Rejeição da denúncia contra Temer ameaça democracia e mostra "força bruta do dinheiro", diz Roberto Romano
Guilherme Azevedo
Do UOL, em São Paulo
- Wilton Junior/Estadão ConteúdoCâmara dos Deputados arquivou a 2ª denúncia contra Temer
O professor de ética e filosofia Roberto Romano, da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), vê como ameaça à própria democracia
brasileira o resultado da votação na Câmara dos Deputados que arquivou a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB).
"O resultado mostra que efetivamente estamos nos últimos momentos do
Estado Democrático de Direito", afirmou nesta quarta-feira (25) ao UOL.
Para Romano, o arquivamento da primeira denúncia, em agosto, e o de
agora mostram que "os operadores do Estado não estão mais em condições
mínimas de seguir a liturgia dos cargos", como determina a Constituição.
O professor nota a prevalência, no resultado, do "jogo da força bruta
do dinheiro", na "cooptação [compra]" do voto dos deputados federais
pelo governo Temer. "Não vi tamanha desfaçatez nem no mensalão",
comparou Romano, referindo-se ao escândalo da compra de apoio de
congressistas em meados dos anos 2000, durante a Presidência de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
Outro fator que demonstra a ameaça à
democracia brasileira é a ausência de participação do eleitor na
definição do destino político do país. "O cidadão está totalmente
afastado [do nível decisório] e desconfiado dos operadores do Estado",
aponta. "O resultado desta quarta-feira é uma volta a mais na descrença
popular no sistema representativo [do Congresso]."
Para o professor, o momento se agrava devido à falta de partidos organizados de verdade e de lideranças políticas.
O
cidadão está totalmente afastado. O resultado desta quarta-feira é uma
volta a mais na descrença popular no sistema representativo
Roberto Romano, professor de ética
Ele vê o PMDB como uma facção que tomou o poder, o PSDB como um partido
dividido e o PT dependendo única e exclusivamente de Lula, agora às
voltas com problemas com a Justiça.
"Governo das cotoveladas"
Quanto ao futuro de Temer, Romano diz que será o do "governo das
cotoveladas". Um governo sem respaldo, sem respeito, em que prevalecerá o
tamanho do cotovelo, a força bruta, do interlocutor.
"Se as
crises antes eram anuais, semestrais, mensais, agora serão diárias. Temo
pelo futuro, inclusive pela tradição de saídas desastrosas brasileiras
para crises na história", opina, se referindo às Forças Armadas
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