O custo dos vereadores
Estudo mostra que quase 20% dos 3.762 municípios que prestaram contas ao Tesouro em 2016 e 2015 gastaram mais com seus Legislativos do que arrecadaram como receita própria
O Estado de S.Paulo
03 Setembro 2017 | 05h00
03 Setembro 2017 | 05h00
Um estudo da
Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB)
mostra que quase 20% dos 3.762 municípios que prestaram contas ao
Tesouro em 2016 e 2015 gastaram mais com seus Legislativos do que
arrecadaram como receita própria. Assim, em razão das despesas com as
Câmaras Municipais, essas cidades dependem exclusivamente das
transferências constitucionais para financiar serviços básicos.
Considerando-se que 1.807 municípios nem sequer prestaram contas ao
Tesouro, o que autoriza presumir que sua situação econômica seja ainda
mais precária, tem-se um quadro de total desrespeito à Lei de
Responsabilidade Fiscal e à própria Constituição.
Com a intenção de descentralizar a administração, a Constituição
de 1988 conferiu aos municípios um papel relevante na execução de
políticas públicas. Esse novo status deveria fomentar o exercício da
autonomia do município, mas o que se observa, diante da
irresponsabilidade de muitos prefeitos e vereadores, é uma crescente
dependência dos repasses da União – isto é, de recursos de contribuintes
de outras cidades e Estados –, que deveriam servir para equilibrar as
desigualdades regionais. Mais uma vez, assiste-se à transformação de um
dispositivo constitucional em letra morta, algo bastante comum em um
país onde se aceita candidamente o fato de que há leis que “pegam” e
leis que “não pegam”.
No caso dos municípios, a lei, obviamente, não “pegou”. Nem se
está falando, aqui, dos municípios que deveriam prestar contas e não o
fizeram, pois a ausência de dados impede um exame mais acurado. Basta
fixar-se nos municípios analisados na pesquisa da CACB, que levou em
conta apenas os gastos com as Câmaras.
O levantamento mostrou que, nesse universo, a receita própria
média per capita dos pequenos municípios equivale a 23% da receita dos
grandes municípios, mas a despesa legislativa média per capita dessas
pequenas cidades é 70% maior do que a das grandes.
Dentre as despesas, destaca-se o pagamento de salários aos
vereadores. Uma amostragem dos municípios pesquisados, com cidades de
todos os tamanhos e em todas as regiões, mostra que esse gasto
representa em média 38,7% das despesas legislativas totais; já nos
municípios de até 50 mil habitantes, esse porcentual chega a 59%. O
levantamento mostrou, ademais, que o número de vereadores eleitos
aumentou 11,8% nas três últimas eleições, enquanto a população cresceu
apenas 7,2% no período.
A CACB sugere que se limitem os gastos dos Legislativos
municipais apenas às receitas geradas pela própria prefeitura, isso é,
sem levar em conta as transferências constitucionais, como é hoje. O
objetivo seria gerar uma folga de caixa para que as transferências
cumpram sua função, isto é, sejam usadas para promover o desenvolvimento
dos municípios com menos recursos, além, é claro, de bancar os serviços
essenciais à população. A CACB calcula que essa medida geraria uma
economia de R$ 7,6 bilhões anuais, levando-se em conta somente os
municípios pesquisados. Numa projeção que inclui todos os municípios do
País, a conta chegaria a mais de R$ 11,3 bilhões.
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