“O excesso de produção e a construção muito fantasiosa de
candidaturas provocam no eleitor uma reação natural de desconfiança e
acabam sendo um investimento cujo retorno efetivo é cada vez mais
questionável. Eu acho que as campanhas gastam cada vez mais para atingir
cada vez menos pessoas e convencê-las efetivamente”, afirmou o
cientista político. Coimbra destacou que a legislação eleitoral
brasileira precisa ser repensada: “Enquanto tivermos centenas de
candidatos aos cargos proporcionais, a complicação da escolha do
candidato se agrava a cada eleição. Esse investimento maciço em custos
de campanha é uma tentativa de algumas pessoas que têm dinheiro de furar
essa enorme dificuldade de contatar o eleitor”.
Para o filósofo Roberto Romano, a propaganda de massa é extremamente
eficaz, mobiliza instantaneamente emoções, sonhos e esperanças, mas
oferece em troca apenas ilusões. “Não temos nenhuma discussão
aprofundada do sistema econômico, do sistema social, do sistema
político, da ciência, da tecnologia, da cultura, nesses programas. Nós
temos uma tarefa perene de convencimento”, criticou o filósofo. Romano
relembrou a clássica obra O estupro das massas pela propaganda política,
de Serge Tchakhotine (1883-1973), publicada em 1939. Na avaliação de
Romano, com exceção de alguns aspectos, a realidade brasileira atual é a
mesma do final da década de 1930: de cada dez pessoas, apenas três
conseguem escapar do “encanto” da propaganda política.
Romano vê com preocupação os filmetes “absolutamente magníficos” que
vendem felicidade. “A propaganda tende perigosamente a tornar um
processo que é democrático em um processo autoritário”, criticou o
filósofo. Dines perguntou como é possível dar início uma mobilização da
sociedade em torno da reforma política. Romano explicou que um primeiro
passo da mudança nas instituições políticas poderia ser a democratização
dos partidos políticos: o estabelecimento de um tempo máximo para que
os dirigentes partidários fiquem nos cargos e a adoção de eleições
primárias nos partidos poderiam dar mais voz aos militantes. “Os
partidos têm donos que muitas vezes estão na direção ha mais de trinta
anos. Eles controlam os cofres, a destinação do Fundo Partidário, as
alianças, o tempo de TV, e permitem que candidatos cheguem à televisão
ou não”, disse Romano.
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