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domingo, 12 de novembro de 2017

Luis Nassif


A "questão Waack", por Eduardo


A "questão Waack"
por Eduardo Ramos
Acompanhei ao largo a "questão Waack". Por me parecer banal. Um jornalista é gravado falando uma imensa bobagem (todo preconceito desse tipo, incluindo aí o racismo, será sempre uma tolice sem tamanho, além de odioso), revela seu preconceito contra os negros e é demitido pela empresa. Ponto. Isso sequer revela que o jornalista seja de fato um racista, revela apenas que é capaz de em ambientes privados emitir conceitos racistas - são coisas diferentes que não vou tentar explicar aqui porque não vem ao caso.
O bom de não ter tido opinião a respeito no início da repercussão do episódio é assistir a tudo como espectador, essa é uma boa forma de tentar aprender vendo o todo e não apenas uma parte do fato. Ponto um - tirando o ódio e os desejos de vingança, todos os que se manifestaram contra a AÇÃO de Waack, bem o fizeram: porque o racismo é uma praga a ser combatida de modo determinado pela sociedade, como são todos os preconceitos.
Mas elevar o combate à fala deplorável ao ódio doentio da direita, soa como uma "contaminação" de algo que a esquerda deplora. Nesse aspecto, vejo o "discurso" do Nassif como uma tentativa de expor os excessos e seguir sua natureza - e a de muitos aqui... - de ir contra o linchamento, o apedrejamento do sujeito, o famoso "chutar a cara do inimigo caído no chão" - qual o mérito disso, afinal?
Ponto dois - Um bom ponto jornalístico, social, filosófico, etc. etc. a ser debatido, me parece vermos quais os preconceitos hediondos, além do racismo, praticados, espraiados não só por e entre jornalistas, mas nas classes sociais que têm força e voz no Brasil. Por exemplo, o termo "petralhas" - tão carregado de nojo e ódio quanto os preconceitos ancestrais da humanidade.
Sem querer comparar os indizíveis sofrimentos das pessoas negras, há séculos vítimas dessa chaga, o racismo, com os outros preconceitos havidos entre nós, podemos e devemos tentar enxergar a RAIZ



desses sentimentos na alma de muitos brasileiros - porque se tornou uma FORMA DE PENSAR / SENTIR / AGIR, rotular as pessoas com termos pejorativos - ou assim tornados... - por aqueles que se sentem SUPERIORES à pessoa agredida ou grupo social agredido. Assim, Dilma vira "a vaca", "a anta", "o poste de Lula". Lula vira o "molusco", e numa alusão perversa, doentia, ordinária, na boca de Sérgio Moro e de milhões de brasileiros, vira o "NINE"..... - ISSO NÃO É TÃO GRAVE, E NÃO PERTENCE À MESMA FONTE do "só pode ser preto", do Waack??? - eis uma das grandes questões. Porque, como, chegamos a esse ponto, porque a Globo, que agora banca a defensora do "não-preconceito", - hipócritas! - nunca se importou, por exemplo, que pixulecos de Lula em roupas de presidiário fossem ostentados em programas da Globo News, como todos pudemos assistir...?
Ponto três - Personificar a estupidez de Waack, demonizá-lo, odiá-lo, é apenas isso - fazer uma catarse de ódio aproveitando o vazamento de sua fala tosca e odiosa, num movimento que se torna reduzido e reducionista - daí a necessidade dos contrapontos, como o trazido pelo Nassif - que, obviamente, não está "defendendo o Waack" - apenas nos lembra da pobreza que é a coisa do linchamento - porque é!
Ponto quatro - FHC chamou aposentados de "vagabundos", após a eleição de 2014, ofendeu de modo grotesco aos nordestinos, chamando-os de "burros" e que teriam "vendido seus votos pelo bolsa família". Eu e todos aqui, escreveríamos centgenas de exemplos de pessoas públicas em cenas igualmente lamentáveis.... Ora, não "odeio" FHC, Waack e assemelhados por essas falhas de caráter, esse narcisismo, odeio suas ações, a elas devo e quero combater. Como à intolerância de uma classe média enferma em relação aos nossos pobres, que faz com que rejeitem todos os políticos e partidos progressistas, que trazem programas, ideologias, intenções inclusivas, nas suas ações.
A "questão Waack" é MUITO MAIS do que alguém a ser massacrado por "ser pego em flagrante". Em si, é apenas um fato particular, que deve sim ser punido pela empresa - Globo - para que sirva de lição - hipocrisia à parte..... - Devemos repudiar a fala racista? Evidente que sim! Mas se não AMPLIAMOS o debate, perdemos uma oportunidade de enxergar quem somos como sociedade, como nação.

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