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Flores
Flores
sábado, 2 de setembro de 2017
Jornal da Unicamp. A matemática a serviço da saúde.
Dissertação
de mestrado desenvolvida por Cristina Sacilotto junto ao Departamento
de Matemática Aplicada, do Instituto de Matemática, Estatística e
Computação Científica (Imecc) da Unicamp, orientada pelo professor
Laércio Luis Vendite, apresenta a construção de dois modelos matemáticos
desenvolvidos para predizer os riscos de metástase e de morte em
pacientes portadores de câncer nos rins do subtipo mais comum,
denominado convencional, caracterizado por células claras. O carcinoma de células renais é uma doença
heterogênea com prognóstico amplamente variável e responsável por 2% das
neoplasias malignas. O diagnóstico mais preciso do risco de progressão
da doença e da mortalidade após o tratamento é essencial para orientação
de pacientes, tomada de decisões no tratamento e seleção de seguimentos
adequados. No Brasil, as neoplasias constituem a segunda causa de
morte, superada apenas pelas doenças do aparelho circulatório. Como a discussão e compreensão dos fatores que
determinam os prognósticos de tumores renais são fundamentais para o
estabelecimento de sua abordagem, a pesquisa analisa alguns deles e suas
importâncias na sobrevida dos pacientes. Hoje se utiliza, com
considerável valor prognóstico, o Sistema de Graduação de Fuhrman, que
classifica o padrão nuclear da neoplasia em quatro graus, determinados
em função da diferença entre o núcleo celular de uma célula cancerosa e
uma sadia. Os tumores de grau 1 são considerados com prognóstico
favorável, os de grau 4 com prognósticos sombrios e intermediários, os
de graus 2 e 3. Entretanto, na comunidade médica, existe um
questionamento em relação a essa classificação que se mostra
incompatível em relação a determinados casos reais, sugerindo que não
basta levar em consideração apenas o grau de comprometimento das células
para o diagnóstico. Disponível em: https://www.auanet.org/education/modules/pathology/kidneycarcinomas/fuhrman-grade.cfm
Figura
- Carcinoma renais de células claras. A: Tumor de grau nuclear 1 com
núcleos redondos ou uniformes; nucléolos não discerníveis ou ausentes.
B: Carcinoma de grau nuclear 2 com contornos nucleares ligeiramente
irregulares e nucléolos discretos. C: A neoplasia nuclear de grau 3
possui núcleos grandes e irregulares. D: Carcinoma nuclear de grau 4 com
núcleos bizarros e nucléolos grandes e proeminentesO
estudo, além de uma análise desse critério univariado, considera também
outros fatores, do que resulta uma análise multivariada, de forma que,
ao combiná-los com a classificação de Fuhrman, possam conduzir a
resultados mais precisos para o prognóstico da neoplasia, permitindo
verificar a relação entre o grau de Fuhrman e a sobrevida. Os avanços
nos diagnósticos e tratamentos e o impacto que podem gerar na sobrevida
dos pacientes são relevantes para a definição prognóstica em indivíduos
com a doença. A intenção da pesquisa é a de auxiliar o especialista na
tomada de decisões com relação ao estádio da neoplasia.
Modelo matemático Na verdade qualquer sistema de graduação aceito
hoje na prática patológica, como o de Fuhrman, apresenta certo grau de
subjetividade, pois as doenças geralmente são descritas em termos
linguísticos, que são vagos, difíceis de traduzir quantitativamente. Daí
a vantagem de um modelo matemático, como o que utiliza a Teoria dos
Conjuntos Fuzzy, utilizada em situações duvidosas e de incerteza. Essa
teoria associa a precisão da matemática e as impressões do mundo real,
de modo que os dados incertos e a opinião dos especialistas sejam
levados em conta e incorporados aos modelos matemáticos. A propósito, a pesquisadora afirma: “A
subjetividade das informações no estudo do câncer renal nos motivou a
utilizar a Teoria dos Conjuntos Fuzzy para tratar o problema. Diante das
incertezas das informações, cremos que o uso dessa teoria é apropriado.
