Especialistas discutem ‘pós-verdade’ e fake news na divulgação científica - RSS
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Cerca
de 150 pessoas, entre cientistas, professores, jornalistas e estudantes
participaram do 4º Encontro Mídia e Pesquisa, realizado em 14 de
novembro, em Campinas, SP, pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) em parceria com a Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas). O evento foi organizado em torno de três painéis, que
trouxeram um panorama da inserção da ética na divulgação e no jornalismo
científico, além da visão de especialistas sobre a credibilidade da
informação científica e da cobertura da mídia na era das fake news.
A
abertura desta edição contou a participação do Secretário de
Comunicação da Unicamp e professor da Faculdade de Ciências Aplicadas,
Peter Schulz, e dos chefes-gerais da Embrapa Informática Agropecuária
(Campinas, SP), Silvia Massruhá, e da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna,
SP), Marcelo Morandi.
No Painel Ética e pós-verdade, o filósofo e
professor da Unicamp Roberto Romano lembrou que fake news, ou notícia
falsa, não é nenhuma novidade. “As mentiras são tão antigas como a fala
humana”, disse no início da palestra.
O filósofo fez uma incursão
histórica sobre mentira, ética, sinceridade, má fé individual e
coletiva, citando grandes pensadores como Jean Paul Sartre, Rousseau,
Aristóteles, Platão, entre outros. “Eu diria que 90% desses debates que
fazemos sobre fake news e pós-verdade se enraízam nesse ponto essencial
da má fé”. O fenômeno que se fala hoje sobre a pós-verdade não parece
ser sobre as mentiras, que não são novidades, mas a velocidade de
multiplicação que a internet e as redes sociais amplificaram, afirmou o
professor.
Romano falou ainda sobre as mentiras ditas ao povo a
partir do Estado e a partir de si mesmo, e encerrou a palestra dizendo
que, se não encararmos a questão da má fé individual e coletiva, é
melhor nem tratarmos sobre a questão da pós-verdade e fake news.
Carlos Alberto Zanotti, professor da Pontifícia Universidade Católica
de Campinas (PUC-Campinas) falou da importância de se fazer um trabalho
ético e responsável no jornalismo, o qual afeta as decisões dos
cidadãos.
Falar mentiras na imprensa não é novidade, ressaltou
Zanotti. Mas o bom jornalismo pressupõe a devida apuração dos fatos.
Segundo ele, o termo pós-verdade é a hipótese de as pessoas crerem
naquilo que querem; talvez porque já se tenha perdido a fé na ciência. O
professor levanta outra questão da atualidade que é o monopólio mundial
dos distribuidores de informação. “O que está na primeira página dos
jornais na internet é definido por algoritmos e não pelos editores”,
alertou. Por isso, a única saída para combater essa ameaça é a sala de
aula, ou seja, a educação, declarou.
Controvérsia e credibilidade
Carlos
Orsi, jornalista, blogueiro e escritor, falou sobre “Fatos
Alternativos: um informe das trincheiras”. Depois de lembrar fatos de
pós-verdade e fake news na imprensa mundial, Orsi frisou alguns
preceitos básicos do jornalismo que estão sendo deixados de lado.
“Assumir a responsabilidade de contar a verdade, não necessariamente a
controvérsia. Abandonar o ponto de vista do lugar nenhum. Não achar que o
trabalho está pronto se existe controvérsia, pois, talvez a
controvérsia seja real, mas talvez não seja. Fazer um trabalho de
reportagem, isto é, checar os fatos”.
Para o jornalista, a
imprensa geral pode aprender muito com o jornalismo científico, como,
por exemplo, evitar confundir equilíbrio com objetividade, consultar os
especialistas e lembrar que a função do jornalista não é apenas levantar
a controvérsia, mas, contar a verdade. O Painel Credibilidade e fontes
confiáveis de informação científica contou com a participação do
professor Peter Schulz, secretário de comunicação da Unicamp, que
mostrou como a pós-verdade também pode ser identificada na ciência.
Ele
discutiu casos de artigos científicos publicados em revistas
reconhecidas que apresentam citações nas quais não se encontram dados
brutos. Argumentou também que as referências podem ser selecionadas ou
mesmo interpretadas incorretamente para confirmar a tese do autor. Ainda
assim, os cientistas que trabalham em universidades e instituições
públicas gozam de grande credibilidade na sociedade brasileira.
“O
profissional de imprensa que trabalha com divulgação científica está
trabalhando com fontes que são das mais confiáveis dentro da percepção
brasileira”, observou o editor do site Direto da Ciência, Maurício
Tuffani. Na opinião do jornalista, isso é um desafio ainda maior para os
repórteres abordarem posicionamentos contrários nas notícias. “Até que
ponto a comunidade científica está interessada em um jornalismo que a
coloque na parede?”, questionou.
Já para “colocar na parede” a
imprensa – ou, pelo menos, avaliar a qualidade do conteúdo que produz –
está em curso, no Brasil, o Projeto Credibilidade.
Liderado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e
pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), tem como um dos objetivos
criar uma espécie de etiqueta que apresente ao público como foi gerada
uma notícia. “Queremos desenvolver ferramentas e técnicas para que esse
jornalismo que tem compromisso, ainda que erre, com a apuração, com a
checagem, com o contexto, salte aos olhos com mais facilidade”, explicou
a presidente do Projor, Ângela Pimenta.
