19 Fevereiro 2018
Fabricantes de bebidas açucaradas e alimentos industrializados estão sofrendo para elevar as vendas, diante de consumidores mais conscientes sobre saúde e preços, o que os força a reduzir custos para elevar lucros e buscar aquisições para melhorar os resultados.
A reportagem é publicada por Financial Times e reproduzida por portal Uol, 19-02-2018.
Os desafios ficaram evidentes na sexta (16) quando três gigantes dos alimentos Kraft Heinz, Coca-Cola e Danone anunciaram resultados para o quarto trimestre que mostram o abandono pelos consumidores de produtos que deliciavam gerações anteriores de queijo industrializado fatiado a refrigerantes com teor de açúcar de 39 gramas, em favor de alternativas mais saudáveis.
Nosso desempenho financeiro em 2017 não refletiu nosso potencial, disse Bernardo Hees, presidente da Kraft Heinz, que teve queda de vendas de 1,1% nos EUA sétima queda consecutiva.
A mudança no gosto do consumidor movimentou os maiores fabricantes de alimentos e bebidas do planeta.
A Coca-Cola, que reportou suas mais baixas vendas de refrigerantes em 31 anos, anda assim conseguiu alta de 6% nas vendas orgânicas, com a ajuda de água vitaminada, chás e similares e de outras bebidas que incluiu em sua linha, em boa parte por aquisições.
Hees, da Kraft Heinz, deu a entender que o principal acionista da empresa o grupo 3G, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles poderia buscar novas aquisições, depois de uma queda de 20% nos preços das ações.
Se houver mais consolidação no setor, Hees afirmou, queremos ser parte disso.
Desde a fusão de US$ 100 bilhões da Kraft com a Heinz, a 3G
vem seguindo o manual de corte de custo. A margem de lucro bruta subiu a
37%, ante 27% quando da formação da companhia, em 2015.
Na quinta (15), ela anunciou que atingiu meta de redução de custos. A
receita líquida subiu a US$ 8 bilhões, refletindo o benefício da reestruturação tributária nos EUA.
A Coca-Cola planeja economizar US$ 3 bilhões até o ano que vem em seu plano de cortes de custos.
Sopa
Outras empresas de alimentos e bebidas se saíram pior. A Campbell Soup reportou queda de 2% nas vendas orgânicas no quarto trimestre, devido à baixa demanda por suas tradicionais sopas na América do Norte.
A Nestlé revelou que as vendas do ano passado cresceram em seu ritmo mais lento em duas décadas.
A Danone, de iogurtes e água mineral, disse que as
vendas de suas linhas de produtos estabelecidas há pelo menos um ano
haviam crescido 2,9% em 2016, expansão mais lenta em 20 anos.
Para analistas, a consolidação será inevitável neste ano, como resultado da batalha por vendas entre as empresas estabelecidas.
Mark Schneider, presidente da Nestlé, avisou que a tendência de abandono das supermarcas de alimentos industrializados chegou para ficar. Houve um padrão em 2017 no setor de alimentos e bebidas, disse. O setor todo demorou um pouco a reconhecer o fato, mas agora está em nossa mira.
Leia mais
- Coca-Cola financia cientistas que tiram das dietas calóricas a culpa pela obesidade
- Guerra contra refrigerantes ameaça Coca-Cola no México
- A água não pode ser engarrafada: comunidade estadunidense ganha disputa contra Nestlé
- Em guerra contra a Nestlé
- Cientistas da Nestlé estudam sintetizador de alimentos
- OMS pede imposto de 20% sobre bebidas açucaradas para “salvar vidas”
- Refrigerantes liberam mais hormônio da fome (grelina), confirma estudo
- OMS quer impostos sobre refrigerantes para reduzir açúcar
- Indústria de alimentos ultraprocessados jamais colocará interesses de saúde pública na frente do seu lucro. Entrevista especial com Maria Laura Louzada
- Agroecologia: incomodando a sociedade dos alimentos enlatados, por Ruy Sposati
- Para especialista, conceito de alimentos ultraprocessados confronta a indústria, que insiste em negar seus malefícios à saúde
- ‘Alimentos ultraprocessados são ruins para as pessoas e para o ambiente’, diz professor da FSP-USP
- Crescimento dos alimentos ultraprocessados: o fim da comida caseira?
- OMS define novos parâmetros para alimentos processados
- A redução da presença de resíduos em alimentos só será feita por pressão do consumidor. Entrevista especial com Amir Bertoni Gebara
- Rótulos confundem o consumidor e pouco informam sobre quantidade de adoçante nos alimentos. Entrevista especial com Ana Paula Bortoletto Martins
- A batalha pela produção de alimentos saudáveis
- Agricultura familiar é protagonista na produção de alimentos saudáveis
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.