Brazilian Times
Publicado em 20/11/2017 as 3:00pm
Deputados vão ao exterior sem prestação eficiente
A Câmara dos Deputados autorizou de 2015 até este ano 610 viagens internacionais em missões...
A Câmara dos Deputados autorizou de 2015 até este ano 610 viagens
internacionais em missões oficiais. Os deslocamentos representam uma
alta de 41% se comparados ao mesmo período da legislatura anterior –
entre 2011 e 2013 – e quase se iguala ao total de todo o mandato passado
(619). O crescimento, porém, não foi acompanhado de um aprimoramento na
prestação de contas dos parlamentares que não chegam nem sequer a
relatar a programação cumprida fora do País.
Levantamento feito pelo Estado com base nos dados publicados pela
Câmara encontrou relatórios genéricos, sem qualquer detalhamento ou
apresentação dos resultados das missões. A falta de cuidado na forma
como se presta – e se fiscaliza – as viagens faz com que haja documentos
que só listam a agenda predeterminada para o roteiro, sem fotos dos
encontros, nomes das autoridades visitadas ou a relevância das reuniões
para a atividade legislativa desenvolvida no Brasil.
A assessoria de imprensa da presidência da Câmara, responsável por
autorizar os deslocamentos internacionais, não explicou o motivo do
aumento das viagens. O órgão orientou o Estado a pedir os dados pela Lei
de Acesso à Informação (LAI), o que já foi solicitado.
A Câmara liberou, ao todo, a ida a 107 cidades, em 54 países
diferentes. No ranking dos destinos mais visitados estão Nova York,
Genebra, Paris, Roma, Bruxelas, Londres e Washington (veja quadro nesta
página). Mas há exemplos também de roteiros realizados em Nassau, nas
Bahamas; Addis Abeba, na Etiópia; Praga, na República Checa; e Baku, no
Azerbaijão.
Para o professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) Roberto Romano, a informação do que os parlamentares
fizeram em viagens deveria ser mais bem detalhada e transparente. “Em se
tratando de dinheiro público, um centavo é um tesouro. Não há o direito
de não prestar contas de tudo o que você gastou. Do ponto de vista
ético, é preciso prestar contas não apenas formais, ‘eu gastei tanto’ e
‘fiz aquilo’, mas trazer os resultados parciais do que foi discutido
para distribuir aos seus pares e à sociedade.”
Romano também questionou necessidade das agendas no exterior. “Graças
à tecnologia, você tem condição de estar online e não presencialmente. O
último recurso é a viagem física. Outro ponto: você não precisa de uma
comitiva de grande porte, com dez deputados”, disse o professor da
Unicamp.
Os dados mostram, por exemplo, que a caravana de nove dias comandada
no início do mês pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a
Israel, Itália, Portugal e Palestina reuniu nove deputados. Só neste
ano, dos 513 deputados, 134 foram autorizados a deixar o Brasil.
Segundo os parlamentares que já viajaram em missões oficiais, a
escolha dos destinos não é aleatória, ela tem relação com a localização
de uma série de órgãos internacionais, como a sede das Nações Unidas,
que fica em Nova York, ou o Parlamento Latino-Americano (Parlatino),
localizado na Cidade do Panamá.
Para autorizar uma viagem internacional, a presidência da Câmara
determina que o deslocamento deve seguir a regra do interesse público:
deputados podem viajar quando convidados para eventos promovidos por
Parlamentos de outros países e organismos com os quais a Casa se
relaciona. Nessa lista está o Parlatino, que tem como vice-presidente
Heráclito Fortes (PSB-PI), o atual campeão de viagens ao exterior.
Desde junho de 2015, o deputado deixou o País em 17 datas – oito
delas em 2016. Na primeira vez, esteve em Le Bourget, na região
metropolitana de Paris, para participar do 51.º Salão da Aeronáutica e
do Espaço. Na última, visitou Nova York e Washington, para tratar de
reforma tributária. No cumprimento do atual mandato, ainda passou pela
Cidade do Panamá (seis vezes), Roma (duas vezes), Cartagena e Buenos
Aires.
“Não fiz turismo, são viagens de trabalho. Imagina um País como o
nosso não ter uma participação no Parlatino? Temos de acabar com essa
mania de cachorro vira-lata. O Brasil quer ou não ser grande?”,
questionou o deputado, um dos nove parlamentares que viajaram
recentemente com Maia.
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