Parte integrante da
iniciativa americana The Trust Project, o programa brasileiro conta com
adesão de 14 organizações, entre jornais, agências, sites e revistas, de
alcance nacional ou regional, além da Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo. Na opinião de Ângela, “a internet é a
principal mudança no jornalismo desde a invenção da prensa”, e isso
impactou fortemente o modelo de financiamento da imprensa. “Trata-se,
agora, de tentar reconstruir algo que, assim como a família e a
democracia, é imperfeito, mas necessário para a vida democrática”,
avaliou.
Novas plataformas
No Painel
sobre as novas plataformas tecnológicas em divulgação científica e
jornalismo de dados, o jornalista Jorge Duarte da Secretaria de
Comunicação (Secom) da Embrapa em Brasília, DF, discorreu sobre a
“Divulgação da Ciência na Embrapa”, apresentando um panorama com as três
principais ações de divulgação científica utilizadas pela Empresa. Ele
mostrou a Revista XXI – Ciência para a vida, o programa de TV Conexão
Ciência e a Agência de Notícias Embrapa. Informou também que a partir de
abril de 2018 a Revista XXI será totalmente digital, em formato próprio
para leitura na internet.
O Conexão Ciência atualmente conta com
um banco de 200 entrevistas, não somente sobre o tema agropecuária, mas
também de outras áreas da ciência. Quanto à Agência Embrapa de
Notícias, o jornalista informou que atualmente são 4.583 assinantes do
boletim semanal. Conta com um banco de 450 matérias aprofundadas, com
uma média de 200 conteúdos mensais replicados ou geradores de pauta em
matérias publicadas na imprensa. Finalizando, ele citou o Programa
Embrapa & Escola, como uma experiência de divulgação científica que
estimula crianças e adolescentes a verem a ciência como um benefício à
sociedade.
O jornalista e editor do Estadão Dados, Daniel
Bramatti, falou sobre o jornalismo de dados, que é um conjunto de
técnicas para coletar, limpar e organizar, hierarquizar, interpretar,
apresentar e visualizar dados. “É a aplicação do método científico ao
jornalismo”, simplifica ele. A ferramenta tem sido bastante usada para
acompanhar como os eleitores votam e também para análises de cobertura
vegetal, com gráficos e mapas.
Ele demonstrou alguns exemplos de
reportagens produzidas com estas ferramentas, como um mapa que mostra o
desmatamento dos biomas brasileiros e comprova que o País eliminou 38%
da vegetação nativa da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica ao longo
de sua história. Outro caso citado foi um mapa dos rios de São Paulo
que revela cursos d’água que estão sob ruas e avenidas. Outro exemplo é o
InfoAmazonia/Costing Nature relativo à cobertura vegetal da Amazônia e a expansão do agronegócio no bioma.
Raquel
Almeida, jornalista do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo
(Labjor/Unicamp) apresentou “Os desafios do jornalismo científico no
ambiente colonizado digital”. Ela fez um breve percurso do ambiental
digital global, com início da internet comercial em 1995 até a
utilização mobile (80% atualmente só nos EUA) em 2016. “Houve uma
explosão das fake news em 2016 com a explosão do uso de celulares e smartphones”, salientou.
A
jornalista se diz preocupada com qual informação sobre ciência o
usuário pode encontrar nas redes sociais, pois muito pouco do conteúdo é
crível e retrata as novas descobertas científicas. Raquel citou também
uma pesquisa realizada no Brasil em 2015 a respeito de onde o brasileiro
busca a informação sobre ciência, a qual mostrou que 42% das pessoas
buscam em sites institucionais. Por isso, é importante refletir sobre
quem são os atores que influenciam a divulgação científica na
atualidade, pondera.
- Especial - Série 4º Mídia e Pesquisa - Ética e Pós Verdade
- Especial - Série 4º Mídia e Pesquisa - Credibilidade e Fontes Confiáveis de Informação Científica
- Especial - Série 4º Mídia e Pesquisa - Novas Plataformas Tecnológicas
Eliana Lima (MTb 22.047/SP)
Embrapa Meio Ambiente
meio-ambiente.imprensa@embrapa.br
Telefone: (19) 3311-2748
Embrapa Meio Ambiente
meio-ambiente.imprensa@embrapa.br
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Vera Borges (MTb 72.462/SP)
Embrapa Produtos e Mercado
produtos-e-mercado.imprensa@embrapa.br
Telefone: (19) 3749-8888
Embrapa Produtos e Mercado
produtos-e-mercado.imprensa@embrapa.br
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Vivian Chies (MTb 42.643/SP)
Embrapa Monitoramento por Satélite
monitoramento-por-satelite.imprensa@embrapa.br
Telefone: (19) 3211-6214
Embrapa Monitoramento por Satélite
monitoramento-por-satelite.imprensa@embrapa.br
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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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- Destaques unidade: Manchete Destaque Publicos: Pesquisador Temas: Comunicação Unidades: Embrapa Informática Agropecuária Embrapa Meio Ambiente Embrapa Monitoramento por Satélite Embrapa Produtos e Mercado
- Data de publicação
- 24/11/17
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