Nota da CNBB sobre o trabalho escravo
“O Espírito do Senhor me ungiu para dar liberdade aos oprimidos” (cf. Lc 4, 18-19)
Reunido em Brasília-DF, nos dias 24 a 26 de outubro de 2017, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB manifesta seu veemente repúdio à Portaria 1129 do Ministério do Trabalho, publicada no Diário Oficial da União de 16/10/2017. Tal iniciativa elimina proteções legais contra o trabalho escravo
arduamente conquistadas, restringindo-o apenas ao trabalho forçado com o
cerceamento da liberdade de ir e vir. Permite, além disso a jornada
exaustiva e condições degradantes, prejudicando assim a fiscalização,
autuação, penalização e erradicação da escravidão por parte do Estado
brasileiro.
Como nos recorda o Papa Francisco,
“hoje, na sequência de uma evolução positiva da consciência da
humanidade, a escravatura – delito de lesa-humanidade – foi formalmente
abolida no mundo. O direito de cada pessoa não ser mantida em estado de
escravidão ou servidão foi reconhecido, no direito internacional, como
norma inderrogável” (Papa Francisco, Dia Mundial da Paz,
1º de janeiro de 2015). Infelizmente, esse flagelo continua sendo uma
realidade inserida no tecido social. O trabalho escravo é um drama e não
podemos fechar os olhos diante dessa realidade.
A desumana Portaria é um retrocesso que, na prática,
faz fechar os olhos dos órgãos competentes do Governo Federal que têm a
função de coibir e fiscalizar esse crime contra a humanidade e
insere-se na perversa lógica financista que tem determinado os rumos do
nosso país. Essa lógica desconsidera que “o dinheiro é para servir e não
para governar” (Evangelii Gaudium,
58). O trabalho escravo é, hoje, uma moeda corrente que coloca o
capital acima da pessoa humana, buscando o lucro sem limite (cf. Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 2014).
Nosso País no qual, por séculos, vigorou a chaga da escravidão de
modo legalizado, tem o dever de repudiar qualquer retrocesso ou ameaça à
dignidade e liberdade da pessoa humana. Reconhecendo a importância da
decisão liminar no Supremo Tribunal Federal que suspende essa Portaria da Escravidão
e somando-nos a inúmeras reações nacionais e internacionais,
conclamamos a sociedade a dizer mais uma vez um não ao trabalho escravo.
Confiamos a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, a proteção de seus filhos e filhas, particularmente os mais pobres.
Brasília, 26 de outubro de 2017
Cardeal Sergio da Rocha/ Presidente
Dom Murilo S. Krieger / Vice-Presidente
Dom Leonardo U. Steiner / Secretário-Geral
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