Seis em cada dez desempregados são pretos ou pardos, diz IBGE
No 3º trimestre, rendimento médio dos trabalhadores pretos e pardos foi de R$ 1.531, enquanto o dos brancos foi de R$ 2.757
Vinicius Neder,
O Estado de S.Paulo
17 Novembro 2017 | 14h22
17 Novembro 2017 | 14h22
RIO - No terceiro trimestre, 12,961 milhões de pessoas estavam na
fila do desemprego, mostram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, divulgados mais cedo
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dessas,
8,252 milhões têm a pele preta ou parda, 63,7% do total. Com isso, a
taxa de desemprego da população preta ou parda é de 14,6%, acima da
média, que ficou em 12,4%. Entre as pessoas de pele branca, a taxa de
desemprego ficou em 9,9%.
Pessoas de pele preta e parda sofrem mais com o desemprego e,
quando têm emprego, trabalham em atividades de menor qualificação e em
piores condições, como o trabalho doméstico ou de ambulante. O resultado
é que, no terceiro trimestre, o rendimento médio dos trabalhadores
pretos e pardos (R$ 1.531) foi quase a metade (55,5%) do registrado para
brancos (R$ 2.757).
O Brasil tem 1,832 milhão
de ambulantes, sendo que 1,222 milhão, ou 66,7%, são pretos ou pardos.
Empregadas e empregados domésticos somam 6,177 milhões de pessoas, e
4,076 milhões, ou 66%, têm a pele preta ou parda. Esses dados são
inéditos e fazem parte de um estudo especial sobre as desigualdades do
mercado de trabalho conforme a cor da pele, preparado pelo IBGE por
causa do Dia da Consciência Negra, comemorado no próximo dia 20.
"Eles
(pessoas de pele preta ou parda) estão inseridos em atividades com
menor qualidade, que exigem menor formação e, consequentemente, são
grupos de atividades que pagam salários menores", afirmou Cimar Azeredo,
coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O pesquisador citou a colonização como origem da desigualdade.
"Estamos falando de uma população de origem afrodescendente, que chegou
ao País por meio da escravidão", lembrou Azeredo. Para ele, essa raiz
histórica mantém as desigualdades na escolaridade, com efeitos no
mercado de trabalho. "Isso tem mais de 100 anos (a abolição da
escravidão), mas vemos ainda marcas bastante expressivas dessa tragédia
que foi a colonização do Brasil", completou o pesquisador.
De 2007 em diante, as pesquisas por amostra de domicílio do IBGE
passaram a registrar que o contingente da população preta e parda supera
o total da população branca – a cor da pele é informada pelo próprio
respondente da pesquisa. Conforme os dados do terceiro trimestre deste
ano, pessoas de pele preta e parda respondem por 54,9% da população de
14 anos ou mais e por 53% da população ocupada.
Se o mercado de trabalho fosse igualitário, essa participação de
53% deveria se repetir em todas as atividades, mas não é o que ocorre.
Embora sejam a esmagadora maioria entre ambulantes e trabalhadores
domésticos, as pessoas de pele preta ou parda são minoria entre
empregadores – apenas 33% dos 4,245 milhões de empregadores é de pretos
ou pardos.
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