A esquerda precisa refazer o compromisso com a militância
O professor de ética e filosofia da Unicamp, Roberto Romano, falou
com exclusividade Ao Jornal Local sobre o governo do presidente Michel
Temer (PMDB), o Congresso Nacional e o momento sócio-econômico no
Brasil.
Quando questionamento sobre o futuro a curto e longo prazo, ele
enxerga a realidade com um pessimismo. “O que se espera é o que há de
pior, não há um projeto sério de reforma econômica. A base mais
tecnicamente capaz no ministério está economia”, enfatiza.
“ O ministro da economia dado ao fisiologismo e falta de
responsabilidade, em parte atende aos interesses do empresariado e
particulares”. A não aplicação de reformas amplas e profundas que altere
de forma significativa o desenvolvimento no país já vem provocando um
desgaste cada vez maior e até causar a volta da inflação.
“ Estamos assistindo uma compra generalizada de apoios, que foi
inaugurado nessa sessão onde Temer seria investigado ou não. Uma coisa
de bilhões foram usados para comprar de votos.”, falou. ”É de se esperar
uma crise generalizada até 2018 e não sabemos o que esperar após 2018.
Uma piora do quadro e não uma melhora. Com essa vitória, entre aspas,
do governo Temer, tivemos um aumento exponencial da insegurança coletiva
no Brasil”.
Temer se manterá até 2018? “Ninguém sabe, essa base aliada é uma base
muito venal, os recursos da compra dessa base já estão se acabando. Não
se tem tanto dinheiro assim. Nem tantos cargos também. Se a PGR
(Procuradoria Geral da República) apresentar outra denúncia e isso vai
passar pelo Congresso e então veremos se serão comprados novamente. E
não temos certeza nem disso”.
Conforme o professor Roberto Romano quando se tem um corpo político
com voto doutrinário e ideológico, pode-se saber, qual a direção que o
Congresso irá seguir. “Mas como houve uma compra tão descarada de votos,
e isso não é voto ideológico. Então não existe nenhum rito de lealdade.
Eles estão cobrando aumento ao fundo das eleições algo de mais de R 3
bilhões. Os deputados só serão leais se os cofres forem abertos.
O professor lamenta o mau direcionamento de recursos do governo Temer
em detrimentos de questões mais abrangentes na sociedade em geral. “Ver
universidades com dificuldades, a UERJ fechando não consegue manter
pesquisa nacional. O CNPq não poder garantir bolsas para os próximos
meses. Os hospitais não podendo manter cirurgias. Mas tem R$ 3 bilhões
para dar a esses deputados ganhar as eleições com dinheiro público.”.
Romano questiona o posicionamento do governo Temer que está deixando
de lado pontos relevantes da sociedade brasileira. “Só vemos aumentar o
fisiologismo. O cidadão não tem segurança jurídica, segurança física,
não tem saúde, educação, não tem atendimento médico mas tem dinheiro
para dar para esses políticos se estabelecerem”.
Para ele a opinião pública deve se mobilizar, os eleitores procurarem
em quem votou e solicitar que a democracia seja restabelecida. “Nós
temos que fazer de tudo para barrar isso tudo que está ocorrendo no
congresso nacional. O que nos estamos assistindo não é democracia e nem
república é uma tirania. A visão clássica da Tirania: os governantes
usam os recursos dos governados como se fosse os seus. Nós vivemos uma
tirania, é isso”.
“A esquerda tem que retomar sua prática”
Questionado se uma resposta viria dos representantes dos partidos de
esquerda, o professor Romano diz que a esquerda esta muito quieta e que
há poucos membros da esquerda. “A única esperança que a esquerda retome
as suas práticas, refaça seu caminho. O PT tem Luiz Inácio com 30% das
intenções de votos, nenhuma outra liderança no cenário nacional tem
essa projeção. Caso haja algum impedimento, acidente, seja preso, não há
nenhuma outra liderança, a esquerda tem que fazer seu caminho, retomar
sua pratica”.
Os de esquerda, neste momento, a partir de Luiz Inácio, não por acaso
se uniram com Sarney. Dilma escolheu Temer para vice, esse foi um erro
gravíssimo, assumido as mesmas práticas do fisiologismo (fazer a aliança
com PMDB para garantir votos do congresso). Esse ‘realismo’ entre aspas
levou a essa situação. Eles deram a benção para prática do
fisiologismo. Isso mostra que o PT não é um partido de esquerda
unificado”, falou.
O professor diz que a esquerda precisa rever seus métodos. “Tem que
ir ao povo e deixar os palácios ( congresso, planalto e supremo). Se a
esquerda não for para a grande massa, e não romper com essa prática não
refazer o compromisso com a militância.”.
Na opinião do professor Romano os partidos pequenos (de menor
representatividade) são valorosos, batalhadores, trabalhadores mas
sempre foram com pouca representatividade. “Tem o PSol, o PSTU que não
têm maior repercussão popular, uma dimensão nacional de massas. O PT
conseguiu. Existe um ou outro representante em um Estado, em um
município porém não há uma liderança. Tem muito quebra-quebra interno.
O caso da Rede que tem uma liderança, a Marina Silva e ninguém mais”
O professor acredita que os partidos que não alcançarem
representatividade maior no cenário nacional podem desaparecer ou se
juntarem. “ O PSDB, que surgiu com os dissidentes do PMDB, neste
momento, agora, está dividido. Nada impede que uma parcela volte para o
PMDB. Os partidos não tem essa representação que alcançou o PT.”,
analisou.
“O PMDB é um partido fisiológico por opção que desgraçou o Brasil,
que quase levou a falência e que foi se recuperar bem depois com o Plano
Real: a economia mais fisiológica e demagógica possível. Foi com o
Sarney que apareceu o Centrão que é uma redefinição agora com o governo
Temer.
Roberto Romano diz que, m boa parte, crise pol´tia atual é resultado
de um acomodação da esquerda em relação ao esquema dominante do Estado
brasileiro e suas raízes absolutistas. “É estranho hoje, em golpe a
direita contra um sistema de esquerda. Boa parte dos ministros de Lula e
de Dilma pertence à direita. E tais alianças foram instituídas tendo em
vista a governabilidade”.
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