Trata-se de uma linguagem do pensamento lógico, cada vez mais
necessária à área de saúde”. O
professor Laércio Luis Vendite, orientador da dissertação: “Nosso
trabalho formaliza e organiza essas evidências, facilitando um
diagnóstico preciso e, em consequência, um tratamento mais adequado”Com efeito, na literatura matemática encontram-se vários trabalhos que utilizam a teoria de conjuntos fuzzy
para analisar eventos biológicos, em particular neoplasias. Os modelos
matemáticos desenvolvidos têm contribuído amplamente para maior
compreensão das ocorrências médicas, seus diagnósticos, prognósticos e
para a eficiência dos tratamentos. O trabalho faz parte da linha de pesquisa do
professor Laércio que, há quase trinta anos, se dedica à biomatemática, e
teve como referências estudos sobre o câncer da próstata e da bexiga
também orientados por ele. Seu foco foi a construção de dois modelos
matemáticos fuzzy para predizer os riscos de metástase e morte
para indivíduos com tumores renais e analisar a relação entre a
graduação de Fuhrman e o prognóstico de pacientes com essa neoplasia. O modelo fuzzy utilizado para prever o
risco de metástese combina os dados do tumor do paciente - grau de
Fuhrman, presença de necrose, tamanho do tumor e estadiamento, ou seja, o
estado clínico do paciente, que depende das ponderações passadas por
clínicos. Já o modelo utilizado para a previsão de morte utiliza os
mesmos dados do primeiro modelo trocando apenas o fator tamanho do tumor
pela presença de metástase. Os dois modelos valem-se de um conjunto de
regras, de natureza linguística, elaboradas a partir da ajuda de
especialistas, de pesquisas em literatura da área e em dados
estatísticos de pacientes do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A
análise estatística desses dados permitiu identificar as variáveis mais
determinantes a serem consideradas, como a presença de necrose e
estadiamento, contribuindo para o ajuste dos pesos das regras
estabelecidas para cada modelo. “Criamos regras com as informações dos
especialistas com os pesos atribuídos e suporte da análise estatística”,
esclarece o docente. Cristina
Sacilotto, autora da pesquisa: “A subjetividade das informações no
estudo do câncer renal nos motivou a utilizar a Teoria dos Conjuntos
Fuzzy para tratar o problema”Por
fim, foram realizadas simulações com os dados colhidos dos pacientes do
HC para verificar a compatibilidade do modelo com a realidade. De
acordo com a pesquisadora, os resultados podem ser considerados
satisfatórios e compatíveis com o observado nos pacientes reais. Os pesquisadores consideraram de fundamental
importância no desenvolvido do trabalho as colaborações dos urologistas
Ubirajara Ferreira e Wagner Eduardo Matheus; dos patologistas Athanase
Billis e Larissa Eloy; e do médico residente Eduardo Azevedo, todos do
HC da Universidade.
Ponderações Os modelos foram testados em situações concretas de
pacientes brasileiros, com histórico conhecido. Devidamente
operacionalizados eles fornecem ao médico informações em termos de
possibilidade e não probabilidade, não exigindo portanto um grande banco
de dados para indicar as chances do tumor desenvolver metástase e de
sobrevida do indivíduo. O modelo fornece ao clínico o melhor diagnóstico
possível em dado momento. Laercio explica: “Hoje o médico faz o
diagnóstico baseado nas evidências médicas e em suas experiências. Nosso
trabalho formaliza e organiza essas evidências, facilitando um
diagnóstico preciso e, em consequência, um tratamento mais adequado.
Como o modelo é construído com base nas informações de especialistas,
incorpora as experiências médicas e o software construído com base nele
fornece respostas segundo os conceitos clínicos”. Para a pesquisadora o modelo proposto permite um
diagnóstico mais preciso em relação à evolução do tumor. Mas como as
conclusões decorrem da utilização do banco de dados do HC da Unicamp,
ela faz um alerta: “Como simulações atêm-se a um universo restrito, há
necessidade de novos experimentos para que os resultados sejam
confirmados e sedimentados”. O professor Laércio conclui: “É importante que este
tratamento matemático seja debatido pela comunidade médica, pois nosso
procedimento não encontra paralelo em outras pesquisas de repercussão
internacional. Comprovamos, através de um modelo matemático, que existem
indícios muito fortes de que a classificação de Fuhrman tem alcance
limitado
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