo
30 Setembro 2017 | 03h00
Os cortes orçamentários em Ciência e Tecnologia “comprometem
seriamente o futuro do Brasil” e precisam ser revistos “antes que seja
tarde demais”, segundo um grupo de 23 ganhadores do Prêmio Nobel, que
enviou nesta sexta-feira, 29, uma carta ao presidente Michel Temer,
recomendando mudanças na postura do governo com relação ao setor.
Marcha. Pesquisadores protestam contra corte de verbas
Foto: Felipe Rau/Estadão
O documento, enviado por e-mail ao gabinete da Presidência, faz
referência ao corte de 44% no Orçamento deste ano do Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), assim como à
perspectiva de um novo corte em 2018 - que deverá ser da ordem de 15%,
caso o Projeto de Lei Orçamentária Anual enviado pelo governo ao
Congresso seja aprovado como está.
+++ CNPq atinge teto orçamentário e pagamento de bolsas pode ser suspenso
“Isso
danificará o Brasil por muitos anos, com o desmantelamento de grupos de
pesquisa internacionalmente reconhecidos e uma fuga de cérebros que
afetará os melhores jovens cientistas” do País, escrevem os
pesquisadores.
A carta, à qual o Estado teve acesso com
exclusividade, é assinada pelo físico francês Claude Cohen-Tannoudji e
outros 22 laureados com o Prêmio Nobel nas áreas de Física, Química e
Medicina. “Sabemos que a situação econômica do Brasil é muito difícil,
mas urgimos o senhor a reconsiderar sua decisão antes que seja tarde
demais”, conclui a carta.
Repercussão
“É uma iniciativa que mostra a importância da ciência brasileira e a
gravidade da situação”, disse o presidente da Academia Brasileira de
Ciências, Luiz Davidovich, que também recebeu uma cópia da carta. A
Presidência da República foi procurada pela reportagem, mas não
respondeu até as 21 horas.
“A situação é trágica, não há outra palavra para descrevê-la”, disse ao Estado
o pesquisador David Gross, da Universidade da Califórnia em Santa
Bárbara, vencedor do Nobel de Física em 2004 e também signatário da
carta. Ele prevê que muitos jovens pesquisadores brasileiros vão
desistir da carreira científica ou migrar para outros países, mais
favoráveis à ciência. “Eles vão embora e não voltarão”, alertou. “É uma
política estúpida, autodestrutiva”, completou Gross, referindo-se aos
cortes horizontais aplicados pelo governo em todas as áreas, sem
definição de prioridades.
A ciência, de acordo com ele, é uma área que precisa de
investimentos consistentes e de longo prazo para produzir resultados que
são essenciais para qualquer sociedade moderna. “Não é algo que você
liga e desliga sem ter consequências graves.”
A carta dos laureados reproduz argumentos que vem sendo usados
exaustivamente pela comunidade científica brasileira nos últimos anos.
Em uma carta enviada à Presidência da República no início da semana,
mais de 250 pesquisadores da área de Matemática pedem também a Temer que
reconsidere os cortes orçamentários do setor.
“À fria luz dos fatos e além de qualquer partidarismo, repudiamos
os repetidos e substanciais cortes de verba que sabotam o potencial
transformador da ciência brasileira”, diz o documento. Entre os
signatários está o matemático Artur Avila, ganhador da Medalha Fields,
considerada o Prêmio Nobel da Matemática.
Cortes
O orçamento deste ano do MCTIC é o menor de todos os tempos, com
cerca de R$ 3,2 bilhões disponíveis (depois do contingenciamento de 44%
no início do ano) para o financiamento de pesquisas e pagamentos de
bolsas em todo o País. Isso equivale a um terço do que o ministério
tinha quatro anos atrás (antes de ser unificado com a pasta de
Comunicações), e a proposta inicial do governo para 2018 é reduzir esse
valor ainda mais, para R$ 2,7 bilhões.
Signatários
Nobel de Medicina
Harold Varmus (1989)
Jules Hoffman (2011)
Tim Hunt (2001)
Torsten Wiesel (1981)
Nobel de Química
Martin Chalfie (2008)
Johann Deisenhofer (1988)
Robert Huber (1988)
Ada Yonath (2009)
Dan Shechtmann (2011)
Venkatraman Ramakrishnan (2009)
Jean-Marie Lehn (1987)
Yuan Lee (1986)
Nobel de Física
Albert Fert (2007)
David Gross (2004)
Serge Haroche (2012)
Claude Cohen-Tannoudji (1977)
Andre Geim (2010)
Robert Laughlin (1998)
Frederic Haldane (2016)
Klaus von Klitzing (1985)
Arthur McDonald (2015)
Takaaki Kajita (2015)
Jerome Friedman (1990)
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