Apoio ao governo deve ser crítico
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Passarei a expor, em pontos
definidos, a minha percepção da conjuntura nacional.
O governo eleito não tem o
controle do Estado brasileiro. Nisto, o deputado José Genoino está com a
razão. Neste contexto, esperar que o governo modifique o Estado no seu todo
é querer ir rápido demais. Mas não é possível aceitar menos do que o
definido na campanha, pois esta já flexibilizou as teses que levaram à
verdadeira consagração junto às massas populares. Governar durante quatro
anos diminuindo cada vez mais as metas que deram a vitória nas urnas
significa, em pouco tempo, chegar ao ponto em que a identidade nova do
governo sumiu. Pior: chegar ao ponto em que a identidade e a essência do
governo se confundem com a dos que foram derrotados nas urnas. A partir daí,
a legitimidade sofre abalos e sabemos que as derrotas da social democracia
na França e os fracassos na Argentina se definiram na perda da identidade
própria.
Do governo, não se justificam
todos os atos e todos os caminhos. Ele tem compromissos com os eleitores,
antes de ter compromissos com instâncias estatais e supra-estatais em plano
mundial. A meta do superávit primário de 4,25% do PIB, segundo o ministro da
Economia, guardaria "um grau de grande realismo com as dificuldades atuais
enfrentadas pelo país". O realismo reside nas teses que conquistaram 52
milhões de votos. É o contrário do que enuncia o ministro. A "economia"
proposta é incompatível com "os objetivos sociais do governo". Não espanta
que, para o ministro, "a garantia da estabilidade econômica depende dos
avanços em direção às reformas da previdência e tributária".
É um equívoco julgar que o
governo tem poderes para mudar, de uma hora para a outra, as relações
oligárquicas e de subordinação ao imperialismo, produzidas ao longo de 500
anos de controle das classes dominantes e por mais de vinte anos de ditadura
militar, somados aos últimos anos de capitulação e de conivência com os
Estados imperiais. Mas esse ponto não impede o espírito crítico. É muito
estranha a maneira pela qual a mídia em geral tem procurado definir todos os
passos e todos os itens da agenda governamental. É muito sintomático o modo
pelo qual os antigos quadros do governo que perdeu as eleições prometem
"colaborar" com o novo governo, em reformas que atingem, fundo, os direitos
dos trabalhadores. É muito suspeita a aceitação satisfeita de organismos que
levaram outros países à bancarrota, como o FMI, dos atos do governo eleito.
É muito triste o desejo de agradar as oligarquias, inclusive em seus
preconceitos hediondos, ao se dizer que os nordestinos vêm para São Paulo
para assaltar e roubar, como o fez ontem mesmo um ministro, meu colega da
Unicamp.
O apoio ao governo, para quem
defende a soberania nacional, a democracia e a república, só pode ser
crítico. E não é fácil manter o equilíbrio entre o entendimento das
dificuldades enfrentadas pela nova equipe e a denúncia de suas vacilações ou
descaminhos. Não é fácil aceitar que a única saída seja manter a antiga
política econômica, rejeitada nas urnas, as antigas alianças com oligarcas,
a subordinação aos mecanismos imperiais de poder. A população não escolheu
manter, mas mudar. E não é muito sutil dizer que, só após um ano, dois,
quatro anos, estaremos em condições de mudar. Esta tese lembra em demasia a
teoria do bolo, do economista Delfim Neto. Aliás, considerado agora como
grande conselheiro por algumas personalidades no governo.
A crítica firme precisa ser
lúcida, mas serena, inclusive para não dar desculpas aos que aderiram ao
projeto governamental e que sabem manipular a arte da exclusão, da expulsão
e da censura como poucos.
Se antes era importante o estudo
das condições mundiais e nacionais, agora este estudo é mais importante do
que nunca. A troca de informações fidedignas deve ser incentivada ao máximo.
Roberto Romano é professor de Filosofia e Ética da Unicamp. |
Um Blog destinado a discutir assuntos de ordem institucional, política, ética, longe do inferno definido nas supostas redes sociais, onde a covardia, a irresponsabilidade, o ressentimento e todas as paixões baixas se manifestam. Aqui, procuro pensar, sem ferir ou humilhar ninguém. Na internet, sobretudo nas mentirosas páginas "sociais", encontramos a besta fera descrita por Platão (Rep.. 588c): θηρίου ποικίλου καὶ πολυκεφάλου. Lúcido Platão!
Flores
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
Quando todos os oportunistas "de esquerda", nos governos tucanos e petistas, corriam para obter cargos, verbas, à custa de alianças em prol da "governabilidade" (petistas beijando os pés de Sarney et caterva) num periódico de esquerda eu adverti sobre os perigos de tal falta de visão estratégica e de vergonha. Depois, vieram os canalhas "de esquerda" , os quais, buscando calar as críticas, jogaram pedras e xingatórios contra mim e outras pessoas que não dobram a espinha. Hoje, na rua da amargura da esquerda, muitos dos que serviram a campanha de repressão às críticas de suas alianças inescrupulosas, sequer têm coragem para defender o seu líder, ídolo então. Sào covardes toupeiras venais. Quanto a mim, sigo crítico do poder, qualquer que seja, com os riscos que tal atitude acarreta. Ao ler notícas de hoje, o desejo de vomitar logo vem, sobretudo pela mansidão dos que se apegaram ao mando palaciano em nome da "ética"e do progressismo. Nào leio mais sites de esquerda, a mentira ali cheira muita mal. Conheço pessoas que militam em prol de um mundo melhor. Elas não pedem cargos, verbas, ascensão social, merecem respeito. Mas são poucas, poucas, poucas. Roberto Romano
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