Quem ganha e quem perde com a vitória de Temer na Câmara
Sessão que barrou denúncia escancara fraquezas das principais siglas brasileiras e embaralha forças para eleições de 2018
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6 ago 2017, 06h30

Manifestantes protestam contra o
presidente Michel Temer durante a votação da denúncia na Câmara dos
Deputados em 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
São Paulo – A sessão da Câmara dos Deputados que enterrou a denúncia contra Michel Temer
por corrupção passiva, na última quarta, terminou sem vencedores ou
perdedores absolutos. Até o governo que conseguiu quase 100 votos
(somados abstenções e ausências) a mais do que o necessário para se
livrar do Supremo Tribunal Federal (STF), sai dessa batalha mais exposto e dependente de barganhas do que nunca
.
Nesse ponto, afirmam os especialistas, o potencial eleitoral
do PSDB para 2018 fica prejudicado. “Vai ser difícil recuperar algum
pacto interno para o ano que vem”, diz Romano. Desse processo sobra uma
tarefa paradoxal: se explicar para seus eleitores por ter avalizado
Temer e para o governo, por ter orientado seus deputados a se oporem a
ele.
DEM
Até pouco tempo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), era visto como quase um emissário do governo na Casa. Mas, ao
longo do percurso da denúncia, ele conseguiu se livrar da pecha de
traidor do Planalto ao mesmo tempo em que marcou um certo distanciamento
de Temer.
Resultado: “Ele adquiriu um certo cacife e, dada a
fragilidade do PSDB, pode ser constituir como uma alternativa à
centro-direita no Congresso”, afirma Aldo Fornazieri, professor de
ciências políticas da FESP-SP. Seu partido, o DEM, se prepara para uma
refundação nos próximos meses. Não será surpresa se uma leva de
parlamentares migrarem para a versão 2.0 dos Democratas.
PT
Em frente às câmeras, os deputados do PT engrossaram o coro
da oposição e votaram em peso contra o relator. Mas, nos bastidores, uma
ala importante da bancada defendia a manutenção de Temer no poder. “O
PT faz um cálculo equivocado que o governo vai sangrando até o fim e de
que ele (PT) será o herdeiro desse fracasso de Temer”, diz Fornazieri. O
problema dessa lógica é de que não há garantias de que o candidato
petista vencerá as eleições. E se for, terá uma herança, de fato,
maldita para resolver.
Michel Temer
Há três meses na corda bamba, Temer deu uma clara
demonstração de força ao conquistar os 263 votos contrários ao avanço da
denúncia. Mas a vitória, todos sabem, custou caro ao Planalto e a
perspectiva é uma governabilidade ainda mais dispendiosa daqui para
frente.
Com um número talvez não previsto de traições na própria
base (foram quase 90 deserções de aliados), Temer deixa a votação dessa
quarta mais dependente dos partidos que compõem o centrão. “É um
governo que vai ter que fazer concessões até o fim porque o centrão
coloca a faca no pescoço do presidente”, afirma Fornazieri, da FESP/SP.
Com apenas 5% de aprovação popular, sob o risco de não
cumprir a meta fiscal e diante da sombra de novas denúncias, Temer até
pode terminar os próximos 17 meses ainda na Presidência, mas a certeza é
de que não serão os mais fáceis.
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