Meu trabalho é exaustivo, mas não é escravo, diz Gilmar Mendes
Ministro do STF admite que não leu nova portaria, mas afirma que assunto, 'polêmico, não deve ser partidarizado nem ideologizado'
Rafael Moraes Moura e
Breno Pires,
O Estado de S.Paulo
19 Outubro 2017 | 10h59
19 Outubro 2017 | 10h59
BRASÍLIA - Em meio à polêmica com a publicação de uma portaria que modifica as regras de combate ao trabalho escravo, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, disse nesta quinta-feira, 19, que o tema é polêmico, mas que deve ser tratado sem partidarizações ou ideologizações.
"Eu não tive tempo ainda de ler a portaria e terei de fazer a
devida aferição. Esse tema é sempre muito polêmico e o importante,
aqui, é tratar do tema num perfil técnico, não ideologizado. Há muita
discussão em torno disso", disse o ministro. "Eu,
por exemplo, acho que me submeto a um trabalho exaustivo, mas com
prazer. Eu não acho que faço trabalho escravo. Eu já brinquei até no
plenário do Supremo que, dependendo do critério e do fiscal, talvez ali
na garagem do Supremo ou na garagem do TSE, alguém pudesse identificar,
'Ah, condição de trabalho escravo!'. É preciso que haja condições
objetivas e que esse tema não seja ideologizado", completou Gilmar
Mendes. As novas normas mudam a punição de empresas que submetem
trabalhadores a condições degradantes e análogas à escravidão. Entre
outras coisas, elas determinam que só o ministro do Trabalho pode
incluir empregadores na Lista Suja do Trabalho Escravo, que dificulta a
obtenção de empréstimos em bancos públicos.Critérios. A nova regra altera também a
forma como se dão as fiscalizações, além de dificultar a comprovação e
punição desse tipo de crime."O que é importante é que haja critérios objetivos e que
não haja essa subjetivação. Vimos aí alguns processos no STF em que
havia uma irregularidade trabalhista, mas daí a falar-se em trabalho
escravo, parece um passo largo demais. É preciso que haja esse exame
adequado das situações, um tratamento objetivo e que isso não seja
partidarizado nem ideologizado", comentou Gilmar Mendes.Rebatidas. A portaria já foi criticada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Apesar das críticas, o presidente Michel Temer segue
disposto a manter as alterações nas regras como um sinal de afago à
bancada ruralista do Congresso Nacional em meio à articulação política
para garantir uma votação favorável na segunda denúncia apresentada
contra o presidente.
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