Roberto Romano
Thursday, October 09, 2003
Unser Zeitalter ist das eigentliche Zeitalter der Kritik, der sich alles unterwerfen muß. Religion, durch ihre Heiligkeit, und Gesetzgebung durch ihre Majestät, wollen sich gemeiniglich derselben entziehen. Aber alsdann erregen sie gerechten Verdacht wider sich und können auf unverstellte Achtung nicht Anspruch machen, die die Vernunft nur demjenigen bewilligt, was ihre freie und öffentliche Prüfung hat aushalten können.
(Kant) Palavras sagradas, sobretudo em tempos de Termidor!
Site de rádio, ONU em português.
Entrevista com Roberto Romano feita em 21 de julho de 2003.
Pergunta (jornalista João Lins de Albuquerque) : O senhor acaba de participar da 55a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Como avalia a importância desse Encontro realizado no Recife?
Este Encontro é de uma importância fundamental porque é a primeira vez que temos um evento deste tipo num governo de esquerda —progressista— e com propostas bastante polêmicas para a sociedade civil e para a vida científica. No caso, evidentemente as propostas do governo, sendo polêmicas, encontraram criticas de parte da comunidade científica e aplausos, de outra parte. No campo da C/T, tivemos debates muito intensos que estão, inclusive, modificando a posição do governo, como no fundos setoriais.
Pergunta: o senhor tem afirmado que há um desestímulo programado para afastar do país professores universitários e até mesmo cientistas respeitados. Quão grave é esta situação?
É grave, inclusive levando-se em conta o seguinte: a Unicamp, universidade onde trabalho, é uma pequena universidade mas com bastante relevância, situada no sul do país. Ela está ameaçada de perder algo em torno de 20% de seus quadros com a possibilidade da reforma previdenciária que está vindo.
Pergunta: a fuga de cérebros, professor, o chamado “brain drain” é um tema que vem preocupando a própria Organização das Nações Unidas, a ONU, como vê o peso da ONU neste âmbito, que inclusive lançou os objetivos do Milênio para proteção e promoção das ciências nos países em desenvolvimento?
Acho uma tarefa digna dos maiores elogios e preocupações, por parte das autoridades acadêmicas, inclusive as brasileiras. Acho, inclusive, que não estamos levando em conta este fenômeno mundial. Sabemos os dados que existem na Rússia, no Mexico, na America do Sul inteira, e na África, onde o problema é mais doloroso, pois aquele continente está numa situação complicadíssima em termos antropológicos e está perdendo cérebros. Também na Asia, etc. Então, do ponto de vista internacional, é hora de se pensar efetivamente no aprofundamento dos saberes regionais e depois na circulação das idéias. Penso que está havendo uma circulação de indivíduos e grupos e pouca circulação dos saberes. A ONU tem um papel fundamental nesta linha.
Pergunta:
Investimentos estratégicos em C/T constitui também matério de importância fundamental para a defesa nacional?
É o primeiro item em termos de importância. Após a Segunda Guerra Mundial, vivemos com o medo de exercer políticas agressivas, sobretudo de potências médias e de pequenos países. Esquecemos que é preciso uma política não agressiva, mas de defesa nacional. Este é o ponto. Se não tivermos conhecimentos científicos e tecnológicos que nos dêm condições de defesa do nosso território, das nossas culturas, teremos uma adesão forçada a potências mundiais. Como aconteceu, infelizmente, neste último evento da invasão do Iraque pelas duas potências aliadas.
Pergunta: de acordo com dados da própria ONU, o Brasil investe ainda muito pouco em C/T. Estes investimentos tímidos precisarão aumentar no futuro?
Sim. E este foi um dos pontos mais graves do novo governo quando prometeu, de maneira um pouco irrealista, que até o final do governo Lula 2% do PIB serão aplicados em C/T. Sabemos que este é um dado dificílimo de ser conseguido, mormente se for levada a política macro-econômica que o governo também assumiu. Com a taxa de juros das mais elevadas talvez do planêta, não é possível atividade industrial. Se esta última não existe, a participação dos industriais —que já não era muito elevada ao longo dos anos— tende a diminuir. Portanto, é fundamental que haja modificação da política macro-econômica, com uma política de desenvolvimento industrial e aí, efetivamente, teremos condição de aumentar a taxa de participação de C/T no PIB.
Pergunta: um outro problema grave que o senhor tem denunciado é a falta de recursos nas universidades. Trata-se de um problema realmente grave?
É gravíssimo. Temos falta de recursos, problemas de gerenciamento, problemas de destinação das universidades, etc. um complexo extremamente grande, sobretudo se pensarmos que as universidades federais brasileiras estão espalhadas num território imenso, com pouquíssima possibilidade de conexão imediata. Muitas vezes notamos campi localizados em regiões que não atendem os desideratos de quem instaurou aquela instituição. Por outro lado, notamos instituições que trabalham em assuntos que interessam a outras regiões e não tem com elas conexão. Temos uma situação grave de desconexão, de falta de recursos, e também, paradoxalmente, de esbanjamento de recursos.
Pergunta: em resumo, o Brasil necessitaria inaugurar novas políticas nestas áreas?
Exatamente. Políticas realistas, sérias, consequentes, sobretudo políticas que levem em conta a diversidade das regiões. Somos uma Federação muito centralizada. Isto vem desde o Império e vigora durante toda a República. Enquanto não houver, do ponto de vista científico e tecnológico, e do ensino, uma descentralização das decisões, maior autonomia para as regiões, teremos este tipo de emperramento que muitas vezes tem origem burocrática e na super-concentração de poderes.
Pergunta: o senhor defende a tese mínima de soberania e defesa. Como explica isto?
Mínima, no sentido da defesa e não do ataque. O Brasil, é bom lembrar, no século 19, foi um país agressivo. Ele guerreou contra a Argentina, contra o Paraguai.Praticamente metade da população paraguaia foi dizimada na Guerra do Paraguai. O Brasil tem uma herança guerreira muito forte. Com isto, nos voltamos no século 20 à política interna. Mas é preciso que tenhamos condições de perceber que riquezas enormes existentes no país podem ser simplesmente saqueadas de um momento para outro.
Pergunta: como o senhor mesmo avalia o interesse pelo estudo da ética e da filosofia política pelos brasileiros?
Há um interesse muito grande, sobretudo devido aos problemas de ordem social. Temos problemas éticos gravíssimos: a violência urbana, violência rural, falta de educação da classe média para a vida coletiva. A própria ONU tem divulgado pesquisas sobre o trânsito brasileiro, mostrando que é um dos trânsitos mais violentos do planêta, temos enfim problemas graves do ponto de vista ético e isto se reflete na vida política, com a falta de respeito ao coletivo. Isto preocupa muito, porque efetivamente pesquisas sobre confiança no regime democrático. No Brasil, existem 37% de desconfiados no regime democrático, o que é muito grave, sobretudo para um país que atravessou, no século 20, quase 50 anos de ditadura.
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