O jornalismo na era (quase) dominante das fake news
Ontem estive presente no 4º Encontro Mídia e Pesquisa,
que esse ano levou como tema a “Ética em divulgação científica na era
da pós-verdade”. O evento ocorreu no Centro de Convenções, da
Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, e é fruto de parceria entre o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LABJOR), da universidade, e a Embrapa.
No encontro, destinado tanto para membros da imprensa, comunidades
científica e acadêmica, foi possível observar um nível de maturidade bem
elevado, sobretudo pelo excelente corpo de convidados.
No primeiro painel, intitulado “Ética e pós-verdade”, a pauta dominante foi acerca das fake news,
ou “notícias falsas”, em tradução livre. O tema, que tem adentrado o
dia a dia daqueles que se relacionam com o universo digital, foi
debatido pelos professores Roberto Romano, da Unicamp, Carlos Zanotti,
da PUC Campinas, e pelo jornalista Carlos Orsi. A mediação ficou por
conta do jornalista e professor Ricardo Muniz, também da Unicamp.
Trago algumas anotações desse primeiro painel, obtidas das falas de
seus integrantes ou provocadas pelos mesmos. A primeira é sobre a origem
das fake news ser a má-fé humana em pelo menos 90% dos casos. A
ideia, defendida pelo professo Romano, ainda traz a concepção de que a
violência abandonara as garras (tal com em animais, por exemplo) e
passaria a figurar na língua, o nosso atual instrumento de praticar a
violência. Romano ainda parte da ideia do “se”, como em “fala-se”, onde o
“se” tornaria o tópico comentado isento de autoria, já que “fala-se”
que “beltrano é isso e fulano é aquilo”. Ninguém fala, mas todos são
falados. Uma reflexão bem interessante na sensação de anonimato da
internet.
Romano também parte para outro campo de provocação ao dizer que não há fake news mais fake news do que as propagandas governamentais. O professor coloca, ainda, que as eleições são, em suma, formuladas em fake news, em mentiras recontadas, costuradas, maquiadas de verdade.
O segundo convidado, o professor Zanotti, afirmou que o que temos de novo não são as fake news, mas sua forma de produção e circulação. As fake news,
assim como defendido por Romano, sempre existiram no mundo civilizado,
mas o que temos de novo é a produção dessas notícias falsas – ou
falsificadas – em larga escala, disseminadas de forma frenética e
instantânea. Isso, sim, seria o mais novo sobre o assunto e que ainda
precisamos digerir.
Por fim, o terceiro convidado, o jornalista Orsi, colocou que as chamadas hard news (o
jornalismo diário, do dia a dia) não estariam equipadas para combater
(enfrentar) o universo das notícias falsas tal como o jornalismo
científico já o faz, sobretudo pelo formato como o jornalismo de ciência
se estruturou, mais acostumado com a checagem de informações e a
sobreposição de visões – porém não isento a erros, como ele mesmo citou
em exemplificações. Orsi comentou que as hard news podem
aprender com o jornalismo científico a driblar ou minimizar os impactos
que as notícias falsas produzem. É combater o jornalismo ruim com o bom
jornalismo.
Orsi comentou que é preciso darmos valores diferentes para as fontes,
para que não cometemos o erro de posicionar o jornalismo em um “ponto
de vista de lugar nenhum”. O jornalista afirmou que é preciso dar mais
valor a um especialista renomado em determinado assunto e menos valor a
um mero agitador (em linha com a pauta), pois cada um terá mais ou menos
a contribuir para a formulação daquele conteúdo jornalístico.
Bônus:
- Combate às fake news: Facebook e Google se unem ao “Trust Project” para verificação de notícias reais. (B9)
- Facebook aumenta parcerias com sites de verificação de fato (ijnet)
Obs.: O encontro também teve transmissão online. Assim que eu encontrar o material disponibilizo nesse post.
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