25 Setembro 2017
Estudo da Oxfam revela
que os 5% mais ricos detêm mesma fatia de renda que outros 95%.
Mulheres ganharão como homens só em 2047, e os negros como os brancos em
2089.
A reportagem é de Marina Rossi, publicada por El País, 25-09-2017.
Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim) são as seis pessoas mais ricas do Brasil.
Eles concentram, juntos, a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres
do país, ou seja, a metade da população brasileira (207,7 milhões).
Estes seis bilionários, se gastassem um milhão de reais por dia, juntos,
levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio. Foi o
que revelou um estudo sobre desigualdade realizado pela Oxfam.
O levantamento também mostrou que os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população. E que aqueles que recebem um salário mínimo (937 reais) por mês (cerca de 23% da população brasileira)
teriam que trabalhar por 19 anos para obter a mesma renda que os
chamados super ricos. Os dados também apontaram para a desigualdade de
gênero e raça: mantida a tendência dos últimos 20 anos, mulheres
ganharão o mesmo salário que homens em 2047, enquanto negros terão
equiparação de renda com brancos somente em 2089.
Segundo Katia Maia, diretora executiva da Oxfam
e coordenadora da pesquisa, o Brasil chegou a avançar no caminho rumo à
desigualdade nos últimos anos, por meio de programas sociais como o Bolsa Família,
mas ainda está muito distante de ser um país que enfrenta a
desigualdade como prioridade. Além disso, de acordo com ela, somente
aumentar a inclusão dos mais pobres não resolve o problema. "Na base da
pirâmide houve inclusão nos últimos anos, mas a questão é o topo", diz.
"Ampliar a base é importante, mas existe um limite. E se você não
redistribui o que tem no topo, chega um momento em que não tem como
ampliar a base", explica.
América Latina
Neste ano, o Brasil despencou 19 posições no ranking de desigualdade social da ONU, figurando entre os 10 mais desiguais do mundo. Na América Latina, só fica atrás da Colômbia e de Honduras. Para alcançar o nível de desigualdade da Argentina, por exemplo, o Brasil levaria 31 anos. Onze anos para alcançar o México, 35 o Uruguai e três o Chile.
Mas para isso, Katia Maia propõe mudanças como uma reforma tributária. "França e Espanha, por exemplo, têm mais impostos do que o Brasil.
Mas a nossa tributação está focada nos mais pobres e na classe média",
explica ela. "Precisamos de uma tributação justa. Rever nosso imposto de
renda, acabar com os paraísos fiscais e cobrar tributo sobre
dividendos". Outra coisa importante, segundo Katia Maia, é aproximar a população destes temas. "Reforma tributária
é um tema tão distante e tecnocrata, que as pessoas se espantam com o
assunto", diz. "A população sabe que paga muitos impostos, mas é
importante que a sociedade esteja encaixada neste debate para começar a
pressionar o Governo pela reforma".
A aprovação da PEC do teto de gastos, de acordo com Katia Maia,
é outro ponto importante. Para ela, é uma medida que deveria ser
revertida, caso o país realmente deseje avançar na redução da
desigualdade. "É uma medida equivocada", diz. "Se você congela o gasto
social, você limita o avanço que o Brasil poderia fazer
nesta área". Para ela, mais do que controlar a quantidade do gasto, é
preciso controlar o equilíbrio orçamentário e saber executar o gasto.
Além das questões econômicas, o cenário político também é importante
neste contexto. "Estamos atravessando um momento de riscos e
retrocessos", diz Katia Maia. "Os níveis de desigualdade no Brasil são inaceitáveis, mas, mais do que isso, é possível de ser mudado".
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