A mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha
mostrou que 54% da população entrevistada são a favor da prisão do
petista Luiz Inácio Lula da Silva e que 89% querem uma abertura de
processo contra o presidente Michel Temer (PMDB). Para comentar esse e
outros assuntos políticos dos últimos dias, estiveram na bancada do
Morning Show o professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp
Roberto Romano e o promotor de Justiça e presidente do Instituto Não
Aceito Corrupção Roberto Livianu. Durante a entrevista, este último
abordou amplamente o tema da corrupção e alegou que uma de suas
principais causas no país é a concentração de renda.
“A última avaliação da Transparência Internacional mostrou a
excessiva concentração de renda como um dos problemas geradores da
corrupção. O Brasil se notabiliza por isso. Temos um problema crônico de
concentração de riqueza, temos uma cultura do privilégio enraizada.
Isso envolve o tema do foro privilegiado também. Temos conseguido bons
resultados em Curitiba com o juiz Sérgio Moro emitindo condenações
corajosas, por exemplo. No entanto, ele não tem competência para
condenar aqueles que tem o foro. Não há condições de avançar nessa
discussão assim. Os políticos se escondem nesse escudo, isso faz parte
de uma blindagem poderosa que está abrangida pela cultura dos
privilégios. É um dos problemas graves do país”, disse Livianu.
Romano concordou com o colega e seguiu a linha de raciocínio
relacionando a corrupção existente no mundo político com a corrupção
presente no dia a dia da nossa sociedade. Para exemplificar, citou um
atropelamento que sofreu recentemente. Ele contou que atravessava a rua
em um bairro nobre da capital paulista quando foi jogado ao chão por uma
senhora que dirigia um carro importado. Na ocasião, ela falava ao
celular.
“Ela foi embora sem prestar socorro e atrás havia outro carro
importado que começou a buzinar como se eu fosse uma vaca para sair do
caminho dele. Aí chegamos a essas pessoas dizendo que são assassinas,
como a ONU recomenda, e ficam furiosas. Afinal elas usam cinto de
segurança, não aparecem na Lava-Jato”, afirmou. “Nós temos uma cultura
eticamente pervertida. Esse é ponto que me parece preocupante. Temos uma
ética automática que projeta defeitos no outro. Você não tem nenhum, só
os outros. Faz quantos anos que o Brasil está nessa? Carlos Lacerda,
Jânio, militares, Collor... Todos prometiam o que? Honestidade. Quando
você joga no Moro ou no Joaquim Barbosa ou no Lula ou em qualquer outra
pessoa a esperança de moralização, não funciona”.
Os dois convidados falaram ainda sobre os possíveis cenários que
enxergam para as próximas eleições. Com a população mais preocupada com a
pauta da corrupção, acreditam que pode haver uma grande renovação no
nome dos deputados e senadores que ocuparão o Congresso Nacional – mas
não veem o mesmo acontecer em relação à presidência, cargo mais complexo
cuja escolha possui diversos outros componentes.
Romano concluiu sua participação na bancada declarando que, segundo
seus estudos, o Brasil está tentando, mas por essas e outras ainda não
vive uma democracia real.
“Estamos há 500 anos em regimes tirânicos. A definição de tirania é
‘aqueles que usam bens do governado como se fossem seus’. Então o Brasil
é uma tirania, não é uma república, não é uma democracia. Nesse nosso
sistema da tirania, temos o tirano que rouba e distribui socialmente o
butim (nome dado ao produto de um roubo). É a famosa elite. Ela vive
disso. Sem contar que temos aqui a formação de hábitos de compadrio,
troca de favores, influência social. Esse sistema leva ao amortecimento
da consciência social (...). Quando o governante não presta contas, o
governado também não exige. Se não mudamos esse sistema, não mudamos
nada. É por isso que tenho medo dos ‘salvadores da pátria’ que aparecem
nas campanhas eleitorais”, finalizou.
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