Flores

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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Quando todos os oportunistas "de esquerda", nos governos tucanos e petistas, corriam para obter cargos, verbas, à custa de alianças em prol da "governabilidade" (petistas beijando os pés de Sarney et caterva) num periódico de esquerda eu adverti sobre os perigos de tal falta de visão estratégica e de vergonha. Depois, vieram os canalhas "de esquerda" , os quais, buscando calar as críticas, jogaram pedras e xingatórios contra mim e outras pessoas que não dobram a espinha. Hoje, na rua da amargura da esquerda, muitos dos que serviram a campanha de repressão às críticas de suas alianças inescrupulosas, sequer têm coragem para defender o seu líder, ídolo então. Sào covardes toupeiras venais. Quanto a mim, sigo crítico do poder, qualquer que seja, com os riscos que tal atitude acarreta. Ao ler notícas de hoje, o desejo de vomitar logo vem, sobretudo pela mansidão dos que se apegaram ao mando palaciano em nome da "ética"e do progressismo. Nào leio mais sites de esquerda, a mentira ali cheira muita mal. Conheço pessoas que militam em prol de um mundo melhor. Elas não pedem cargos, verbas, ascensão social, merecem respeito. Mas são poucas, poucas, poucas. Roberto Romano





Apoio ao governo deve ser crítico
Roberto Romano


Passarei a expor, em pontos definidos, a minha percepção da conjuntura nacional. 

O governo eleito não tem o controle do Estado brasileiro. Nisto, o deputado José Genoino está com a razão. Neste contexto, esperar que o governo modifique o Estado no seu todo é querer ir rápido demais. Mas não é possível aceitar menos do que o definido na campanha, pois esta já flexibilizou as teses que levaram à verdadeira consagração junto às massas populares. Governar durante quatro anos diminuindo cada vez mais as metas que deram a vitória nas urnas significa, em pouco tempo, chegar ao ponto em que a identidade nova do governo sumiu. Pior: chegar ao ponto em que a identidade e a essência do governo se confundem com a dos que foram derrotados nas urnas. A partir daí, a legitimidade sofre abalos e sabemos que as derrotas da social democracia na França e os fracassos na Argentina se definiram na perda da identidade própria.

Do governo, não se justificam todos os atos e todos os caminhos. Ele tem compromissos com os eleitores, antes de ter compromissos com instâncias estatais e supra-estatais em plano mundial. A meta do superávit primário de 4,25% do PIB, segundo o ministro da Economia, guardaria "um grau de grande realismo com as dificuldades atuais enfrentadas pelo país". O realismo reside nas teses que conquistaram 52 milhões de votos. É o contrário do que enuncia o ministro. A "economia" proposta é incompatível com "os objetivos sociais do governo". Não espanta que, para o ministro, "a garantia da estabilidade econômica depende dos avanços em direção às reformas da previdência e tributária". 

É um equívoco julgar que o governo tem poderes para mudar, de uma hora para a outra, as relações oligárquicas e de subordinação ao imperialismo, produzidas ao longo de 500 anos de controle das classes dominantes e por mais de vinte anos de ditadura militar, somados aos últimos anos de capitulação e de conivência com os Estados imperiais. Mas esse ponto não impede o espírito crítico. É muito estranha a maneira pela qual a mídia em geral tem procurado definir todos os passos e todos os itens da agenda governamental. É muito sintomático o modo pelo qual os antigos quadros do governo que perdeu as eleições prometem "colaborar" com o novo governo, em reformas que atingem, fundo, os direitos dos trabalhadores. É muito suspeita a aceitação satisfeita de organismos que levaram outros países à bancarrota, como o FMI, dos atos do governo eleito. É muito triste o desejo de agradar as oligarquias, inclusive em seus preconceitos hediondos, ao se dizer que os nordestinos vêm para São Paulo para assaltar e roubar, como o fez ontem mesmo um ministro, meu colega da Unicamp.
O apoio ao governo, para quem defende a soberania nacional, a democracia e a república, só pode ser crítico. E não é fácil manter o equilíbrio entre o entendimento das dificuldades enfrentadas pela nova equipe e a denúncia de suas vacilações ou descaminhos. Não é fácil aceitar que a única saída seja manter a antiga política econômica, rejeitada nas urnas, as antigas alianças com oligarcas, a subordinação aos mecanismos imperiais de poder. A população não escolheu manter, mas mudar. E não é muito sutil dizer que, só após um ano, dois, quatro anos, estaremos em condições de mudar. Esta tese lembra em demasia a teoria do bolo, do economista Delfim Neto. Aliás, considerado agora como grande conselheiro por algumas personalidades no governo.

A crítica firme precisa ser lúcida, mas serena, inclusive para não dar desculpas aos que aderiram ao projeto governamental e que sabem manipular a arte da exclusão, da expulsão e da censura como poucos.
Se antes era importante o estudo das condições mundiais e nacionais, agora este estudo é mais importante do que nunca. A troca de informações fidedignas deve ser incentivada ao máximo.

Roberto Romano é professor de Filosofia e Ética da Unicamp.


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